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Descrição de chapéu Obituário Liliane Isadora Porto Gaspar Moreira (1936 - 2022)

Mortes: Psicanalista, sempre batalhou para ser uma mulher livre

Apaixonada pela profissão, Liliane Isadora Porto Gaspar Moreira atendeu pacientes até os 85 anos

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Rio de Janeiro

Liliane Isadora Porto Gaspar Moreira telefonava para seus filhos e netos todos os dias. Da sua casa, na Ilha do Governador, no Rio, ela sabia tudo o que acontecia com cada membro da família. Adorava ouvir e, principalmente, contar histórias.

Filha de Nelson e Daura, ela cresceu ao lado de quatro irmãos e da irmã, Lourdinha. Desde pequena, foi criada para ser esposa de um "homem importante, com nome de rua". Aprendeu a pintar, bordar, tocar piano e falar inglês, francês e latim.

Mas nunca se conformou em seguir os padrões impostos às mulheres na época. Ficava revoltada quando a mãe dizia que ela, por ser menina, não podia correr e pular muro. Sem saber lidar com a filha, dona Daura a internou em um colégio de freiras.

Liliane Isadora Porto Gaspar Moreira (1936-2022) e o marido, Luís, com quem foi casada por 64 anos - Arquivo pessoal

Na juventude, Liliane namorou bastante. Até que, em uma festa, conheceu um rapaz gaúcho que cursava faculdade de medicina no Rio. No começo, a mãe desaprovou o pretendente "pé-rapado". Mas, logo, Luís foi aceito pelos sogros e o namoro, oficializado. Casaram-se em 1958, na Igreja da Candelária, em cerimônia realizada por dom Hélder Câmara (1909-1999).

Em seguida, ela iniciou uma graduação em história e geografia. Pouco tempo depois, teve que largar os estudos porque Luís, médico da Aeronáutica, foi transferido para Recife, onde viveram por dois anos.

Aos 32 anos, Liliane decidiu fazer psicologia. Então, o marido disse que, se ela entrasse na faculdade, pediria o desquite. Liliane respondeu: "Pode pedir. Você tem a sua medicina, e eu quero a minha profissão".

Ela penhorou suas joias para pagar o curso. Na época, já era mãe de duas meninas e engravidou do terceiro filho. Luís nunca pediu a separação.

A paixão pela área da saúde mental começou quando ela ainda era criança. Do muro de casa, Liliane espiava com carinho os pacientes de um hospital psiquiátrico, que falavam sozinhos pelos cantos.

Trabalhou como psicanalista até os 85 anos —durante a pandemia, atendeu pelo celular e recebeu alguns pacientes em casa, mesmo com a preocupação da família.

Morreu no último dia 21, em decorrência de uma infecção generalizada, aos 86 anos. Antes disso, já tinha tratado um câncer de intestino, operado em 2012.

Agora, sem a grande companheira, Luís diz que a vida ao lado dela foi muito linda.

Liliane também deixa dois irmãos, três filhos e quatro netos, que vão sentir uma saudade imensa das suas ligações.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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