Murilo Benício surpreende na direção do longa 'O Beijo no Asfalto'
Ator estreia como diretor em adaptação cinematográfica de peça escrita por Nelson Rodrigues
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Apesar da riqueza de linguagem alcançada por boa parte do cinema e do teatro feitos no Brasil, essas duas expressões pouco dialogam entre si.
Entre os filmes recentes que recorreram aos recursos cênicos está "Moscou" (2009), em que o diretor Eduardo Coutinho acompanhou ensaios de uma peça de Tchékhov.
Coutinho se valia da ficção para repensar o registro documental. No novo "O Beijo no Asfalto", Murilo Benício toma um caminho inverso. Lança mão da realidade (ou do que supomos que seja a realidade) para reelaborar o texto clássico de Nelson Rodrigues. Ator que faz sua estreia na direção de um longa, Benício não alcança a inventividade de Coutinho —e nem seria justo esperar isso dele. Mas seu filme é uma bela surpresa.
"Beijo" começa no palco de um teatro. Ao redor de uma mesa, atores discutem a tragédia carioca de Nelson e interpretam trechos da peça. Sem sobressaltos, os bastidores se abrem para a trama.
O cinema europeu tem explorado recursos semelhantes há décadas. O intuito é, grosso modo, quebrar a mágica da ilusão. Benício não criou algo novo, mas soube fazer bom uso do artifício.
"O Beijo no Asfalto" foi escrita por Nelson em 1960 a pedido de Fernanda Montenegro, que está no novo filme. A peça foi montada pelo Teatro dos Sete, grupo do qual a atriz fazia parte.
É, portanto, um texto teatral por excelência, o que ajuda a explicar as opções do diretor.
Arandir (Lázaro Ramos) vê um atropelamento e tenta socorrer a vítima. Prestes a morrer, o homem pede um beijo, desejo atendido por Arandir.
O episódio é testemunhado por Amado Ribeiro (Otavio Müller), um repórter louco por um estardalhaço.
O moralismo corre solto, e as maledicências chegam aos ouvidos de Selminha (Débora Falabella) por meio da vizinha, dona Matilde (Fernanda Montenegro).
Na pele da personagem deliciosamente cínica ou como comentarista da obra de Nelson, a presença de Fernanda é, mais uma vez, luminosa.
Outro trunfo do elenco é Müller, talvez na sua melhor interpretação no cinema.
Benício também acertou ao convidar Walter Carvalho para a direção de fotografia. É o preto-e-branco a serviço de um noir suburbano.
Se, a rigor, não há invenção, Benício tampouco se acomodou em fórmulas. E soube se cercar de boas companhias. Seu "Beijo" merece respeito.
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