Como o mascote das Olimpíadas de Paris passou de bizarro a amado

Phyge, que representa um chapéu frígio símbolo da Revolução Francesa, é sucesso de vendas

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Liz Alderman
The New York Times

Alguns acham que é uma mistura entre a Torre Eiffel e uma boina. Outros veem como um desajeitado e vermelho Smurf francês. A maioria das pessoas nem consegue pronunciar seu nome.

É Phryge (pronunciado freej), o mascote oficial das Olimpíadas de Paris. Zombado pelos franceses quando foi revelado, ele se tornou o item mais vendido na cidade —e um símbolo da transformação da percepção da França sobre os Jogos, de um incômodo indesejado para um triunfo incontestável.

Phryges, mascote das Olimpíadas de Paris-2024, no Parque dos Campeões - Stephanie Lecocq/Reuters

Na megaloja olímpica na Champs-Élysées, 15 mil compradores ficam em uma fila de quase cinco quarteirões todos os dias para pegar Phryge em suas muitas variações (posando como a Mona Lisa, correndo com a tocha olímpica..) e comprar milhões de euros em mercadorias oficiais das Olimpíadas.

"J'adore!", disse Jenny Prudhomme, natural do sul da França, que trabalha como voluntária nos Jogos. Ela saiu da loja em uma tarde recente com uma sacola vermelha com o mascote de olhos esbugalhados, que é inspirado no chapéu frígio, um símbolo da Revolução Francesa. "Ele representa a França, mas mais do que isso, é uma lembrança dos Jogos Olímpicos, que nos encheram de orgulho", disse ela.

Com apenas alguns dias restantes até o encerramento das Olimpíadas, o orgulho francês transbordou com um surto de entusiasmo inesperado que tomou conta de Paris assim que a pira olímpica foi acesa. Uma enxurrada anterior de resmungos deu lugar a uma onda de excitação à medida que quase 1 milhão de turistas desceram na primeira semana, e a França conquistou um número recorde de medalhas em eventos lotados, muitos dos quais incluíam o mascote energizando a multidão.

Quando seu design foi revelado no ano passado, Phryge foi recebido com indiferença beirando o ridículo na França. Assemelhando-se a um tufo de algodão-doce com pernas azuis finas —ou, como os franceses amplamente o descreveram, uma parte íntima da anatomia feminina— o mascote foi chamado de "incompreensível" em uma pesquisa nacional.

Como mascote ao vivo, Phryge chama os fãs ansiosos por selfies, animado por dançarinos treinados e estudantes em uma fantasia inflável que é instável o suficiente para exigir acompanhantes. A saudação de Phryge, transmitida para quase 1 bilhão de lares em todo o mundo assistindo às Olimpíadas, solidificou sua fama.

Se as vendas são um indicador de popularidade, Phryge não é mais o azarão da França. "Muitas pessoas não sabem exatamente o que é", disse Edouard Bardon, diretor de licenciamento e varejo dos Jogos de Paris. "O que elas sabem é que é um símbolo olímpico, e estão comprando produtos Phryge para seus parentes ou para si mesmas para mostrar que estiveram nos Jogos."

Souvenirs estampados com o mascote são os mais vendidos nas 140 boutiques oficiais das Olimpíadas montadas em toda a França e na loja online oficial, disse Bardon. Os organizadores esperam que as vendas globais de produtos licenciados alcancem 2 bilhões de euros. O comitê organizador dos Jogos arrecadará 130 milhões de euros em direitos de licenciamento, que serão usados para financiar o custo de aproximadamente 9 bilhões de euros de realização dos Jogos.

Os produtos não estão isentos de controvérsias. Um escândalo eclodiu no ano passado quando vazou a notícia de que grande parte do material olímpico —e uma boa parte dos bichos de pelúcia— Phryge foram feitos na China.

Mascote Phryge é sucesso de venda nas lojas oficiais dos Jogos Olímpicos de Paris-2024
Mascote Phryge é sucesso de venda nas lojas oficiais dos Jogos Olímpicos de Paris-2024 - Kirill Kudryavtsev/AFP

Um porta-voz do governo francês disse que a França "não tinha matéria-prima e fábricas têxteis suficientes para fabricar 2 milhões de mascotes em poucos meses". Para acalmar os ânimos, um fabricante de brinquedos francês, Doudou et Compagnie, foi instado a aumentar a produção de itens Phryge em sua fábrica na Bretanha.

A controvérsia não diminuiu as vendas na megaloja na Champs-Élysées, onde as filas às vezes se estendem por cerca de meio quilômetro até a Place de la Concorde, local das competições de skate e breaking. As filas são ocupadas por visitantes dispostos a esperar no calor escaldante para comprar um chaveiro, camiseta ou dispensador de Pez do Phryge.

"Estou ficando emocionado com o espírito olímpico", disse Pahno Georgeton, que viajou para os Jogos de Houston com um amigo. "É louco, estamos à beira da Terceira Guerra Mundial, e ainda assim todos aqui só querem estar juntos e celebrar."

Dentro da megaloja, os fãs navegam por um salão enorme dividido em zonas com 10 mil tipos de produtos. Um local popular é o balcão de pins olímpicos, onde o best-seller improvável é um pin de um pombo parisiense. Há também um do símbolo dos Jogos Paralímpicos: um Phryge com uma prótese de lâmina de corrida. Os pins geralmente estão esgotados na hora do almoço.

Também estão em alta os pôsteres oficiais dos Jogos, mostrando Paris como um desenho colorido dos principais locais históricos transformados em arenas, incluindo a Torre Eiffel, onde o vôlei de praia é jogado, e o Grand Palais, que hospeda judô e esgrima. Um quebra-cabeça de 1.000 peças que entrelaça os pôsteres se esgotou rapidamente.

Lucia Fernandez havia viajado da Argentina com seu pai, Raul, e seu irmão, Maximo, para passar duas semanas nos Jogos. Ela saiu da loja com uma sacola gigante cheia de grandes bonecos fofos de Phryge para adicionar à sua coleção de mascotes olímpicos, incluindo um dos Jogos do Rio de 2016, que parecia ser uma mistura entre um sapo e a floresta Amazônica.

"Eu não sabia o que era realmente", disse ela sobre o mascote do Rio. "Tipo isso", acrescentou, levantando um boneco de Phryge. "É como essa coisa não identificável. Mas fiz uma promessa a mim mesma de que compraria."

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