Mortes: Trabalhou na construção de Brasília e foi poeta cordelista
Fundou uma federação que reunia repentistas e reivindicou que fosse construída a Casa do Cantador
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Gonçalo Gonçalves Bezerra migrou do Ceará para trabalhar na construção de Brasília. Poeta Gongon para alguns; Gonçalo para outros; Gonça para a mulher, o líder comunitário tem uma história que se confunde com a de Ceilândia—cidade-satélite do Distrito Federal.
Morador de uma das favelas no entorno da capital, sem água, luz ou transporte, reivindicava do governo melhores condições.
Em 1971, sua família foi uma das mais de 14 mil a serem removidas para onde hoje é Ceilândia —a 20 quilômetros de onde viviam.
Apenas com ensino primário, passou de servente de pedreiro a fotógrafo do Palácio do Buriti e, mais tarde, poeta de cordel. “Quando ele botava na cabeça um objetivo, ia até o fim”, conta a filha Rosiane.
Aprendeu a literatura de cordel com um amigo em 1977. Em menos de dez anos, fundou uma federação que reunia repentistas de todo país e reivindicou que fosse construída, em Ceilândia, a Casa do Cantador.
Projeto de Oscar Niemeyer, a obra foi inaugurada com a presença do então presidente da República, José Sarney.
“Ele ia na Câmara, no Senado, redigia uma carta, levava no gabinete, passava por um, por outro, até chegar ao presidente”, relembra a filha mais velha, Rozalva.
Nascido no Dia da Independência, fazia questão de ir ao desfile do Sete de Setembro no Plano Piloto. “A gente sempre comemorava o aniversário dele com um bolo com a bandeira do Brasil”, conta Rosiane.
Casado há 56 anos com Raimunda e evangélico fervoroso, ia duas vezes por semana à igreja, onde tinha assento na primeira fila.
Morreu em 19 de abril, aos 79 anos. Deixa a mulher, um filho, três filhas e 12 netos.
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