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Lula precisará reerguer MEC e lidar com efeitos da pandemia na educação

Gestão terá de recompor orçamento da pasta, esvaziado sob Bolsonaro

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Brasília

Sob Jair Bolsonaro (PL), o setor da educação viveu momentos de inédita turbulência. O MEC (Ministério da Educação) esteve afundado em polêmicas ideológicas, disputas entre alas, falhas de gestão, ingerência política e até casos de corrupção que culminaram na prisão de um dos três aliados que comandaram a pasta.

Enquanto investia energia em projetos inócuos como educação domiciliar, o MEC sofreu acumuladas reduções de orçamento. Assim, o cenário, que inclui problemas que não nasceram neste governo, foi agravado com a pandemia de coronavírus. O Brasil foi um dos países com maior tempo de escolas fechadas.

Creche abandonada há vários anos, na região central da cidade de Flexeiras (AL), que recebeu verba para kits de robótica - Pedro Ladeira 5.abr.2022/Folhapress

A emergência para recuperar os prejuízos causados pela Covid e a retomada do papel de coordenador do MEC são alguns dos principais desafios do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito presidente neste domingo.

"A primeira coisa a ser feita é a gestão federal assumir o posto de coordenador nacional da política brasileira de educação. É necessário entender que ser MEC é ser coordenador, é o que a Constituição define", afirma a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV e colunista da Folha, Claudia Costin.

O MEC foi cobrado por secretários de Educação e especialistas pela ausência no apoio às redes durante o fechamento de escolas e também na reabertura —o orçamento para a educação básica na pandemia foi o menor em dez anos. O próprio diagnóstico dos impactos é impreciso.

A avaliação federal de 2021 expôs uma queda de aprendizado generalizada, do ensino fundamental ao médio. A situação é ainda mais grave no ciclo de alfabetização.

A falta de diálogo com as redes foi expressa, inclusive, com uma nova política nacional de alfabetização definida sem ouvir os municípios, que concentram as matrículas.

A próxima gestão federal terá a tarefa de retomar e fortalecer esse sistema de colaboração, abalado ainda mais com a implosão de critérios técnicos nas políticas de transferências de recursos.

A combinação de cortes orçamentários, desprezo a critérios técnicos, ingerência política, as chamadas emendas de relator no Orçamento e denúncias de corrupção resultou no desmonte de um dos principais mecanismos de planejamento educacional e de transferência, o chamado PAR (Plano de Ações Articuladas).

Trata-se de um sistema, criado em 2007 no governo Lula, em que as prefeituras cadastram suas demandas e o governo federal realiza repasses para infraestrutura escolar, de creches a ônibus escolares. Os valores desabaram na gestão atual.

Os gastos no PAR em 2021, de R$ 796 milhões, são os menores em uma década e equivalem a menos de um terço do investido anualmente, em média, de 2012 a 2018. Neste ano, o montante foi de R$ 260 milhões até 19 de outubro.

Assim como em outras ações da área, o governo abriu mão de critérios técnicos, transformando a pasta em uma espécie de balcão político: os maiores beneficiados passaram a ser prefeituras aliadas, não quem mais precisa.

Eram do PAR, por exemplo, os recursos negociados por pastores sem cargo em troca de barras de ouro, segundo denúncias. O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro deixou o cargo uma semana após a Folha revelar áudio em que ele dizia priorizar pedidos de um dos pastores sob orientação de Bolsonaro.

Também vieram do PAR os R$ 26 milhões transferidos para a compra de kits de robótica em cidades com deficiências de infraestrutura, mas com contratos com empresa de um aliado do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL).

Enquanto o governo liberava verba a aliados, travou o pagamento de R$ 434 milhões a prefeituras aptas a receber os recursos. O resultado foi um acumulado de obras paradas.

Os recursos são gerenciados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão do MEC entregue por Bolsonaro a indicados do centrão. Com o grupo, cidades mais ricas foram privilegiadas em detrimentos das mais vulneráveis, que deveriam ter prioridade.

O novo governo vai precisar requalificar os critérios de transferências, sobretudo dentro do PAR, e agir ainda neste ano para tentar reverter a tendência de cortes de recursos da educação prevista no Orçamento de 2023, em trâmite no Congresso.

No projeto, o governo reservou R$ 1 bilhão do MEC às emendas de relator. É o mesmo valor que foi retirado da rubrica relacionada à educação básica, na comparação com o projeto deste ano.

Há previsão de apenas R$ 5 milhões para construção de creches em 2023. Valor não é suficiente para bancar nem duas unidades.

Essa redução vem na esteira de fortes cortes desde 2019. O MEC terminou 2021 com R$ 101 milhões pagos para obras de creches em prefeituras, o que significa uma redução de 80% com relação a 2018.

Estima-se que o país precise matricular 2,2 milhões de crianças de até 3 anos para atender meta do Plano Nacional de Educação de ter, até 2024, metade das crianças dessa faixa etária em creches.

Caberá ainda à nova gestão renovar o Enem para adequa-lo à reforma do ensino médio. Há também a tarefa de implementar um novo modelo de avaliação da educação básica. O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), criado em 2007, estipulou metas só até 2021.

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