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Descrição de chapéu Obituário Margarida Maria Silveira Barreto (1944 - 2022)

Mortes: Médica baiana, foi grande nome da pesquisa sobre assédio moral

Margarida Barreto teve infância pobre e atuou no Partido Comunista Brasileiro

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São Paulo

Em seus 50 anos de medicina, Margarida Barreto trouxe ao mundo incontáveis crianças. Ela ficou conhecida, porém, pelo trabalho pioneiro sobre assédio moral, o que a tornou um dos grandes nomes brasileiros na área.

Da infância pobre em Salvador, contava como a mãe a acudiu com folhas de bananeira quando derramou em si uma panela de óleo que estava no fogão.

A mãe, inclusive, sempre foi um exemplo de honestidade e solidariedade para a filha. "Uma vez ela achou uma boneca no lixo, ficou muito feliz e levou para casa. ‘Vá e devolva. Está no lixo, é do lixo. Aprenda a não pegar nada de ninguém’", conta a sobrinha Danyella Barreto.

Margarida Maria Silveira Barreto (1944-2022) - Arquivo pessoal

Sem energia em casa, aproveitava a luz do poste para estudar. A persistência rendeu frutos e ela passou em medicina. Os colegas diziam que a aluna bolsista usava apenas dois vestidos –o que era verdade.

No início da graduação, se alimentava com o que uma freira lhe dava e com doses de glicose que sobravam dos pacientes. Foi nesse período que uma cirurgiã experiente passou a orientá-la ao ver sua destreza com as mãos. A sua aptidão fez com que a médica contatasse uma colega, com quem tinha rixa, para também ensiná-la.

Margarida conheceu o marxismo na faculdade e entrou para o Partido Comunista Brasileiro. Engajada politicamente, trabalhou seis meses em uma aldeia indígena. Tempos depois, ficou um ano na União Soviética e atuou como médica, por quatro anos, na guerra civil de Angola.

Nos anos 1970, fez residência em obstetrícia e ginecologia em São Paulo e, no trabalho, dizia sofrer preconceito por ser nordestina e pobre.

"Todo fim de semana ia para as comunidades para atendimentos e atividades do partido", afirma a sobrinha.

Após a morte trágica da filha adolescente, em 1991, a baiana mudou seu enfoque e passou a se dedicar à medicina do trabalho. Cursou também mestrado e doutorado em psicologia social e se especializou em assédio moral.

No sindicato dos químicos de São Paulo, onde atuou por anos, ouviu centenas de relatos sobre assédio. A partir das conversas, escreveu dois livros e criou núcleos de estudo em várias cidades e países.

"O Brasil acabou tendo uma importância em toda a América Latina e o reconhecimento no exterior graças à Margarida", afirma o amigo Roberto Heloani. A pesquisadora foi convidada a fundar ouvidorias em estatais e também travou inúmeras conversas com legisladores para mudar a visão judicial sobre o assédio moral.

A médica estava se tratando de um câncer no estômago desde abril de 2021 e, após uma metástase, morreu no último dia 3, aos 77 anos. Deixa familiares, amigos e incontáveis pacientes que se lembrarão de suas consultas que duravam horas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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