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A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Para produtores, irrigação deve entrar mais nas discussões do setor

Área atual irrigada é pequena, e legislação desfavorável inibe ainda mais os investimentos

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A agricultura quer discutir mais o tema da irrigação. É preciso trazer à tona o assunto como opção para aumento de produção, agregação de valor e redução dos riscos climáticos.

A avaliação é de Nelson Ananias Filho, coordenador de Sustentabilidade da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Essas discussões devem ocorrer dentro da legislação e das normas para que haja uma exploração segura do uso da água.

Lineu Rodrigues, pesquisador da Embrapa, diz que é preciso colocar a agricultura irrigada no centro das discussões, levando-se em consideração políticas alimentar e energética.

Há uma complexidade no tema e, às vezes, as questões políticas fogem do alcance científico. Os benefícios da adoção desse sistema, que ainda é pequeno no Brasil, no entanto, é grande, segundo ele.

Entre eles, está o da produtividade. Dependendo da cultura, a irrigação eleva de três a seis vezes o potencial produtivo das lavouras. A irrigação dá uma estabilidade ao setor, reduzindo a variabilidade anual da produção, uma vez que reduz o impacto do clima e das mudanças climáticas.

O pesquisador destaca, ainda, que a irrigação viabiliza a produção de várias culturas, como a de hortaliças, e durante o ano todo, além de dar melhor qualidade final ao produto.

A irrigação tem também um efeito ambiental. Reduz a necessidade de abertura de novas áreas e aumenta o sequestro de carbono, afirma.

Do lado social e econômico, o pesquisador destaca a geração de dois a seis empregos por hectare na cadeia, além de propiciar R$ 55 bilhões por ano, como ocorreu em 2019.

O Brasil irriga apenas 8,2 milhões de hectares, e um dos gargalos para isso é o emaranhado da legislação. O projeto de um produtor leva de dois a cinco anos para ser liberado, o que desincentiva os investimentos.

Foram os problemas enfrentados por Sérgio Pitt, tradicional produtor do oeste da Bahia que utiliza a irrigação. As liberações de outorgas não evoluíram com eficiência, e são processos sobre processos, atrasando a programação dos produtores, afirma ele.

Além disso, a energia elétrica, outro grande gargalo do setor, nem sempre mantém consistência e qualidade. São concessões antigas, promovidas pelos estados, e que não contemplam cláusulas específicas para os produtores.

Mas a irrigação tem o seu lado bom, segundo Pitt. Apesar dos investimentos médios de aproximadamente R$ 20 mil por hectare, o produtor consegue planejar suas lavouras, antecipando ou postergando o plantio, conforme for mais conveniente.

Com isso, ele consegue produtividade mais elevada e aproveitamento melhor das máquinas e da mão de obra.

Tem a possibilidade, ainda, de colocar o seu produto no mercado em momento diferente do dos demais produtores, obtendo preços mais rentáveis.

Pitt afirma que já há uma evolução no manejo das áreas irrigadas. O produtor adquiriu novas técnicas, calibra melhor a utilização da água e planeja de forma mais adequada as culturas.

Quanto aos investimentos, ele diz que são pesados no início, mas que, depois de três a cinco anos, são recuperados.

Para Mariane Crespolini, diretora de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, a irrigação é fundamental para a sustentabilidade. Garante uma segurança alimentar e auxilia no desafio da mudança climática.

A agricultura é o setor mais vulnerável às mudanças climáticas, e a irrigação é estratégica para o enfrentamento desse desafio, acrescenta ela.

Durval Dourado Neto, professor da Esalq, afirmou recentemente à coluna que o país tem potencial para irrigar 53,4 milhões de hectares. Desta área, 15,5 milhões têm uma alta aptidão. Ou seja, solo, possibilidade de água, mão de obra especializada, infraestrutura, energia, armazenagem e conectividade são bastante favoráveis à adoção da irrigação nessas áreas.

Em um seminário realizado nesta terça-feira (15), o setor determinou 15 de junho como o dia da agricultura irrigada. Um dos motivos da escolha foi por essa data estar próxima da do dia do meio ambiente, afirma o pesquisador da Embrapa.

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