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Descrição de chapéu Tóquio 2020

Protesto de Raven Saunders, negra e LGBTQIA+, é teste para COI em Olimpíadas da saúde mental

Prata no arremesso do peso, americana apelidada de 'Hulk' tem histórico de depressão

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Tóquio

Raven Saunders, 25, talvez não tivesse subido no pódio neste domingo (1º) em Tóquio para receber sua primeira medalha olímpica, uma prata, se sua psicóloga não tivesse visto em tempo uma mensagem no celular há três anos e meio.

Negra e homossexual, a atleta americana de arremesso de peso atravessou o auge de uma crise de saúde mental em janeiro de 2018, quando afirma ter pensando em se matar.

Em cima do pódio, Raven protestou. Hulk –apelido que a acompanha desde a adolescência– ergueu os braços e os cruzou sobre a cabeça em formato de X nas primeiras Olimpíadas em que protestar está permitido, desde que não na hora de receber a medalha.

Na entrevista após a conquista da prata, disse que o gesto significa “o cruzamento onde todas as pessoas oprimidas se encontram".

A manhã de 26 de janeiro de 2018 parecia como outra qualquer. Raven pegou o carro e saiu para suas tarefas de rotina, em Oxford, Mississipi. Ela, no entanto, não parou em nenhum dos locais que deveria visitar. Segundo relatou em entrevistas, era como se estivesse indo ver aqueles lugares pela última vez.

Raven Saunders protesta após receber a medalha de prata no arremesso do peso nos Jogos de Tóquio-2020 - Hannah Mckay/Reuters

Estava pronta para jogar seu carro em um barranco quando decidiu escrever para uma psicóloga de extrema confiança, mas com a qual não falava havia oito meses.

Colocou na cabeça que, se não tivesse resposta até chegar ao próximo ponto de seu itinerário, um supermercado Walmart, ela tentaria o suicídio.

A terapeuta respondeu quase que imediatamente a mensagem que serviu à medalhista olímpica como um puxão de volta para a vida.

Os problemas da atleta começaram em 2017, quando teve diversas lesões e dificuldades para manter a forma física. Na época, ela dividia a vida entre os estudos e as competições, o que a deixava sob pressão ainda maior.

Após o episódio do carro, Raven recebeu o diagnóstico de depressão, ansiedade e síndrome de estresse pós-traumático. Diante desse quadro, decidiu deixar a universidade e quase não competiu em 2018 e 2019.

“Eu senti que estava perdendo a cabeça. Estava a 10 ou 15 minutos de tentar acabar com a minha vida”, contou à revista Time.

Quando largou os estudos, foi recomeçar a vida em San Diego, na Califórnia. Lá, a atleta deu início a uma superdieta e passou a cuidar da saúde mental com ajuda de familiares e técnicos.

“Eu faço muita meditação e coisas desse tipo. Estou perto de pessoas positivas. Com meus amigos mais próximos, pedindo a eles para sempre olharem como estou e tentando ser mais aberta para falar sobre o que estou passando”, disse em janeiro de 2020.

O apelido Hulk vem da época escolar e ficou para sempre. “É uma mistura de foco com raiva e agressividade e poder. E eu sinto que isso tudo é exatamente o que o arremesso do peso é. Quando eu viro o Hulk, ele assume o controle”, afirmou.

Além do protesto, Raven levou ao pódio temas centrais dessas Olimpíadas, como saúde mental e diversidade. Antes de fazer o X com os braços, competiu usando uma máscara de proteção contra Covid-19 que tinha um sorriso do Coringa desenhado. O filme tem a dimensão psicológica do protagonista como crucial para o desenvolvimento da trama.

Depois da prova, a medalhista disse, ainda, que gostaria de dar visibilidade a "pessoas de todo o mundo que estão lutando e não têm plataforma para falar por si mesmas”.

“Um salve para meu povo negro. Um salve para toda a minha comunidade LGBTQ. Um salve para todo o meu povo que lida com saúde mental”, completou.

Antes do início das Olimpíadas, o COI (Comitê Olímpico Internacional) avisou que passaria a permitir protestos dos atletas durante os Jogos de Tóquio, mas não nas cerimônias de pódio.

A atleta realizou o gesto após o protocolo de recebimento das medalhas e execução do hino, quando posava para os fotógrafos.

Por enquanto, oficialmente, a entidade afirmou que eventual sanção teria de ser aplicada pelo comitê dos EUA, que já rejeitou a possibilidade. O COI afirmou nesta segunda-feira (2) que segue em conversas para tomar uma decisão sobre punir ou não a atleta.

A prova que lhe deu a prata foi vencida pela chinesa Gong Lijiao. A neozelandesa Valerie Adams levou o bronze.

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