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desafios do novo mandato

Lula vai se deparar com tempos difíceis na agropecuária

Recordes de exportação e receita com proteínas são mais improváveis nesta nova fase

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São Paulo

A agropecuária, que viveu dias de glórias nesses últimos anos, vai entrar em uma nova fase, mas pior. E isso independe do novo presidente. Claro que o fato de ser Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o eleito, que tem praticamente todo o setor contra ele, fica ainda mais difícil.

Nos anos recentes, vários fatores aumentaram a demanda externa por alimentos, o que favoreceu o Brasil. No setor de pecuária, doenças que se espalharam pela Ásia, Europa e até Estados Unidos deram sustentação às carnes brasileiras no mercado externo.

Na fazenda Pamplona, zona rural de Cristalina (GO), máquina faz a colheita de algodão com auxílio de computadores e imagens de satélite - Pedro Ladeira - 14 jul.22/Folhapress

Esses fatores levaram o Brasil a bater recordes de exportação e de receitas com as proteínas. Esse cenário não vai continuar. A China se reacomoda na produção e importará menos.

No setor de grãos, a pandemia pegou o mundo com baixos estoques e necessidades de importações. O Brasil tinha produto, e os preços giravam perto de patamares recordes. O resultado são receitas previstas de US$ 150 bilhões com exportações do agronegócio neste ano.

Os preços externos vão continuar em bons patamares no próximo ano, mas com tendência de um acerto para baixo. As incertezas trazidas pela guerra da Rússia com a Ucrânia devem ter fôlego curto.
Surgiu, porém, um fator novo no cenário: o aumento de custos de produção. E, conforme os estoques mundiais forem repostos, os preços internacionais de grãos vão desacelerar.

Além de incertezas externas, os produtores vão enfrentar uma série de problemas internos. Até agora, os investimentos na agropecuária foram feitos com taxa de juro menor e em um período de receitas elevadas. A partir de agora, serão taxas de juro elevadas e receitas restritas.

Com orçamento curto, o governo terá dificuldades para garantir crédito para custeio e recursos para equalização nas taxas de juros. Em um período de aumento de crises climáticas, o seguro rural passa a ser fundamental.

Há uma desaceleração da economia mundial. Alimentos sempre são necessários, mas os preços reagem em situações como estas.

Uma das saídas para os produtos brasileiros, uma vez que o país vem obtendo recorde sobre recorde na produção, será a reativação da economia interna.

Lula não terá espaço para dar fortes guinadas no agronegócio. As forças do setor estão muito bem estabelecidas via Congresso e associações. Vai precisar de muito diálogo.

O presidente eleito, no entanto, terá de desatar vários nós deixados pelo atual. Um deles é o desmatamento, crucial para manter os canais externos de negociações. Marina Silva (Rede) desempenhará papel fundamental nessa questão.

Temas caros a Lula e ao PT, como as questões indígenas e fundiária, certamente serão embates na relação com os produtores. O novo governo terá de remontar as estruturas de acompanhamento e de controle no combate a invasões de terras, garimpos irregulares e extração ilegal de madeira.

Basta separar o joio do trigo. Os próprios agricultores já admitem que a questão do desmatamento ilegal e as invasões de terra na Amazônia são casos de polícia.

Uma clareza nessas irregularidades é fundamental. A Europa já mostrou que vai retaliar exportações de áreas desmatadas, e os EUA prometem seguir o mesmo caminho. Bom lembrar que eles sempre são espelhos para outros países.

Promessa de campanha, e assim como já ocorreu no seu governo anterior, o pequeno e o médio produtores, com menor poder de atuação, deverão receber uma atenção especial. O desempenho da economia será fundamental para essa categoria, uma vez que praticamente toda a produção deles fica no mercado interno.

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