Nadadora refugiada síria que salvou 18 no mar lança livro e pede fim da guerra
Yusra Mardini, 20, vira embaixadora de refugiados após participação na Olimpíada do Rio
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RESUMO A síria Yusra Mardini, 20, é nadadora profissional e refugiada na Alemanha desde 2015. Durante a travessia entre os dois países, o bote que ela ocupava com a irmã e outras 18 pessoas teve defeitos, e elas o empurraram por horas no mar Egeu. Após participar da Olimpíada do Rio, um livro e um filme contarão a sua história. Mas a fama não faz com que ela esqueça dos compatriotas que convivem com a guerra.
Como nadadora, sempre tento fazer os menores tempos possíveis na água. Mas a prova mais difícil da minha vida teve cerca de três horas e meia de duração.
Aconteceu em agosto de 2015, no meio do mar Egeu, empurrando um bote com problemas no motor, no qual eu, minha irmã Sarah e mais 18 refugiados entramos para escapar da guerra na Síria.
Na época eu tinha 17 anos e recebi como prêmio a minha sobrevivência.
Nunca imaginei que teria que deixar a Síria. Antes da guerra, eu tinha uma vida normal de adolescente. Treinava duas horas por dia com o meu pai e minha irmã, estava na equipe nacional de natação, e sonhava em disputar o campeonato mundial e a Olimpíada. Mas a guerra tirou nossa escola, nossos treinos e nossos conhecidos.
Praticamente todo mundo que nós conhecíamos estava deixando o país, inclusive meu pai. Eu e Sarah decidimos fazer a travessia que passa por seis países, até chegar à tão sonhada Alemanha.
ÁGUA SALGADA
Na Turquia, passamos quatro noites em uma floresta, esperando a hora de entrar em um bote que nos levaria à Grécia. No meio do mar Egeu, o motor do barco pifou. Eu e minha irmã decidimos pular na água, nadar ao lado do bote e empurrá-lo até a ilha grega de Lesbos.
Foram cerca de três horas e meia nadando e empurrando o bote com 18 ocupantes. Eu lembro como se fosse hoje da água salgada ardendo nos meus olhos e entrando na minha boca e garganta.
Sarah e eu ficamos muito nervosas, porque parecia que nunca chegaríamos.
Mas cheguei à Grécia, à Alemanha, onde eu moro até hoje, e ao Brasil, onde disputei a Olimpíada de 2016.
EMBAIXADORA
O mundo começou a conhecer a minha história e o COI (Comitê Olímpico Internacional) me escolheu para fazer parte do primeiro time de refugiados da história dos Jogos. Ganhei uma das eliminatórias dos 100 m borboleta. Foi muito legal poder inspirar tantas pessoas no Rio.
Os brasileiros são pessoas muito gentis e alegres. Um dos momentos mais marcantes no Rio foi assistir ao ginasta brasileiro Arthur Nory ganhar a medalha de bronze.
Desde o Rio, minha vida só teve boas notícias. A ONU (Organização das Nações Unidas) me escolheu para ser embaixadora para refugiados. Participo de eventos no mundo todo, mas é em Berlim onde me sinto em casa.
Tive a chance de contar minha história completa em um livro chamado “Butterfly”. Também haverá um filme sobre mim, produzido pelo britânico Stephen Daldry, diretor de “As Horas”.
Conheci o ex-presidente dos EUA Barack Obama quando o apresentei em um painel sobre refugiados, e a ativista Malala Youzafzai, que me disse que eu a inspirei.
Eu tenho sonhos novamente: disputar a Olimpíada de Tóquio e o próximo Mundial.
RETORNO
Mas nada disso faz com que eu esqueça os meus compatriotas que ainda tentam escapar. Eles precisam de água e de comida. Ninguém deveria viver nessas condições. Sempre falo que os outros países deveriam abrir suas fronteiras para eles.
Quero que o mundo saiba que a Síria é um país incrível, de muita história, de pessoas generosas e comida incrível, assim como o Brasil.
Tenho vontade de voltar para lá um dia, mas só faria isso quando a Síria estivesse segura novamente, livre da guerra. Infelizmente, nós não fazemos ideia de quando teremos essa chance.
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