Descrição de chapéu Cracolândia Datafolha

17% dos brasileiros veem cracolândias no trajeto de casa, aponta Datafolha

Convívio com cenas de abuso de drogas chega a um em cada quatro habitantes de capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes

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São Paulo

Áreas que concentram usuários de crack em vias públicas e a céu aberto, conhecidas em São Paulo como cracolândias, são parte da rotina de milhões de brasileiros. Uma pesquisa Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha, mostra que 17% da população convive com cenas desse tipo em seu trajeto diário entre casa, trabalho e escola.

Quando se considera o tamanho da população, estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a parcela afetada diariamente por cracolândias corresponde a 27,7 milhões de pessoas em todo o país.

O Datafolha entrevistou 2.508 pessoas com mais de 16 anos em todas as regiões do Brasil entre os dias 11 e 17 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95% —o que significa que, se a mesma pesquisa for realizada cem vezes, em 95 delas o resultado estaria dentro da margem de erro.

A imagem mostra um grupo de pessoas sentadas em um terreno coberto de terra e raízes, próximo a um muro e uma árvore. Algumas pessoas estão deitadas, enquanto outras estão sentadas e conversando. Um homem está de pé com uma manta sobre seus ombros. Ao fundo, há um edifício com janelas visíveis. A cena retrata um ambiente urbano e a realidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Usuários de crack embaixo do viaduto Okuhara Koei, próximo à avenida Paulista, na região central de SP; 17% dos brasileiros dizem conviver com grupos de dependentes químicos no trajeto de casa - Danilo Verpa - 25.jun.2024/Folhapress

Entrevistados que reconhecem essas cenas em seu trajeto concentram-se nas metrópoles, mesmo que cidades pequenas do interior não estejam imunes ao problema. Nas capitais, um a cada quatro moradores (27%) relatam o convívio com cracolândias.

No interior, um a cada dez (11%). A proporção é ainda menor nos municípios com menos de 50 mil habitantes: 6%.

Cenas de uso explícito de drogas não estão restritos aos centros urbanos, mesmo que a cracolândia mais conhecida do país, na capital paulista, esteja associada à degradação de uma área central que já foi rica. Hoje o problema está espalhado pelas grandes cidades, e afeta pessoas de diferentes níveis de renda.

O Fórum optou não analisou as diferenças entre as regiões geográficas do país. No caso da cidade e do estado de São Paulo, porém, a dispersão dessas cenas pelo território pode ser confirmada com dados oficiais.

A Folha mostrou em julho que o município possuía 72 concentrações de usuários de drogas no primeiro semestre de 2023. Esses pontos foram classificados pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) como "áreas de atenção" e estavam espalhados por 47 bairros.

Grande parte das cenas de uso de droga está na periferia da cidade de São Paulo. Agentes públicos apontaram 20 pontos na zona leste, 14 na zona norte, seis na zona sul e apenas um na zona oeste, no Rio Pequeno. Em todo o estado, eram 160 cracolândias identificadas em 44 municípios.

A pesquisa Datafolha mostra que os entrevistados com renda familiar entre dois e dez salários mínimos convivem mais, proporcionalmente, com as cracolândias em seus trajetos diários. Entre aqueles que se autodeclaram pretos, 23% afirma que convive com cenas de uso de drogas em seu trajeto. Já entre brancos, essa proporção é de 16%.

Não há diferenças tão marcantes no padrão de respostas de quem tem idades e sexos diferentes —nesses casos, em geral, as variações estão dentro das margens de erro, que são maiores para cada grupo do que para o conjunto da população.

O cientista político André Zanetic, que também é membro do Fórum, vê uma piora na degradação das cidades e um aumento no número de cenas abertas de uso de drogas nas grandes cidades brasileiras.

Ele diz que isso está ligado ao aumento da pobreza na última década e ao potencial de lucro associado a drogas, explorado pelo crime organizado.

"Sem alternativas que buscam tratamentos mais estáveis [dos dependentes químicos], com o poder público tratando isso apenas como uma questão de segurança publica para atender o anseio da população e de comerciantes dessas regiões, o problema só se agrava", diz Zanetic, que sente falta. "Estamos mergulhando, cada vez mais, no lado mais linha dura e repressivo da discussão, e menos sensível aos problemas sociais e particulares."

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