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Vício em pornografia pode ser gatilho para ansiedade e depressão

Tema ganhou repercussão após influencer admitir ser viciado em conteúdo pornográfico; condição também está relacionada à disfunção erétil e dificuldade de orgasmo

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São Paulo

O influenciador Gustavo Tubarão, 24, repercutiu nas redes sociais após assumir ser viciado em pornografia. No vídeo, publicado na última terça-feira (20), ele conta que teve uma recaída depois de quase um ano e meio sem consumir esse tipo de conteúdo.

No meio médico, o termo "dependência" é mais usado do que "vício". Essa condição envolve um consumo excessivo e compulsivo, que foge do controle do indivíduo e causa consequências negativas no dia a dia.

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a condição pode passar despercebida por muito tempo e desencadear outros transtornos mais graves.

O tratamento para a dependência envolve terapia psicoeducacional, medicamentos e grupos de ajuda. - adobe stock

"O desejo intenso de consumir pornografia pode ser tão forte que leva à ansiedade e depressão. Em casos extremos, a dependência pode gerar tanto sofrimento e angústia que o paciente precisa de atendimento médico", afirma o psicanalista Daniel Proença Feijó, especialista em sexologia.

O influenciador já havia revelado nas redes que foi diagnosticado com depressão e transtorno de personalidade borderline.

Ele relatou que, ao parar de consumir pornografia, tornou-se uma pessoa mais produtiva e tranquila. No entanto, com a recaída, voltou a ter pensamentos intrusivos e negativos – inclusive, dentro da igreja.

Segundo Feijó, o diagnóstico do vício em pornografia pode ser difícil tanto pelo tabu em torno do assunto, quanto pela falta de evidências que apontam para uma quantidade de consumo aceitável.

O psiquiatra explica que o comportamento se torna patológico quando começa a prejudicar a vida social, pessoal, profissional e familiar do indivíduo.

"O paciente deixa de sair com seus amigos ou de frequentar lugares onde não vai ter acesso a esse conteúdo. Outro indício é quando perde interesse sexual, inclusive por seus parceiros ou parceiras, e tem disfunção erétil ou dificuldade de chegar ao orgasmo em relações sexuais reais", afirma.

O psiquiatra Arthur Danila, coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria da USP, explica que algumas pessoas têm um traço de personalidade conhecido como "busca por novidades", que pode ser um fator de propensão ao vício.

"A indústria pornográfica oferece uma enorme diversidade de corpos, gêneros, apresentações sexuais e fetiches, o que atrai indivíduos com inclinação para a novidade", diz.

No entanto, essa busca constante pelo diferente pode levar à frustração nas relações sexuais reais, onde essa diversidade não é facilmente encontrada ou replicada, o que pode reforçar ainda mais o comportamento dependente.

"O conteúdo pornográfico é composto por atores. É uma performance teatralizada. Quando se consome muito isso, você passa a ter uma expectativa de que a realização sexual na vida real vai ser nos mesmos moldes, mas a realidade não é assim", afirma Danila.

Existe ainda uma relação entre o consumo de pornografia e a falta de vivências prazerosas em indivíduos que recorrem a esse tipo de conteúdo.

O mecanismo que leva ao vício em pornografia é similar ao de outras dependências, como o uso de drogas e álcool, e está ligada a processos cerebrais que envolvem a dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer.

O próprio influenciador chegou a descrever a pornografia como algo tão viciante quanto a cocaína.

Ambos os especialistas concordam que é possível consumir pornografia de maneira saudável, desde que seja feito de forma racional e controlada.

No entanto, é essencial que o indivíduo esteja atento aos sinais de que o consumo está se tornando problemático e busque ajuda quando necessário.

"O ideal é não depender da pornografia, mas sim buscar relações sexuais na vida real. A pornografia pode complementar a exploração sexual, mas não deve tomar o lugar das interações verdadeiras", diz Danila.

O tratamento para a dependência envolve várias etapas e deve ser individualizado.

Feijó afirma que a conscientização do paciente sobre a gravidade da situação é o primeiro passo. "A terapia cognitivo comportamental [TCC] é frequentemente recomendada e tem mostrado eficácia na redução da compulsão", afirma.

Em casos mais graves, o uso de medicamentos pode ser necessário para tratar os sintomas de ansiedade e depressão associados. Grupos de apoio, como o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), também são uma opção para ajudar na recuperação.

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