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Mulher diz ter sofrido ameaça após ver abuso sexual de médium João de Deus

Americana Amy Biank frequentou casa que recebe fiéis durante 6 anos; ele é acusado por 13 mulheres

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São Paulo

A guia turística americana Amy Biank afirma ter presenciado uma tentativa de estupro pelo médium João de Deus, que é acusado de agressão sexual por pelo menos 13 mulheres

O caso foi revelado neste sábado (8) pelo jornal O Globo e pelo programa Conversa com Bial, da TV Globo.

Amy frequentou a Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás, comandada por João de Deus, entre 2002 e 2008. Ela vive em Illinois, nos Estados Unidos, e costuma levar pessoas para fazer turismo esotérico. As visitas ao local duravam cerca de duas semanas, segundo Amy.

Amy Biank conta que tentou denunciar abusos do médium João de Deu, mas foi ameaçada - Reprodução/TV Globo

Ela conta que em uma das visitas presenciou uma agressão sexual de João de Deus. “É um lugar que nunca foi sagrado e nunca foi de Deus”, diz. “Uma garota que estava comigo estava muito doente. Eu a deixei entrar [no escritório de João]. Quando ela gritou, eu entrei perguntando o que estava acontecendo. Eu o vi com o pênis para fora, com uma toalha sobre o ombro”, diz Amy.

“Ele mandou eu me sentar e fechar meus olhos. É engraçado, porque eu fiz. Você se torna um pouco parte de um culto”, diz. “Mas, porque eu estava lá, ele virou e falou que ela tinha passado no teste, que ela era uma pessoa boa.”

Após o ocorrido, João de Deus teria ido até a pousada onde Amy estava. “Ele olhou para mim e disse: ‘eu sou só um homem. No Brasil, o que acontece entre quatro paredes não é da conta de ninguém’”, afirma a americana.

Amy diz que estava andando pela cidade quando uma das pessoas que dirigia a Casa de Dom Inácio a ameaçou. “Ele falou que eu deveria ir embora imediatamente, que pessoas como eu constantemente desapareciam no Brasil. E que era perigoso eu ficar ali.”

A guia turística começou, então, a conversar com algumas das pessoas que trabalhavam na casa, incentivando que nenhuma mulher ficasse sozinha com o médium. 

Em uma dessas conversas, ela diz que uma mulher que trabalhava no local teria começado a chorar. “Ela disse que uma menina pequena, cinco, seis ou sete, saiu da sala [de João] e ele pediu para limpar a boca da criança porque tinha ectoplasma. E para dar a ela uma refeição especial.”

Não era incomum, ela diz, levarem crianças e ficarem esperando do lado de fora do escritório de João. 

“Eu vi uma vez uma garota muito bonita, talvez com 8, 9 anos, incrivelmente bonita. Um dos trabalhadores da Casa foi até a mãe da garota (a criança estava brincando, se divertindo), e disse: ‘Não deixe ela ficar sozinha com o João’. Eu fiquei me perguntando o que estava acontecendo.”

Amy alertou em 2008 em um blog sobre o comportamento de João de Deus. Em seu comentário, ela diz: “João tem uma grande energia sexual? Sim. Ele tirou vantagem de sua posição de curandeiro para seduzir mulheres e meninas para que permitam que ele tome liberdades sexuais? Sim”.

Internacionalmente conhecido, João de Deus já recebeu, em Abadiânia, pessoas como a apresentadora americana de TV Oprah Winfrey, o ex-jogador Ronaldo Nazário e a artista plástica Marina Abramovic. O presidente Michel Temer (MDB) recebeu um passe do médium na véspera da delação de Joesley Batista. E o ministro do STF Luís Roberto Barroso, também já se disse admirador de João de Deus. 

O programa Conversa com Bial e o jornal carioca O Globo entrevistaram, ao todo, 13 mulheres que afirmam ter sido abusadas pelo médium.

Camila Appel —redatora do programa da TV Globo e autora do blog Morte sem Tabu, na Folha—, e Pedro Bial entrevistaram dez mulheres, mas foram mostrados somente quatro depoimentos. Amy esteve presente e contou sobre o seu caso. O Globo ouviu três outras pessoas.

Os depoimentos a Bial são de três brasileiras que pediram para não serem identificadas e da coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous, a única que aceitou mostrar o rosto.

Zahira contou que conheceu a casa em Abadiânia em 2014, quando buscava a cura para o trauma de ter sofrido abusos sexuais no passado. 

Na segunda visita à casa, foi informada que teria uma consulta particular com o médium. Nervosa e chorando, a coreógrafa contou que ficou sozinha com João de Deus e que ele perguntou porque ela estava ali. Em seguida, cheirou Zahira e pediu para que ela ficasse de costas, conduzindo-a para um banheiro.

O médium teria colocado as mãos dela no pênis dele e fez com que elas se movimentassem. Após o abuso, abriu um armário com pedras preciosas e pediu para ela escolher uma. Em seguida, foi levada novamente ao banheiro e João de Deus teria a penetrado.

Consultas individuais perpassam as histórias contadas. Outro ponto comum era o oferecimento de presentes —cristais— após os supostos abusos.

A Folha tentou contato por telefone, Whatsapp e email com a assessoria de João de Deus durante todo o sábado, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição. 

Em nota enviada ao Conversa com Bial, a assessoria de imprensa do médium afirmou: “Há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais. Apesar de não ter sido informado dos detalhes da reportagem, ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos”.

Ao O Globo, a assessoria disse que as acusações são “falsas e fantasiosas” e questiona por que as vítimas não procuraram as autoridades. Ainda diz que a situação é “lamentável, uma vez que o médium é uma pessoa de índole ilibada”.

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