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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Gratidão e história de vida fizeram lutadora escolher homem como sparring na Olimpíada

Atleta, um dos principais nomes do wrestling feminino, decidiu levar companheiro de treinos a Tóquio

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São Paulo

Edvanílson Conceição de Jesus, 21, recebeu há dois meses telefonema de um funcionário da Confederação Brasileira de Wrestling. Foi pedido a ele que enviasse por email cópia dos seus documentos.

"Não entendi direito, mas achei que era para alguma competição internacional", relembra.

Laís Nunes, 28, sua companheira de treinos, estava em viagem. Quando voltou, perguntou-lhe se havia recebido o contato sobre os documentos e se sabia do que se tratava. Edvanílson disse sim e, depois, não.

"Foi quando eu falei que ele iria para a Olimpíada comigo", conta a lutadora.

"Eu não acreditei. Achei que era alguma brincadeira. Depois vi que era sério. Nem sei o que dizer. Será uma experiência incrível", responde o atleta que todos chamam apenas de Ed.

Laís está classificada para os Jogos e vai competir na categoria até 62 kg do wrestling. Ela já havia participado da Rio-2016. Ed será seu sparring. A atleta poderia ter escolhido qualquer nome que a confederação colocasse à disposição, de preferência uma mulher. Mas decidiu chamar seu colega de treinamentos porque os dois têm histórias parecidas.

"Ele saiu do interior do Nordeste aos 15 anos para buscar uma vida melhor em São Paulo. Com a mesma idade eu deixei Goiás. Eu vejo que ele é um menino determinado a ir atrás dos seus sonhos, como eu fui um dia", afirma Laís.

Laís saiu de Barro Alto, no Vale do São Patrício, um município com cerca de 11 mil habitantes. Deixou tudo para trás porque ouviu de treinadores que tinha talento para o wrestling e, se quisesse, poderia fazer parte de um projeto social para formar atletas em Brasília. Logo depois, mudou-se para São Paulo.

Lais Nunes derruba Edvanílson, que vai com ela para a Olimpíada de Tóquio - Ronny Santos/Folhapress

"A Laís sempre me fala que temos histórias parecidas. O que é verdade. Eu saí de casa e fui para São José dos Campos [93 km de São Paulo, onde os dois treinam hoje em dia]. Tenho o sonho olímpico. Acho que ela percebeu isso em mim e me deu esse presente", completa Ed, nascido em Estância, cidade sergipana a 70 km de Aracaju.

Ela não definiria como "presente". A confederação acharia normal a escolha de uma mulher, mas a classificada para Tóquio decidiu chamar Ed por alguns motivos. O primeiro é a afinidade pessoal. Mas há também o sentimento de gratidão. Durante boa parte do ciclo olímpico, foi ele quem mais a ajudou nos treinos. Tem ainda o esforço pessoal.

"Eu fiquei tocada com o empenho porque ele caminhava todos os dias 30 minutos da casa dele para vir treinar, todos os dias, e me ajudar. Eu poderia escolher qualquer outra pessoa. Eu sou mulher, luto com mulheres, poderia ter escolhido uma mulher. Também tenho boas parcerias de treino", diz a classificada para Tóquio-2020.

Existe o aspecto técnico, de praticar contra adversário que tenha mais força, exija mais e simule o que ela vai encontrar na competição no Japão, analisa o próprio sparring.

Edvanilson será privilegiado. Ele poderia ser candidato a fazer parte do programa Vivência Olímpica, do COB [Comitê Olímpico do Brasil], implantado para que atletas jovens pudessem sentir o ambiente dos Jogos sem a pressão de competições. Isso não acontecerá neste ano. Por causa da pandemia da Covid-19, a iniciativa foi suspensa.

Laís Nunes, lutadora brasileira classificada para a Olimpíada, ao lado de Edvanílson, seu colega de treinos - Arquivo pessoal

O novato terá a chance de viver a experiência por causa da decisão de Laís, que fez parte do Vivência Olímpica em 2012.

"Eu me espelho nela porque passou por isso em Londres e depois se tornou atleta olímpica. É o que quero para mim também", assegura.

"Para mim, foi importante viver todo esse clima. Quando chegou 2016, no Rio, era diferente, claro, porque competiria. Mas o ambiente não era totalmente estranho. Isso ajuda", ressalta Laís.

Sete dos 20 atletas que fizeram parte do Vivência Olímpica em 2016 se classificaram para Tóquio-2020. Em 2012, foram 16 jovens e oito deles viajaram a Londres pelo projeto e disputaram os Jogos quatro anos depois. Destes, quatro conquistariam medalhas: Martine Grael (vela), Thiago Braz (ouro no salto com vara), Felipe Wu (prata no tiro esportivo) e Isaquias Queiroz (duas pratas e um bronze na canoagem).

"Ir para a Olimpíada é uma oportunidade que todo atleta sonha. Se você vai uma vez, quer ir de novo. Se eu puder proporcionar essa inspiração ao Ed, vou ter feito o que gostaria. Mas ele também vai me ajudar muito na preparação para as lutas. Vai ser muito bom para nós dois", finaliza Laís, que foi eliminada na primeira fase nos Jogos do Rio.

Veja abaixo os atletas que fizeram parte do Vivência Olímpica e depois se classificaram para os Jogos

Londres-2012

Martine Grael (vela)
Thiago Braz (salto com vara)
Laís Nunes (Wrestling)
Felipe Wu (tiro esportivo)
Hugo Calderano (tênis de mesa)
Isaquias Queiroz (canoagem velocidade)
Rebeca Andrade (ginástica artística)
Thiago Monteiro (tênis)

Rio-2016

Paulo André (atletismo, 100 m)
Beatriz Ferreira (boxe)
Rafael Macedo (judô)
Edival Pontes (taekwondo)
Duda Lisboa (vôlei de praia)
Ana Patrícia (vôlei de praia)
Manoel Messias (triatlo)

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