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Professor é premiado por distribuição de alimentos biofortificados e combate a fome no sertão

Erbs Cintra de Souza Gomes, 46, tirou inspiração da própria história para distribuir comida; projeto já se expandiu para 153 municípios de 11 estados.

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Rio de Janeiro

Natural de Serra Talhada, no semi-árido pernambucano, o professor de agroecologia Erbs Cintra de Souza Gomes, 46, vem de uma família de agricultores que sentiu na pele os efeitos da seca no sertão. A experiência de vida o inspirou a criar o projeto "Nas Ramas da Esperança", que distribui alimentos biofortificados resistentes à falta d'água e a pragas para pequenos produtores, buscando contribuir com o combate a fome.

Em seu carro com quase 150 mil quilômetros rodados, Erbs sai do campus do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, em Petrolina (a 750 km de Recife), para entregar comida e mudas de plantas a famílias espalhadas por todo o estado.

Com o projeto, o servidor foi laureado com o prêmio Espírito Público na categoria Desenvolvimento Social, em julho deste ano.

O trabalho começou com 250 agricultores da região próxima de onde ele atua, mas já se expandiu para 153 municípios de 11 estados. Até hoje, já foram doadas 30 toneladas de alimentos e produzidas 515 mil ramas-sementes de batata-doce. O projeto, conta o professor, é também uma homenagem ao pai.

O professor Erbs Cintra de Souza Gomes, 46, é criador do projeto "Nas Ramas da Esperança", que distribui alimentos para famílias de pequenos agricultores - Renato Stockler/ Divulgação Prêmio Espírito Público

"Se passasse alguém pedindo alguma coisa, meu pai dividia o pouco que tinha. Ele dizia que a missão da gente era levar esperança para quem precisasse. No nosso caso, a esperança é em forma de alimentos."

Os biofortificados são diferentes dos transgênicos, já que vem do cruzamento natural entre plantas. Além da tolerância a pragas e ao clima seco, essas hortaliças também contém mais nutrientes.

A família do professor dependia da agricultura de subsistência. Quando conseguiam uma colheita maior, trocavam com vizinhos que plantavam outros alimentos.

"Meus pais foram guerreiros, porque saíram pelo mundo depois de uma grande seca lá na região, buscando melhores oportunidades", diz. "Mas o sonho da vida deles era conseguir formar os filhos professores, já que não tiveram a oportunidade de concluir os estudos."

Aos 27 anos, Erbs conseguiu entrar na faculdade. Por influência dos pais, estudou sobre agricultura e sustentabilidade, desde a graduação até o doutorado. Em 2009, foi aprovado no concurso para docente do Instituto.

Quando entrou no serviço público, sabia que queria desenvolver um projeto de combate à fome. No entanto, sentia dificuldade para abordar o tema. Ele diz que, no geral, as discussões acadêmicas eram voltadas a melhorar o plantio de grandes produções, e pouco falavam sobre a realidade do pequeno agricultor.

No início do projeto, a equipe era formada por duas pessoas: Erbs e um estudante. Desde o começo, tiveram o apoio da Embrapa para conseguir sementes e hortaliças biofortificadas.

Para a plantação chegar aos agricultores do semi-árido, a equipe divulgou sobre a distribuição de mudas e alimentos nas rádios da região. Logo no primeiro dia, 250 foram à universidade para coletar as hortaliças.

"Os dez primeiros anos do projeto foram complicados. Não conseguíamos chegar ao agricultor, então eles precisavam vir até nós. Isso dificulta bastante, porque muitos pequenos agricultores não tinham condições de sair da sua área."

O cenário mudou durante a pandemia. Para Erbs, a crise de saúde escancarou as desigualdades sociais, e projetos voltados ao desenvolvimento passaram a ter mais atenção.

Naquele ano, o professor conseguiu apoio da Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco) para expandir a produção. Também se uniu a outro docente e conseguiu mais cinco alunos para integrarem o projeto. A partir dali, vieram mais variedades de alimentos, incluindo milho, feijão e mandioca.

Com o aumento da produção, a iniciativa foi se espalhando para outras famílias de agricultores, incluindo cooperativas e associações. Eles ampliaram a distribuição dos alimentos para além do sertão de Pernambuco, chegando ao litoral e, com o tempo, a outros estados.

Os próprios agricultores abraçaram a causa e passaram a integrar o projeto. A cada 15 dias, a plantação em Petrolina recebe 70 produtores que ajudam no trabalho com a terra.

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