Mortes: Viveu 100 anos de trabalho e música na Bahia
Autodidata, Mestrinho confeccionou instrumentos e formou músicos
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Durante anos, a música tomou conta da rua Fernandes da Cunha, em Senhor do Bonfim (BA). Era o som de Mestrinho, sapateiro que aprendeu sozinho a tocar instrumentos. Sanfona e teclado foram seus preferidos.
"Era apaixonado pela música. Você passava na porta da casa dele e ele estava tocando e escrevendo", conta a neta Ariana Carritilha, 36.
De autodidata passou a professor e compositor. No fundo de casa, Mestrinho guardava instrumentos e dava aulas em uma tenda. E contava com orgulho que o espaço já havia sido palco de um ensaio de Luiz Gonzaga.
Nas serestas, animava o público com seu teclado. E nas festas juninas o povo dançava ao som de sua sanfona. Fundou várias bandas e rodou cidades da Bahia e de outros estados, como Sergipe e Pernambuco.
"Eu tinha cinco irmãos pequenos, do jeito que Deus fez. Nós perdemos nossos pais, sofremos do jeito que Deus quis", diz uma de suas canções. A letra é um retrato de sua história. José do Patrocínio Carritilha nasceu em Curaçá (BA), em 1923. Era o mais novo de seis irmãos. Perdeu a mãe aos 2 anos e, um ano depois, o pai.
Os órfãos foram criados pelas respectivas madrinhas, crescendo separados. José foi adotado por uma tia que não tinha filhos e era solteira. Porém, quando ela se casou, o marido não aceitou a criança. O menino ouviu uma discussão do casal e fugiu de casa, aos 9 anos. Ficou na rua até conseguir um emprego em uma fazenda em Petrolina (PE).
No município pernambucano, aprendeu sozinho a confeccionar sapatos e passou a ensinar outras pessoas. Daí veio o apelido Mestrinho.
Anos mais tarde, reencontrou um irmão e foi morar com ele em Campo Formoso (BA). Depois, uma proposta para trabalhar nos trilhos de trem o levou a Senhor do Bonfim (BA). Mas não aceitou o emprego, dizia que já tinha sofrido muito e resolveu trabalhar por conta própria.
Na nova cidade, conheceu Rosalva Pereira Carritilha, com quem se casou em 1946 e teve nove filhos.
A vida de Mestrinho foi marcada por duas grandes perdas. Uma filha teve paralisia infantil e morreu aos 9 meses. E ficou viúvo em 1993.
No seu aniversário de 100 anos recebeu uma homenagem de seus ex-alunos, que tocaram para o mestre.
Mestrinho morreu no último 15 de janeiro, aos 100 anos. Deixa oito filhos: Aloísio, Petrina, Antônio, Jassonete, Maria da Conceição, Ana Maria, Gersonilda e Ana Regina, além de 21 netos e 15 bisnetos.
Em seu velório, sua sanfona foi tocada por uma filha, acompanhada por outra no violão e muitas vozes de seus descendentes. "Nunca se esqueça, nem um segundo, que eu tenho o amor maior do mundo", cantavam a clássica de Roberto Carlos.
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