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Descrição de chapéu Oscar 2019

Com 'Nasce uma Estrela', Lady Gaga se faz de humilde para se manter relevante

Ambição da cantora só esbarra no egocentrismo de Bradley Cooper, diretor e par romântico

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Toronto

Desde que despontou, dez anos atrás, Lady Gaga povoou suas letras com paparazzi psicóticos e uma vida de Cadillacs e garrafas de champanhe. Fazendo troça do mundo da fama, desfilou com vestidos de carne crua e fez performances autorreferentes em que estrelas pop brotam de ovos gigantes e sangram até a morte para saciar seus fãs.

Não é estranho, portanto, que ela seja escalada para protagonizar aquele que parece ser o drama favorito de Hollywood sobre o mundo do entretenimento. “Nasce uma Estrela”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta (11), é a quarta versão da mesma história que já teve Barbra Streisand, Judy Garland e Janet Gaynor vivendo uma artista ascendente que se enamora de outro, decadente.

Quando saíram as primeiras notícias sobre esse terceiro remake, especulava-se que Gaga usaria seu nome de batismo, Stefani Germanotta, nos créditos. Ela foi às redes sociais desmentir, mas a boataria até fazia algum sentido.

Desde que lançou seu disco “Joanne”, no ano retrasado, a cantora de 32 anos vinha descendo do salto, literalmente, e apresentando letras mais pé no chão e um som menos estrambólico. O documentário “Five Foot Two”, da Netflix, é o registro um tanto chapa-branca dessa guinada.

De cara lavada em “Nasce uma Estrela”, a cantora faz mais um gesto calculadíssimo para se manter relevante em meio a um panteão de divas pop cada vez mais medíocre —vide Taylor Swift, Ariana Grande e afins. A performance pode ainda lhe render uma indicação ao Oscar.

A ambição de Gaga só esbarra no egocentrismo de Bradley Cooper que, além de dirigir e roteirizar, é também o protagonista masculino da trama, o roqueiro alcoólatra Jack.

Isso não significa que a cantora não se destaque no filme, mas entre todas as quatro versões dessa história, a que chega agora às salas é a que mais dá relevo à figura dele em detrimento da dela. Com suas expressões filmadas à exaustão, é como se Cooper assumisse o posto de diretor apenas para alavancar sua própria indicação como ator no Oscar.

O novo “Nasce uma Estrela” é ancorado na perspectiva masculina. É ele quem, após um show, acaba caindo por acaso num bar de drag queens onde a garçonete Ally (Gaga) dá suas palhinhas. Impressionado com o talento da moça, Jack a incentiva e a alça à fama, enquanto ele mesmo sucumbe ao álcool e ao ostracismo.

“A fama não é algo natural”, disse a cantora, tateando uma explicação para a prevalência do vício entre os famosos. “Acho que é importante guiar e dar apoio psicológico a artistas que estão começando enquanto eles ascendem, porque tudo muda”, afirmou em setembro, em sua passagem pelo no último Festival de Toronto, onde o longa estreou sob aclamação quase unânime da crítica.

Gaga foi quem incentivou Cooper a cantar as músicas de seu personagem no filme. Os dois subiram juntos aos palcos de festivais como o Coachella, na Califórnia, e o de Glastonbury, na Inglaterra, para rodar cenas do filme.

Na cidade canadense, a cantora se fez de humilde. “Sou apenas uma ítalo-americana de Nova York que sonhou em atuar e, como não deu certo, seguiu para a música”, disse, deixando de citar que trabalhou como atriz em uma das temporadas da série “American Horror Story”.

Naquele programa de TV, vive uma condessa fashionista com hábitos vampirescos que não é muito diferente de sua persona empetecada dos palcos —o oposto da suburbana simplória que vive em “Nasce uma Estrela”, que se acha feia por ser nariguda e se veste sem brilho algum.

O visual de cara limpa é só mais um dentro do arsenal de uma cantora pop que, tal qual Madonna, sabe que precisa ser camaleônica para reciclar públicos. Nisso ela tem know-how, que o diga sua metamorfose na Vênus de Botticelli e na Marilyn Monroe de Andy Warhol do videoclipe de “Applause”, em que entoa sua tara pelo holofote: “Eu vivo para o aplauso/ aplauso, aplauso/ para o jeito como você torce e grita por mim”.

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