Siga a folha

Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

'Continuaram batendo mesmo depois da morte', diz tio de Moïse

Família diz que o corpo do jovem congolês foi deixado na praia com as mãos amarradas

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Rio de Janeiro

Uma pessoa doce, inteligente e que respeitava a todos. Assim Mamanu Idumba Edou, 49, descreve o sobrinho Moïse Mugenyi Kabagambe, encontrado sem vida na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, na segunda-feira passada (24).

Família e amigos denunciam que o jovem congolês foi espancado até a morte por cinco homens depois de cobrar salários atrasados. Segundo os relatos, o valor era referente a três dias de trabalho.

À Folha, Edou diz que, quando Mugenyi foi cobrar o valor, o gerente do estabelecimento pegou um pedaço de madeira para atacá-lo. "Ele chamou mais quatro pessoas que pularam em cima do Moïse, pegou ele pelas costas, sufocou e pegou um pedaço de pau. Começaram então a bater na cabeça dele", diz Edou, relatando as cenas que a família viu em imagens das câmeras de segurança do local.

O jovem congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, 24, foi espancado até a morte na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio - Facebook/Reprodução

"Mesmo depois de morto, os caras continuaram batendo nele. Largaram o corpo perto do quiosque mesmo, amarraram as mãos dele, colocaram elas para trás. Moïse morreu, mas continuaram torturando ele."

Segundo Edou, os agressores ameaçaram um colega de Moïse que estava no local, dizendo que ele morreria caso falasse alguma coisa. Depois de fugir, o homem chegou em casa e avisou que Moïse estava morto na praia. "Nós estamos apavorados com o que aconteceu. É muito triste. É muita covardia. A gente sabe que não terá o Moïse de volta, mas a gente quer justiça. "

A Polícia Civil afirma que analisou câmeras de segurança para apurar o crime e identificar os responsáveis. Segundo a corporação, ao menos oito pessoas já foram ouvidas na investigação. O gerente do quiosque onde Moïse trabalhava deve ser ouvido ainda nesta terça-feira (1º). ​

Parentes e amigos fizeram protesto no último sábado (29) pedindo Justiça para Moïse Mugenyi Kabagambe, morto no dia 24 - Reprodução

O tio do jovem diz que Moïse chegou ao Brasil com 11 anos na condição de refugiado político e que, atualmente, morava em Madureira, na zona norte do Rio. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, de 2011 a 2020, 53.835 pessoas foram reconhecidas como refugiadas no Brasil, das quais 1.050 delas eram congolesas, ou seja, 2% do total.

São pessoas que buscaram abrigo no país fugindo de conflitos armados no Congo e de violações dos direitos humanos. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), entre 2017 e 2019, esses conflitos obrigaram cerca de 5 milhões de congoleses a saírem de suas casas.

A comunidade congolesa no Brasil divulgou uma carta de repúdio contra a morte de Moïse. "Esse ato brutal não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra os estrangeiros", diz a nota de repúdio, lembrando que o Brasil é signatário de convenções que garantem a proteção dos direitos humanos.

Posts nas redes sociais pedem justiça para Moïse - @Mariado72690840 no Twitter

"Por isso exigimos a justiça para Moïse e que os autores do crime junto ao dono do estabelecimento respondam pelo crime! Combater com firmeza e vencer o racismo, a xenofobia, é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática", afirma o comunicado. ​

Nas redes sociais, a morte do jovem gerou repercussão. Com a hashtag #JusticaPorMoïse, que esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter, perfis de usuários e de organizações sociais demonstraram revolta e cobraram punições à tragédia, que tem sido considerada mais uma demonstração do racismo e da xenofobia presentes no Brasil.

A Anistia Internacional afirma que o sonho de Moïse e de sua família de viver uma vida digna no Brasil foi "covardemente interrompido" e que "seu assassinato não pode ficar impune!".

Já a ex-deputada Manuela d'Ávila (PCdoB) escreveu que o racismo está destruindo vidas no Brasil. "Absurdo, revoltante e inaceitável o caso do imigrante congolês Moïse, que estava apenas cobrando o pagamento de seu salário num quiosque na Barra da Tijuca e foi assassinado a pauladas. O racismo segue destruindo vidas em nosso país! Queremos justiça!"

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas