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Cinema

'Meu Querido Filho' aborda dilaceramento da família e conflito na Síria

Mohamed Ben Attia, de 'A Amante', volta aos assuntos familiares para tratar de filho protegido

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Alexandre Agabiti Fernandez

Meu Querido Filho (Weldi)

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (3)
  • Classificação: 12 anos
  • Elenco: Mohamed Dhrif, Zakaria Ben Ayyed, Mouna Mejri
  • Produção: Tunísia/ Bélgica/ França, 2018
  • Direção: Mohamed Ben Attia

Depois de estrear na direção com o certeiro “A Amante”, o tunisiano Mohamed Ben Attia se consolida como agudo observador da sociedade do seu país. Novamente o tema central é o poder da família e a busca de emancipação.

Filho único de um casal de classe média, Sami (Zakaria Ben Ayyed) tem 19 anos e está se preparando para as provas de acesso à universidade. Mas começa a sofrer sucessivos acessos de violentas dores de cabeça que o impedem de se concentrar nos estudos.

Os pais o levam ao psiquiatra, mas a origem do mal permanece obscura, talvez relacionada a uma depressão ou à ansiedade em torno das provas.

O rapaz se mostra melancólico e taciturno, enquanto aos poucos a narrativa vai trazendo novos elementos a esta crônica familiar. 

O pai, Riadh (Mohamed Dhrif), trabalha como operador de guindastes no porto de Túnis e está prestes a se aposentar. Nazli (Mouna Mejri), a mãe, é professora de árabe e dá aulas em outra cidade, o que a obriga a passar alguns dias da semana longe de casa.

A maior preocupação do casal é com o futuro do filho, para o qual estão prontos a fazer qualquer sacrifício. Ao mesmo tempo, o casamento passa por um desgaste: Riadh desabafa com uma colega de trabalho, Nazli parece ter menos interesse na relação do que no passado. 

O filho é a razão de viver do casal, que o cobre de cuidados e mimos e tem pouquíssima vida social.
O filme privilegia o ponto de vista do pai, mostrando seu amor devotado pelo filho. Para Riadh, uma faculdade, um bom emprego, casamento e filhos seria o percurso ideal para o rapaz. 

Sami não se manifesta em relação a isso, parece não se reconhecer nesse futuro idealizado pelo pai.
Quando as dores de cabeça pareciam superadas, Sami desaparece. Os pais entram em desespero e demoram um pouco a perceber que o rapaz foi lutar na Síria. 

Essa circunstância tem contornos de problema social na Tunísia, pois o país é o maior provedor de combatentes ao Estado Islâmico. Sem uma pista sequer, o pai resolve ir à Síria buscar o rapaz. A mãe é contra essa viagem cheia de riscos, pois teme perdê-lo também.

Como em “A Amante”, Ben Attia acompanha os personagens bem de perto, sublinhando visualmente o sufocamento do filho pelos pais, no entanto protetores e bem-intencionados. 

A escuridão das cenas que transcorrem no apartamento da família é uma metáfora que aponta para a falta de visão dos pais. As dores de cabeça, que podem ser mera encenação, funcionam como indicadores do mal-estar existencial do rapaz.

Ao descrever de modo naturalista o cotidiano banal dessa família comum, com belos planos-sequências e elipses, a narrativa valoriza os pequenos gestos, diálogos aparentemente insignificantes, e evita a facilidade da identificação pelo sentimentalismo.

Ao mesmo tempo, Ben Attia não está preocupado com as motivações que levam alguém a aderir ao islamismo radical, mas em mostrar como uma família se dilacera sem perceber a catástrofe se aproximar e o vazio que provoca.
 

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