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Única mulher em curso de técnicos da CBF sonha em treinar time masculino

Técnica do Santos, Emily Lima foi pioneira ao comandar seleção brasileira

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Emily Lima, 38, não se conforma com padrões e não está disposta a colaborar para aumentar a extensa lista de clichês no futebol. A atual técnica do time feminino do Santos quer mudanças.

De contrato renovado após uma temporada de redenção no clube, tendo conquistado um título paulista e o vice-campeonato da Libertadores, Emily deseja abrir novos mercados para as mulheres que trabalham no futebol.

Assim como a maioria dos profissionais da modalidade, ela sonha em fazer carreira na Europa, mas antes gostaria de ter a oportunidade de treinar um time masculino no Brasil.

Emily Lima participa de curso de técnicos da CBF - Kin Saito - 15.jan.17/CBF

“Alguns gestores já me perguntam se aceitaria o desafio. Estão observando que estamos no mercado e que pode ser algo inovador. Temos que saber que a pressão será grande e diferente, certamente ouviremos coisas como ‘viu, foi tentar uma mulher’. Se houver uma boa oportunidade não vou negar”, disse à Folha.

No Brasil, o relato mais recente de uma mulher que foi técnica de um time masculino é o de Nilmara Alves, que comandou o Manthiqueira na quarta divisão do Paulista e na Copa São Paulo.

Em dezembro, Emily foi a única mulher em uma turma de 65 técnicos que fez o curso de Licença Pro da CBF, a mais alta certificação para a categoria no futebol brasileiro. 

“Vivemos em um país machista e preconceituoso. Poderia ter mais técnicas? Sim, se tivéssemos uma cultura diferente”, afirmou.

 

“A pergunta, por sinal, não deveria ser o motivo de só haver uma mulher no curso, mas, sim, quantos homens que trabalham no futebol feminino tem Licença A ou Pro?”, completou. A partir deste ano, o diploma do curso será exigido para técnicos de equipes que disputam a Série A do Brasileiro masculino. 

Na edição de 2018, fizeram o curso Tite, Dunga e Mano Menezes, 3 dos 4 últimos técnicos da seleção masculina.

“É um curso muito rico e qualificado. Entre os técnicos, fui muito respeitada. Todos me chamavam pelo nome e me ouviam, até os renomados. Acredito que o conhecimento não ocupa espaço. Ocupa tempo? Sim. Vim depois de mais de um mês fora de casa. O esforço tem um motivo: quero colher os frutos lá na frente”, disse Emily.

Em outro curso promovido pela CBF, o da Licença A, havia somente 2 mulheres, minoria em meio a 74 homens.

“Não culpo ex-atletas e nem as mulheres. Precisamos colocar comida na mesa e pagar contas. Tenho boa base familiar e financeira, mas nem todas têm condições. Elas têm que trabalhar, cuidar de filhos. O futebol feminino, muitas vezes, não paga as contas.”

Emily já rompeu outras barreiras. Se tornou a primeira mulher a comandar a seleção brasileira feminina. A passagem, porém, ficou mais marcada pela saída rápida do que pelo trabalho realizado.

Sua passagem foi encerrada em setembro de 2017, com apenas dez meses e 13 jogos  —teve 56,4% de aproveitamento. Nenhum de seus cinco antecessores havia ficado menos de um ano no cargo.

Ela disse na época ter se sentido usada pela entidade e que o futebol feminino estava nas mãos de pessoas que não entendiam da modalidade. Ainda criticou a decisão de iniciar uma transição com a contratação de Vadão, justamente seu antecessor, e que, segundo a técnica, tinha “rasa experiência entre as mulheres”.

“As minhas posições são as mesmas, mas hoje só falo do Santos. Não me importa mais o que a seleção”, disse.

A briga de Emily foi comprada por outras cinco jogadoras que anunciaram a sua posição de deixar a seleção: Cristiane, Maurine, Rosana, Fran e Andreia Rosa. Dessas, apenas Cristiane desistiu da aposentadoria meses depois. 

Como jogadora, Emily fez carreira no Brasil, principalmente em clubes paulistas. Jogou por Saad, São Paulo e Palestra de São Bernardo. Na Europa, atuou em equipes da Espanha e no Napoli, da Itália, onde parou após lesões.

“Temos uma nova boa geração [no futebol feminino] e, novamente, não vão trabalhar? Precisamos lutar para fazerem um campeonato mais competitivo”, afirmou. 

No Santos, ela disse ter encontrado uma nova “identificação afetiva” e que não vai parar a luta por novos tempos.

“Falta muito quem brigue pelo futebol feminino.”

Raio-x

Emily Lima, 38
Técnica do Santos feminino, passou por São José, Juventus e pela seleção brasileira. Como jogadora, atuou no São Paulo, Sporting Huelva (ESP) e Napoli (ITA). Em dezembro de 2018, concluiu o curso Licença Pro da CBF

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