Mortes: Carismática, professora de inglês comemorava o sucesso dos alunos
Bem-humorada, Soraia Fátima Orfanelli costumava voltar de suas viagens com uma legião de novos amigos
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Soraia Fátima Orfanelli tinha pressa de viver. A partir das aulinhas de inglês de seus tempos de criança, aos 16 anos ela já ensinava a língua estrangeira. Formada no magistério e depois em letras, se tornaria uma carismática professora de colégios públicos e particulares de Jundiaí, no interior paulista.
Lecionar foi uma paixão para a educadora, que se orgulhava das conquistas de seus alunos.
Aos 22 anos se tornou mãe. Quatro anos depois, se separou. Com isso, deu duro para criar o filho.
"Naquela época, chegou a dar aulas em três períodos, começava pela manhã e só terminava às 22h", lembra a irmã Andréa Orfanelli Salgado Rodriguez.
A vida de Soraia andava rapidamente porque ela era intensa. Depois de viajar pelo mundo, chegou à conclusão de que precisaria conhecer o seu próprio país mais a fundo. Arrumou as malas e, sozinha, passou a percorrer o Brasil —só não conseguiu ir aos estados de Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Na véspera de uma de suas viagens, fraturou o pé em uma aula de pilates. O "problema" não a segurou em casa. "Ela mandava fotos rindo e nós aqui cheios de preocupação", lembra a irmã.
Rir, por sinal, era uma virtude. A professora estava sempre de bom humor e suas gargalhadas eram uma espécie de cartão de visitas para avisar que estava em um local. "Não tinha quem não risse com ela", contra Andréa.
Dos turismos trazia novas amizades. Curiosa, soube usar as redes sociais para buscar suas raízes e descobrir parentes em outros estados e na Itália —chegou a visitar familiares que nem imaginava que existiam.
Numa das viagens, foi a Fátima, em Portugal, cidade homônima a ela não por acaso. A mãe, Gilda, teve complicações no parto e prometeu à Nossa Senhora de Fátima que daria o nome da santa à filha, se tudo desse certo no nascimento da menina. Da homenagem veio a devoção.
Cozinhar era outra de suas virtudes, mas não ia para o fogão apenas para o arroz e feijão do dia a dia. Gostava de se inspirar em pratos diferentes de restaurantes. Era comum abrir sua casa para realização de jantares temáticos, como portugueses, onde ela preparava o bacalhau, e japoneses.
No ano passado, ia realizar o sonho de desfilar no Carnaval de São Paulo. Havia comprado fantasia e até participado de ensaio da escola de samba Independente Tricolor. Mas algumas dores começaram a incomodar e ela não foi para a avenida. Soraia havia sido diagnosticada com câncer no pâncreas.
Vaidosa, não deixava de se arrumar e de pintar as unhas para ir às sessões de quimioterapia, onde sempre tinha algum enfermeiro que havia sido seu aluno e lembrava as aulas de inglês.
Soraia Fátima Orfanelli morreu no último dia 14 de fevereiro, aos 58 anos. Deixou o filho Caio e os netos Arthur e Vinícius.
A morte precoce da professora comoveu quem aprendeu com ela e foram centenas de homenagens nas redes sociais. "Sua paixão pela educação inspirou inúmeras gerações de estudantes e colegas, deixando uma marca indelével em nossa comunidade escolar", escreveu a tradicional escola Professor Luiz Rosa.
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