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Número alto de atletas com Covid-19 gera dúvidas no esporte dos EUA

Ligas iniciaram exames, nos últimos 30 dias, para que possam retomar competições

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Andrew Keh
The New York Times

Embora algumas pessoas talvez tivessem a esperança de que o retorno das atividades das ligas esportivas dos Estados Unidos sinalizaria algum avanço na direção da normalidade, o hesitante processo na verdade lembra mais uma perigosa caminhada na corda bamba.

Uma das fontes de tensão nas últimas semanas foram os exames realizados por múltiplas organizações esportivas, e a constatação de que diversos atletas são portadores do coronavírus. Nenhuma das ligas escapou. Preparativos foram postergados, instalações terminaram por ser fechadas, reabertas e fechadas outra vez, e as perguntas de toda espécie proliferaram.

Assim, de que forma os resultados desses exames devem ser interpretados para definir as perspectivas do esporte nos Estados Unidos? Por que os contágios ocorreram, para começar? E que caminho as ligas devem tomar, a partir daqui?

Com a ajuda de alguns especialistas, tentamos determinar o que aconteceu de fato nas duas últimas semanas e compreender o que pode estar em jogo no futuro próximo.

Primeiro vamos considerar os números.

As ligas de esportes profissionais iniciaram um ciclo agressivo de exames de coronavírus, nos últimos 30 dias, porque isso é necessário para que possam voltar a funcionar em meio à pandemia.

Na segunda-feira, por exemplo, a NHL anunciou que, dos 396 jogadores de hóquei no gelo que haviam retornado aos centros de treinamento de seus times nos 30 dias anteriores, 23 eram portadores do vírus. Outros 12 jogadores, informou a liga, também foram testados como portadores em exames realizados fora dos protocolos oficiais de teste da NHL. Diversos times decidiram fechar seus centros de treinamento, no período, em resposta ao surgimento da doença entre seus integrantes.

Na semana passada, a NBA anunciou que 25 dos 351 jogadores testados entre 23 e 29 de junho eram portadores do coronavírus. A liga também anunciou que, no mesmo período, 10 empregados dos serviços de apoio, entre os 884 examinados, foram detectados como portadores do vírus.

A Major League Baseball (MLB) anunciou na sexta-feira que 58 atletas e oito funcionários haviam sido apanhados nos exames, das 3.748 amostras recolhidas na mais recente rodada de exames promovida pela organização. A liga fechou temporariamente todos os centros de treinamento de pré-temporada na Flórida e no Arizona, em junho, em resposta à onda de exames positivos. Mais recentemente, o Washington Nationals, Houston Astros, St. Louis Cardinals e San Francisco Giants cancelaram treinamentos coletivos por conta do atraso na realização de exames.

Por que esses números parecem altos?

Para os especialistas, eles parecem altos. Os 5,8% de atletas apanhados nos exames oficiais da NHL, por exemplo, representam proporção de contágio provavelmente superior à encontrada na média da população. Quanto aos motivos para que isso esteja acontecendo, os especialistas só podem especular.

“Eles são pessoas enérgicas por natureza”, disse William Schaffner, professor da Universidade Vanderbilt que pesquisa sobre doenças infecciosas. “Muitos atletas são pessoas gregárias. Esperar que mudem completamente de comportamento e se tornem meio eremitas, e não se envolvam em atividades sociais, é pedir demais”.

A falta generalizada de especificidade nos dados divulgados pelas organizações esportivas dificulta um pouco algumas formas de análise, mas há uma dinâmica potencialmente reveladora incorporada aos mais recentes resultados de exame da NBA: a diferença drástica na proporção de contágio entre os atletas (7,1%) e funcionários (1,1%).

“Isso significa que existe algo de comportamental nos atletas que torna bem mais provável que adoeçam, se comparados aos funcionários”, disse Zachary Binney, epidemiologista da Universidade Emory. “Suponho que não seja um resultado completamente chocante. Estamos falando de caras jovens, que talvez se sintam imunes. Você antecipa que haverá algumas diferenças, mas a disparidade é maior do que eu imaginava”.

Como as ligas estão lidando com esses resultados?

Com cuidado. Um exemplo de como as coisas podem começar a degringolar está disponível na chamada “bolha” criada pela Major League Soccer (MLS) no complexo esportivo da ESPN no Disney World, em Orlando, Flórida. (A NBA também está confiando em um ambiente restrito, mas não completamente isolado, para reiniciar seus jogos no mesmo complexo, e na quinta-feira os 22 times participantes já tinham chegado a o local.)

“O momento mais delicado para a bolha é levar as pessoas para dentro da bolha sem que elas estejam infectadas”, disse Binney. “A MLS fracassou clamorosamente quanto a isso”.

Até agora, dois times da MLS foram forçados a se retirar do torneio depois que múltiplos jogadores foram identificados em exames como portadores do vírus, ao chegarem ao local. O FC Dallas teve 10 jogadores e um membro da comissão técnica apanhados nos exames antes do começo da competição. Na quinta-feira, o segundo dia do torneio, o Nashville SC foi forçado a abandonar o evento depois que nove jogadores de seu time foram identificados como contagiados em exames de coronavírus.

Binney disse que o período de incubação do coronavírus, que normalmente dura de três a cinco dias mas pode chegar a duas semanas, provavelmente dificulta a detecção de casos durante um período curto de teste. Vai demorar mais alguns dias para que a liga possa ter certeza de que o vírus não contagiou outras pessoas.

Operar em um ambiente parcialmente isolado funcionou, em algum outro lugar?

O sucesso inicial do campus restrito da National Women’s Soccer League (NWSL) pode ter despertado esperanças nos demais esportes. Os times não mostraram casos de contágio desde que os jogos começaram no local, em 27 de junho.

Eles tinham alguns fatores trabalhando em seu favor. Houve um surto em um dos times, mas a liga teve sorte porque esse aglomerado de contágios – 10 casos positivos entre as jogadores e funcionários do Orlando Pride, que deixou a competição em 22 de junho – aconteceu antes que as pessoas chegassem ao local de isolamento no Utah. O número de pessoas presentes lá também é menor, o que significa menos oportunidades de contágio. E o vírus parece estar atingindo os homens com mais severidade do que as mulheres, em todo o mundo.

Mas pelo menos no nível mais básico, disse Binney, “a bolha da NWSL é uma prova de que o conceito de uma bolha pode funcionar”.

Tradução de Paulo Migliacci

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