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Documentário exibe Jordan competitivo, obsessivo e humano

'The Last Dance' retrata última temporada vitoriosa do Chicago Bulls na NBA

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São Paulo

Quando o diretor Jason Hehir se encontrou com Michael Jordan pela primeira vez para discutir um documentário em torno do craque e de seu último título na NBA, perguntou-lhe por que ele queria a realização do filme. “Eu não quero”, respondeu o ex-jogador.

E por que não?

“Quando as pessoas virem as imagens, não sei se vão conseguir entender por que eu era tão intenso, por que fiz as coisas que fiz, por que agi da maneira de que agi e por que falei as coisas que falei”, explicou Jordan.

Deixar tudo isso claro é a missão de “The Last Dance”, série em dez episódios de uma hora que estreia neste domingo (19), nos Estados Unidos, na ESPN. Para o resto do mundo, a exibição começa na segunda (20), no Netflix, sempre com dois capítulos liberados por semana.

A base do documentário é a temporada 1997/98 do Chicago Bulls. Naquele que foi seu campeonato final com a camisa do time de Illinois, o camisa 23 e seus companheiros permitiram que uma equipe de TV os acompanhasse, gravando cenas de bastidores.

Michael Jordan sobe para marcar a cesta do título de 1998 - Fernando Medina - 14.jun.98/NBAE

Boa parte do material permaneceu intocado até que surgisse a ideia do filme, uma coprodução de ESPN, Netflix, NBA Entertainment, Mandalay Sports Media e Jump 23, empresa de Jordan. Jason Hehir foi escolhido para a direção e conduziu entrevistas com 106 pessoas para contar a história que desejava.

O personagem central concedeu três longos depoimentos. Também foram ouvidos vários de seus companheiros, como Scottie Pippen, Dennis Rodman e Steve Kerr, além do técnico Phil Jackson. A lista tem ainda adversários, como John Stockton e Kobe Bryant, e figuras como a cantora Carmen Electra e o ex-presidente Barack Obama.

A linha que conduz o documentário é o torneio concluído em 1998, mas a série fica bem longe de se restringir àquele ano. Há idas e vindas cronológicas, com visitas a períodos anteriores na história de Michael Jordan, como seus anos na Universidade da Carolina do Norte e os outros cinco títulos pelos Bulls.

A ideia de Jason Hehir era fazer um retrato humano, não uma simples louvação ao craque. Por isso, foram abordados temas sensíveis, como a saída do ala-armador da NBA entre 1993 e 1995 em meio a seus problemas em apostas. O ex-jogador de 57 anos falou abertamente sobre a teoria de que suas dívidas de jogo teriam relação com o assassinato de seu pai, em 1993.

Apresentar um Jordan humano é a ideia do diretor Jason Hehir - Frederic J. Brown - 24.fev.20/AFP

Nas apostas, no domínio sobre os rivais e na cobrança aos companheiros, a constante é o espírito competitivo pelo qual Jordan diz ser “amaldiçoado”. “Minha mentalidade é ir lá e ganhar. A qualquer custo”, afirma.

Esse custo envolvia inimizades criadas no caminho para a vitória. A interação do atleta com seus colegas nem sempre era bonita. Era por isso que ele não queria que as gravações de 1997/98 virassem filme, por momentos como as broncas em Scott Burrell, ala-armador que chegou aos Bulls naquela temporada.

“Quando você vê as imagens, acha que eu sou um cara horrível. Mas você precisa entender a razão pela qual eu estava o tratando daquele jeito”, explica o camisa 23, que queria deixar Burrell pronto para as batalhas nos mata-matas.

“Vencer tem um preço. E liderança tem um preço. Eu puxei pessoas quando elas não queriam ser puxadas, eu desafiei pessoas quando elas não queriam ser desafiadas”, diz Jordan, no sétimo episódio do documentário. “Podem falar: ‘Ele não era um cara legal, talvez fosse um tirano’. Bom, isso é o que diz você. Porque você nunca ganhou nada.”

Michael Jordan nem sempre pegava leve com os companheiros - Scott Olson - 28.abr.96/Reuters

O comportamento era bem semelhante ao que apresentaria Kobe Bryant, que surgiu na NBA querendo destronar o ídolo e saiu dela o chamando de “irmão mais velho”. Kobe fala sobre isso no documentário, ao qual concedeu entrevista em janeiro, uma semana antes de morrer aos 41 anos, em acidente de helicóptero.

“Não importava o que a gente discutia, tudo caía naquilo, um propósito profundamente arraigado de ser o melhor a qualquer custo. Falamos sobre a intensidade dele como companheiro, como competidor”, afirmou o diretor Jason Hehir, em entrevista ao site The Athletic.

Se isso já era palpável na infância, nas brigas com o irmão pela atenção do pai, tornava-se ainda mais evidente em quadra. E foi com esse fogo que Michael Jordan se dedicou à “última dança” –“The Last Dance”, nome da série documental–, como o treinador Phil Jackson se referiu à temporada 1997/98.

Phil Jackson e Michael Jordan tinham uma relação próxima - Vincent Laforet - 13.jun.97/AFP

No início daquele campeonato, o gerente-geral do Chicago Bulls avisou que não renovaria o contrato de Jackson ao fim da disputa. Jordan, cujo compromisso expiraria também ao término da competição, disse não jogaria com outro técnico. Como os acordos de Scottie Pippen e Dennis Rodman também estavam no ano derradeiro, ficou claro que aquela seria a jornada final daquele grupo, que buscava o tricampeonato.

Campeão em 1991, 1992 e 1993, o Chicago ficou pelo caminho nas duas temporadas em que Jordan resolveu jogar beisebol e voltou a triunfar no retorno do craque, em 1996 e 1997. Curtir a “última dança” e recordar tudo o que levou a ela será possível para o público brasileiro a partir de segunda-feira.

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