Clubes brasileiros não obedecem regra da Conmebol sobre futebol feminino

Dos 14 classificados para Libertadores e Sul-Americana, apenas 7 times possuem times adulto e de base

Jogadoras participam de peneira realizada pelo São Paulo para formar suas equipes femininas  - São Paulo FC/Divulgação
São Paulo

Apenas 7 dos 14 times brasileiros classificados para Libertadores ou Copa Sul-Americana de 2019 obedecem atualmente as exigências da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) de possuir equipe de futebol feminino adulta e de base.

A norma, publicada em 2016, entra em vigor na temporada 2019 e faz parte das regras de licenciamento de clubes da entidade. Segundo a assessoria da Conmebol, quem não obedecer será excluído das suas competições.

Segundo levantamento feito pela Folha, Atlético-MG, Athletico-PR e Inter, que disputarão a Libertadores, além de Santos, Bahia, Chapecoense e Fluminense, assegurados na Sul-Americana, têm times femininos nas duas categorias.

Os outros sete clubes (Palmeiras, Flamengo, Grêmio, São Paulo, Cruzeiro, Botafogo e Corinthians) ainda tentam formar equipes de base ou adultas. Alguns deles, correm atrás de parcerias.

De acordo com o regulamento da Conmebol, “o solicitante [à licença] deverá ter uma primeira equipe feminina ou associar-se a um clube que possua o mesmo. Além do mais, deverá ter pelo menos a categoria juvenil ou associar-se a um clube que possua.”

O Inter montou um time feminino juvenil em fevereiro de 2017. Depois, criou o time adulto. Para isso, fez uma peneira com 700 meninas. 

“O Inter tem 25% do seu quadro social composto por mulheres. Acredito que a modalidade vai alavancar com essa regulamentação. A rivalidade entre os times será importante”, disse Norberto Guimarães, vice-presidente de Relacionamento Social do clube.

Já Atlético-MG e Athletico-PR anunciaram parcerias nesta semana. Os mineiros fecharam com o Prointer, time amador, enquanto o clube paranaense acertou com o Foz Cataratas, que até outubro carregava o distintivo do Coritiba e é considerado um das mais tradicionais do esporte —está na elite nacional. 

Flamengo, Grêmio, São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro, que disputarão a principal competição sul-americana, correm para se enquadrar às regras. 

Flamengo e Grêmio já possuem a equipe adulta e agora preparam a montagem de pelo menos uma categoria de base, enquanto os paulistas iniciaram o projeto com o sub-17.

“O elenco adulto será formado com a contratação de jogadoras, promoção de atletas da base e as que foram selecionadas na seletiva de novembro, que reuniu 470 candidatas”, disse o São Paulo.

Palmeiras e Cruzeiro correm atrás de parcerias com times já existentes. As negociações estão bem adiantadas. A Folha apurou que o clube alviverde negocia com o time de Valinhos —representava a Ponte Preta. O investimento será de R$ 2 milhões, aprovado através da lei de incentivo.

 

“Nossa ideia é pegar a estrutura de algum clube de futebol feminino que já exista e assumir. Devemos fazer no interior do estado para aproveitar a força do clube e da torcida”, disse Marcone Barbosa, gerente de futebol do Cruzeiro.

 

Dos times que vão disputar a Sul-Americana, Santos e Chapecoense já possuem as equipes adultas e de base. 

O Bahia fez parceria no final deste ano com o Lusaca, vice-campeão estadual , que fica situado na cidade de Dias D’Ávilla, enquanto o Fluminense acertou com a Daminhas da Bola, localizada em Duque de Caxias.

“Ao invés de começar o trabalho do zero decidimos apoiar uma equipe que estava passando dificuldades e tem um trabalho muito bom no futebol feminino. Vamos disponibilizar um valor por ano e apoiar em ações de marketing, além de disponibilizar material”, afirmou Vitor Ferraz, vice-presidente do Bahia. 

O Corinthians também está próximo de completar as exigências. Atual campeão feminino do Brasileiro, o time alvinegro se prepara para formar uma equipe sub-17, que deve começar já em janeiro.

O clube formou neste ano departamento próprio de futebol feminino após dois anos de parceria com o Audax.

Já o Botafogo é o que está mais atrasado. De acordo com Marcos Padilha, diretor de marketing, “a equipe negocia para entrar com a marca e o material esportivo, mas não pretende investir dinheiro”.

O Manual de Licenciamento de Clubes da CBF é mais brando, e solicita que as equipes da Série A do Brasileiro de 2019 tenham um time feminino, adulto ou de base, e que disputem um torneio nacional ou estadual na temporada. 

Seletiva do Fluminense foi realizada nas Laranjeiras - Laís Patrício/Fluminense

Das outras seis agremiações que estão na elite nacional, Ceará, Vasco e CSA cumprem as exigências. O Goiás diz ter acertado uma parceria com uma equipe já existente, mas ainda não assinou contrato para efetivar o acordo. Fortaleza e Avaí ainda estudam como vão trabalhar. 

“Todos os clubes assinaram carta se comprometendo a ter equipe feminina em 2019”, disse Reynaldo Buzzoni, diretor de Registro, Transferência e Licenciamento da CBF.


Equipes reclamam de calendário, e CBF vai aumentar 2ª Divisão 

Alguns clubes reclamam da falta de competições promovidas pela CBF para o futebol feminino. Hoje, a entidade organiza campeonatos das Série A1 (primeira divisão) e a Série A2 (divisão de acesso) —esta última, formada após seletiva entre campeões estaduais, dois rebaixados e o time de melhor colocação da federação líder do ranking nacional.

“Acredito que vamos disputar a Série A2, mas não é nada oficial. Como vendo espaço na camisa se eu não sei o que vou disputar”, disse Amanda Storck, gerente do futebol feminino do Fluminense.

De acordo com Marco Aurélio Cunha, gerente de seleções femininas da CBF, a seletiva da Série A2 terá mais times em 2019. O novo formato de disputa será definido no início de janeiro. Na quinta-feira (20), a entidade divulgou que organizará um torneio sub-18.

Peneira realizada pelo Internacional reuniu 700 meninas
Luiz Cosenzo, Rafaela Cardoso e Alexandre Aquino

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