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Atletas olímpicos colecionam fraturas, cirurgias e até amputação por resultados

'Eu não recomendo isso para todos', diz americano Kyle Dake, da luta

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James Wagner
Cidade do México e Paris | The New York Times

Mariana Pajón é uma das ciclistas de BMX mais vencedoras do mundo, e ela pode rapidamente enumerar alguns dos números de sua carreira: 18 campeonatos mundiais, duas medalhas de ouro olímpicas em corridas (em 2012 e 2016) e uma de prata, em Tóquio, em 2021.

Mas Pajón, uma colombiana, também pode listar as dores de tanto tempo pedalando: 25 fraturas, 12 parafusos, oito cirurgias e inúmeras rupturas de ligamentos e tendões. As próteses em seu braço esquerdo e joelho incluíam tanto metal que ela costumava viajar com seus raios-X. Abrir uma porta ou servir um copo de água dói.

"Minhas articulações são de uma pessoa com mais de 80 anos," disse Pajón com uma risada. Ela tem 32 anos.

Esgrimista Sebastien Patrice, da França, se lesiona em competição - Reuters

Pajón, que compete desde os 4 anos, não estava lamentando suas lesões durante uma conversa recente. Elas são simplesmente um fato da vida para um atleta.

O desgaste naturalmente degrada os corpos humanos, mesmo os mais talentosos. Mas atuar em nível de elite, especialmente em esportes olímpicos de alto impacto como luta livre, rúgbi ou ginástica, inerentemente tem mais riscos. Ombros cedem. Ligamentos se rompem. E, para alguns, parafusos de metal e placas de titânio se tornam apenas mais acessórios na busca vitalícia por ouro, prata e bronze.

Pajón falou sobre "o que você tem que dar, incluindo seu corpo, para alcançar um sonho e conseguir algo para seu país".

"Parece tão fácil e tão rápido —em Paris, é uma volta de 35 segundos," ela disse, "e você passa por tanto, por tantas salas de cirurgia, por tanta dor, mas não é fácil".

Os fãs que assistem a ela e outros atletas competirem nas Olimpíadas de Paris podem não perceber as dores e sofrimentos que eles suportaram para chegar a esse ponto. Eles certamente não verão os desconfortos que persistirão muito além deste verão europeu, às vezes pelo resto da vida desses atletas.

"Muitos olímpicos vão simplesmente empurrar seus corpos até o ponto de ruptura só para ver até onde podem ir," disse Kyle Dake, 33, um americano que ganhou bronze na luta livre estilo livre, categoria 74 kg, em Tóquio e está competindo em Paris.

Ele passou anos, disse, "tentando encontrar os limites do corpo humano."

"Eu encontrei esses limites e agora sei onde ir e aonde não ir," continuou. "Mas é bastante incrível o que todos nós passamos coletivamente para tentar ser os melhores em nosso esporte. Eu não recomendo isso para todos."

Devido à natureza de seus esportes, olímpicos como Pajón e Dake suportaram muito. No BMX, as bicicletas são rígidas, então o corpo absorve grande parte da força dos saltos. Pajón disse que os ciclistas podem atingir mais de 56 km/h.

"Não temos suspensões," ela disse. "Nossas articulações são as suspensões: pulsos, cotovelos, ombros, costas, joelhos, tornozelos. A técnica ajuda a compensar isso. Mas é um esporte que em alto desempenho é saudável, mas também não é saudável."

Na ginástica, as articulações estão sob constante pressão pesada. No boxe, socos atingem o corpo. Na luta livre, corpos são torcidos e jogados no tatame. No rúgbi sete, os jogadores se enfrentam, muitas vezes correndo em alta velocidade. No hóquei sobre a grama, os tacos podem esmagar dedos e levar à amputação.

Nos esportes equestres, quedas dos cavalos castigam os corpos dos cavaleiros. Boyd Martin, 44, dos Estados Unidos, teve 22 cirurgias e 19 ossos quebrados. Ele tem cinco placas, dois parafusos e uma haste de metal.

"Quando eu acordo de manhã, meu corpo está realmente dolorido," disse Andrew Knewstubb, 28, um jogador de rúgbi sete da Nova Zelândia que conquistou uma medalha de prata nos Jogos de Tóquio. Para competir em Paris, ele superou duas rupturas de LCA (ligamento cruzado anterior) e uma infecção no joelho esquerdo. (A Nova Zelândia foi eliminada nas quartas de final neste ano.)

Enquanto estava no refeitório dos atletas na Vila Olímpica em Paris, Knewstubb disse que ficou impressionado ao ver tantos formatos e tamanhos diferentes de corpos, mas também as cicatrizes de lesões e cirurgias.

A carreira de Pajón pode ser uma das mais dramáticas em termos de amplitude de lesões e pura força de vontade (ou teimosia) para continuar.

Há a lesão no braço esquerdo durante um treino em sua cidade natal, Medellín, em 2008, na qual ela sofreu uma fratura exposta grave. O dano incluiu suas artérias e exigiu duas placas.

Há as costelas quebradas e o rim machucado de um acidente em 2012. Ela considera essa lesão a mais perigosa.

Há a lesão no joelho esquerdo de 2018, quando seu LCA explodiu depois que seu pé bateu no asfalto após um salto. As complicações durante essa cirurgia e recuperação foram tão numerosas que ela considerou a aposentadoria.

E há a lesão no cotovelo direito de 2019, quando ela deslocou a articulação e rompeu todos os ligamentos, e piorou porque ela continuou competindo. Ela precisou de três cirurgias no ano passado, a mais recente em dezembro, para competir em Paris.

"Há coisas que eu poderia ter feito de forma muito mais responsável: melhores recuperações ou não forçar meu corpo tão jovem," disse Pajón. "Mas há minha intensidade e minha obsessão por vencer e ser a melhor e treinar —eu também tenho que ter um limite e pensar no futuro. Mas quando você é jovem, você não pensa nisso. Eu dei tudo."

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