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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

Sob pressão, PT resiste, e PSDB colapsa

Investimento sustentado em organização partidária é diferença crucial entre os dois partidos

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Luís Locatelli

É cientista político, pesquisador do Cepesp FGV e doutor em administração pública e governo pela FGV

Quais fatores explicam que, diante de crises profundas, alguns partidos políticos sobrevivam, enquanto outros colapsam ou se tornam irrelevantes?

Assim como uma economia de mercado precisa de um sistema bancário sólido, o regime democrático depende de partidos políticos bem estruturados, capazes de articular a relação entre eleitores, representantes eleitos e a formação de governos.

No Brasil, o PT e o PSDB lideraram o sistema partidário por mais de duas décadas, um período áureo de estabilidade democrática, durante o qual implementaram políticas públicas transformadoras, como o Plano Real e o Bolsa Família.

Com cartaz do PSDB ao fundo, militante agita bandeira do PT em SP, em 2010; siglas lideraram sistema partidário por duas décadas - Folhapress

As crises recentes enfrentadas pelo PT e pelo PSDB estão intrinsecamente ligadas às instabilidades presentes no sistema democrático e à ascensão da extrema direita. Observa-se, no entanto, um contraste relevante na capacidade de resposta de ambos. Enquanto o PT conseguiu manter sua hegemonia na esquerda, mesmo durante as difíceis eleições de 2016 e 2018, culminando na reconquista da Presidência em 2022, o PSDB enfrenta um rápido declínio, confrontando a possibilidade de fusão com outras siglas.

Pesquisas recentes indicam que a sobrevivência dos partidos em crises severas depende de seus recursos organizacionais, particularmente nas esferas estadual e municipal. Quando essas crises surgem e levam à perda de recursos tradicionais no nível federal —como financiamento, cargos de livre nomeação e candidatos de destaque nacional—, os partidos recorrem às suas organizações locais para garantir a sobrevivência. Formadas por militantes, sedes municipais ativas e líderes locais (como prefeitos e vereadores), essas estruturas asseguram a competitividade dos partidos no âmbito local, mesmo diante das dificuldades no cenário nacional.

A capacidade dos partidos de lançar candidatos às prefeituras é um indicador relevante para avaliar a robustez de suas bases eleitorais locais.

Como mostra o gráfico, tanto o PT quanto o PSDB enfrentaram declínios acentuados na percentagem de municípios com candidatos a prefeito, refletindo os seus períodos de crise.

No caso do PT, as tensões começaram com as manifestações em junho de 2013 e foram intensificadas pelo impeachment em 2016 e pela prisão de Lula em 2018. Já o PSDB viu sua crise se agravar mais tarde, especialmente após as denúncias da Lava Jato envolvendo Aécio Neves em 2017 e a tentativa de João Doria de controlar o partido, o que aprofundou os rachas internos.

Não obstante, o PT conseguiu reverter essa tendência negativa, fortalecendo sua organização local e aumentando o percentual de candidaturas de 17% dos municípios em 2016 para 22% em 2020, mesmo com restrições de recursos e atuando como oposição no âmbito federal. Em contraste, após se beneficiar do antipetismo em 2016, o PSDB não conseguiu manter suas bases locais e disputará as próximas eleições em apenas 12%, sendo, em 2020, 22% (TSE e CepespData/FGV).

Embora compartilhem semelhanças, como a eleição de presidentes da República e a implementação de políticas públicas importantes, o PT e o PSDB diferem em um aspecto crucial: o investimento sustentado em organização partidária. Tal diferença foi essencial para a capacidade do PT de superar crises e manter seu protagonismo, enquanto o PSDB, mais dependente da sorte da cúpula partidária, enfrenta um declínio persistente.

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