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Tóquio 2020

Frustrante, derrota do Brasil no basquete não pode ser nova terra arrasada

Expectativa por vaga olímpica inesperada há uma semana vira decepção, mas é preciso seguir

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São Paulo

Expectativas foram criadas, diz o meme que acabou repetido tantas vezes nos últimos dias para comentar a campanha da seleção brasileira masculina de basquete durante a disputa do torneio Pré-Olímpico.

Ao mesmo tempo, o torcedor calejado sabia que acreditar demais poderia ser o primeiro passo para uma nova frustração.

No fim, mesmo quem não se iludia com uma suposta vaga certa em Tóquio acabou decepcionado após a derrota para os alemães, por 75 a 64, neste domingo (4).

Após três atuações dominantes contra Tunísia, Croácia (mandante da competição) e México, a equipe brasileira jogou muito abaixo do que poderia na decisão que dava a única vaga em disputa no Pré-Olímpico de Split.

OK, você já viu esse filme antes, mas convém separar o que essa derrota tem de diferente das demais.

As expectativas foram criadas nesta semana por causa das três vitórias com surpreendente facilidade. Até o início da competição, porém, nada levava a crer que o Brasil chegaria à final com status de favorito para a vaga.

Essa responsabilidade era toda da Croácia. A potência do basquete, que estava em casa e conta com o craque da NBA Bojan Bogdanovic, apresentou um desempenho pobre e ficou pelo caminho. Difícil encontrar explicações para tamanha decepção, assim como para as eliminações da Sérvia no torneio de Belgrado e do Canadá em Vitória —a Lituânia caiu em Kaunas diante da Eslovênia de Luka Doncic.

Já o Brasil, em um jogo parelho contra uma adversária europeia também invicta e competitiva, mas que não está na mais alta prateleira do continente, teve produção ofensiva terrível. Vitor Benite, de quem mais se esperava poder de fogo pelo que fez na última temporada na Espanha e pelo que vinha fazendo em Split, acertou 3 de 18 arremessos tentados.

Vitor Benite, que vinha se destacando, teve uma atuação fraca diante da Alemanha
Vitor Benite, que vinha se destacando, teve uma atuação fraca diante da Alemanha - Antonio Bronic/Reuters

Com muita dificuldade para espaçar a quadra e criar boas condições de chute, o Brasil teve aproveitamento de 28% nas bolas de três e de 46% nas de dois —a média nos três jogos anteriores havia sido de 47% e 62%, respectivamente.

Antes do torneio, o técnico croata da seleção brasileira, Aleksandar Petrovic, repetiu várias vezes que, se a defesa verde-amarela funcionasse, a produção ofensiva normal levaria o time às vitórias.

Não ocorreu dessa forma neste domingo, quando a marcação foi razoavelmente efetiva (exceção aos duelos contra Moritz Wagner), mas nem o comandante nem seus comandados encontraram soluções para pontuar.

Petrovic carregará a responsabilidade de não ter colocado Georginho e Lucas Mariano em quadra e não ter dado mais minutos para Yago, o único que foi capaz de incendiar a partida em algum momento. Três dos maiores destaques do NBB (a liga de basquete nacional) nas últimas temporadas não tiveram a chance de tentar corrigir os problemas brasileiros.

A princípio, achava-se que o Brasil não teria time para ir à Olimpíada. Descobriu-se que até tinha, pelo menos diante dos adversários do Pré-Olímpico que disputou, mas no fim das contas a seleção não estará em Tóquio por ter feito uma única partida decepcionante.

Dolorida, a perda da vaga olímpica que há uma semana poucos esperavam conquistar não deveria significar terra arrasada. Sim, o basquete brasileiro está fora de qualquer modalidade dos Jogos pela primeira vez desde 1976, mas tristemente esse era o roteiro mais esperado até então.

Após anos de desmandos administrativos que entre outras coisas levaram a uma compra de vaga em Campeonato Mundial (seguida de suspensão internacional por falta de pagamento), não será agora o momento para deixar aflorar o discurso catastrófico.

Como escreveu o colega jornalista Marcelo Laguna, o basquete masculino do Brasil conseguiu sobreviver a 16 anos fora de uma Olimpíada (entre as participações em Atlanta-1996 e Londres-2012). E agora quase voltou a ela com um time cuja base era formada por alguns dos veteranos já presentes nas últimas décadas.

Uma seleção que poderá ter Yago, Georginho, Didi e Gui Santos, além de outros remanescentes da campanha atual, no ciclo para o Mundial-2023 e os Jogos de Paris-2024, precisa absorver as lições de mais uma derrota e seguir em frente. Chegou o momento de Alex Garcia, Anderson Varejão e Marcelinho Huertas passarem o bastão geracional, ainda que isso não signifique todos se aposentarem da equipe nacional imediatamente.

Não é possível saber se esse futuro será sob o comando de Petrovic, que tem méritos inegáveis na formação de um time forte na defesa, mas falhou em momentos decisivos tanto no Mundial de 2019 quanto agora. Chegou a hora de Gustavo De Conti, treinador do Flamengo que pede passagem diante do sucesso obtido no basquete nacional?

Seja como for, é preciso escolher um caminho e segui-lo, algo que a seleção feminina vem fazendo após também ficar de fora dos Jogos por causa de uma derrota num jogo bastante ganhável contra Porto Rico no Pré-Olímpico de 2020.

O cenário envolve dívidas persistentes na confederação e dificuldades para obter patrocínios sem desempenhos vencedores.

Há problemas pequenos, médios e grandes aguardando soluções no basquete brasileiro, mas se uma frustração em quadra for tratada como terra arrasada nenhum deles será resolvido.

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