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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Olimpíadas foram 'belíssimo negócio' para Paris, diz prefeita

Na contramão de estudos que apontam déficit em megaeventos, Anne Hidalgo exalta sucesso dos Jogos

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Paris

Organizar Jogos Olímpicos costuma ser um mau negócio, do ponto de vista financeiro. Mas para Anne Hidalgo, realizar o megaevento na cidade que ela administra valeu a pena.

"Eu posso dizer a vocês: é um belíssimo negócio", disse a prefeita de Paris à Folha na sexta-feira (9).

Hidalgo calcula em 385 milhões de euros (cerca de R$ 2,3 bilhões) o custo dos Jogos para a capital francesa. Ela aponta ainda outra estimativa: um orçamento de 1 bilhão de euros (R$ 6 bilhões) para o Estado francês e 500 milhões de euros (R$ 3 bilhões) para governos regionais e locais.

Torre Eiffel iluminada durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas - AFP

A conta é bem maior, na verdade, mas a prefeita enxerga outro tipo de benefício com a realização dos Jogos. "O que eles trouxeram a Paris, seriam necessários pelo menos 20 anos de trabalho árduo para juntar todos os esforços, em matéria de acessibilidade, de mobilidade, de luta contra a poluição. E na França é difícil fazer isso em torno de um projeto."

Ela se refere à despoluição do rio Sena, às novas estações de metrô, às ciclovias, áreas verdes, rampas para deficientes e outras obras que ficarão como legado.

Hidalgo ressalvou que ainda será feito o cálculo do custo total, público e privado, dos Jogos de 2024. Saber exatamente quanto custam as Olimpíadas, em todo caso, é complicado, devido à dificuldade em definir se certos custos estão relacionados ao evento ou não.

Um estudo da Universidade de Oxford, publicado pela primeira vez em 2016 e atualizado em maio deste ano com novos dados, mostra que as últimas três edições do evento tiveram um custo combinado de US$ 51 bilhões (R$ 281 bilhões) e, na média, estouraram o orçamento em 185%.

Paris-2024, avaliada com números de 2022, já custa US$ 8,7 bilhões (R$ 47,9 bilhões), com estouro de 115% do orçado.

A análise, assinada por Alexander Budzier e Bent Flyvbjerg, lista quatro conclusões principais: o custo dos Jogos aumenta de maneira estatisticamente significativa; o estouro de orçamento diminui até Pequim-2008, mas desde então aumenta; a conta de Paris e o estouro parisiense podem aumentar; estouro de orçamento é norma olímpica desde sempre.

Questionado nesta sexta se, diante disso, seria mais sensato organizar os Jogos apenas em países ricos, dispostos a bancar o prejuízo —Arábia Saudita e Qatar são candidatos a sede—, Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi direto: "Não estamos dispostos a vender os Jogos Olímpicos a quem der o maior lance". Segundo ele, "vamos atribuir os Jogos à cidade ou país mais promissor".

Em relação aos estouros de orçamento, Bach apontou para a Agenda Olímpica, uma espécie de "mapa do caminho" elaborado pelo COI para orientar os Jogos futuros. Um dos capítulos trata da "resiliência financeira e econômica" do movimento olímpico. Inclui um "grupo de otimização", que mantém contato com todas as cidades-sede.

Paris-2024 é a primeira edição dos Jogos realizada inteiramente a partir do documento lançado em 2015. Além de custos, questões como sustentabilidade, legado e responsabilidade social se tornaram também parâmetros de controle dos Jogos.

Contas de grandes eventos esportivos sugerem uma confusão deliberada. Depende de quem e do que se contabiliza. Os pesquisadores de Oxford, por exemplo, tiram da análise custos de infraestrutura urbana, aeroportos, linhas de trem e metrô, hotelaria etc. É um modo de viabilizar a comparação, porém não imune a controvérsias.

Pequim-2008, no estudo, sempre com cifras atualizadas para 2022, teria consumido US$ 8,2 bilhões (R$ 45,2 bilhões). O número, porém, sobe para mais de US$ 50 bilhões (R$ 275, 5 bilhões) se as inúmeras obras de modernização da capital chinesa realizadas à época forem incluídas.

Algo parecido ocorre com Tóquio-2020, evento adiado em um ano devido à pandemia da Covid-19. O custo declarado dos Jogos foi de US$ 13,7 bilhões (R$ 75,5 bilhões), mas outro estudo publicado neste ano aponta que o comitê organizador japonês excluiu da conta vários itens, inclusive o orçamento despendido pela prefeitura da cidade, equivalente ao que Hidalgo usa agora em sua argumentação.

Com infraestrutura e outros gastos exóticos, como um satélite meteorológico, o valor subiria para US$ 33,4 bilhões (R$ 184 bilhões).

Bem mais do que os US$ 23,6 bilhões (R$ 130 bilhões) da Rio-2016 e os US$ 16,8 bilhões (R$ 92,5 bilhões) de Londres-2012, pelas contas do estudo de Oxford as Olimpíadas de verão mais caras já realizadas. Também bem mais do que o recordista da lista quando incluídos os Jogos de inverno: Sochi-2014, com US$ 28,9 bilhões (R$ 159,2 bilhões), talvez a aventura olímpica mais perdulária da história.

Olimpíadas de inverno, que existem desde 1924, quando a França organizou as duas versões no mesmo ano, são eventos de menor porte, com menos de 3.000 atletas, contra os 10,5 mil da irmã mais velha. O custo dos Jogos por atleta revela o tamanho da brincadeira patrocinada por Vladimir Putin em seu balneário preferido: US$ 10,4 milhões (R$ 57,3 milhões) por participante, contra US$ 2,3 milhões (R$ 12,7 milhões) no Rio. O custo de uma única competição em Sochi foi maior do que o projetado para dez eventos em Paris.

Outra métrica verificada pelos pesquisadores põe luz em um dos piores exemplos olímpicos, Montréal-1976. A cidade simplesmente perdeu o controle dos custos dos Jogos, e a dívida gerada pelo evento levou décadas para ser sanada.

É o maior estouro de orçamento já registrado, 720%. Rio-2016 (352%), Lake Placid-1980 (324%), Sochi-2014 (289%), Lillehammer-1994 (277%) e até Barcelona-1992 (266%), tida como exemplo de sucesso, integram a lista.

Não importa a lente usada, é difícil não concordar com a conclusão principal do estudo de que organizar Jogos Olímpicos é um mau negócio.

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