Siga a folha

Descrição de chapéu Moda

SPFW se apoia em novos nomes enquanto vê marcas debandarem

Semana paulista de moda enfrenta concorrência de outros estados

Montagem com croquis de Reinaldo Lourenço, lenny, Flavia Aranha e Ronaldo Fraga para a SPFW47 - Divulgação

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

“A moda brasileira quer trocar o oba-oba por negócios. Menos hype, mais dinheiro.” Assim este jornal iniciou reportagem que anunciava uma reorganização na forma de o país lançar suas coleções relevantes. Em janeiro de 2001, o Morumbi Fashion passou a se chamar São Paulo Fashion Week.

Ali, grifes gestadas em pequenos eventos como o Mercado Mundo Mix e a Casa de Criadores se juntaram a medalhões de vendas, como Forum, Ellus e Zoomp.

Quase 20 anos depois, o modelo ruiu e, em sua 47ª edição, a SPFW se resume a mais hype e bem menos dinheiro.

Das 36 marcas que desfilam, apenas quatro, Bobstore, Lenny Niemeyer, PatBo e Cavalera, que volta ao evento após quatro anos fora da programação, têm mais de cinco lojas. A maioria, desconhecida, tem um só ponto físico, e algumas, só online, novo hype do varejo.

Apenas cinco marcas estão desde os primórdios do evento, como Ronaldo Fraga e Reinaldo Lourenço —este último inicia a temporada na noite desta segunda (22) no Farol Santander, no centro.

É que, somado a esse viés de ateliê das grifes, parte do calendário de cinco anos atrás resolveu voltar de vez aos anos 1990 e fazer desfiles independentes, fora da SPFW, fragmentando a temporada brasileira.

Alexandre Herchcovitch foi ao Centro Cultural São Paulo, em março, apresentar uma coleção para a grife À La Garçonne. Já a Animale fez um megadesfile no Rio de Janeiro, no início do mês. O grupo AMC, da Colcci e da Forum, por sua vez, chamou imprensa e compradores para seus desfiles no Rio Grande do Sul, onde está instalado.

Uma das grifes com maior poder de fogo da antiga programação, a carioca Osklen já avisou que focará projetos solo, e a cearense Água de Coco, que seria um dos destaques desta temporada, concentrada em coleções de verão, organiza um desfile para agosto.

Esse cenário de cada um por si é uma jabuticaba. No exterior, o êxodo de grifes é comum, mas sempre entre as semanas de moda do circuito europeu. Marcas pulam entre Londres, Milão e Paris de olho em novos mercados e fashionistas, mas sempre em torno desse eixo, para aquecer a indústria local.

“É um processo. As marcas maiores, todas elas, estão buscando um caminho. Há sempre aquelas que se afastam, é natural”, diz o diretor artístico e fundador do evento, Paulo Borges. Nunca tantas, porém.

“Cada um lançar quando quiser? Isso é muito ruim para a moda brasileira, não acontece em nenhum lugar do mundo. Está tudo ficando vago demais. Hoje, tudo é plural, cada um faz o que tem vontade, mas ter alguma regra é preciso”, diz Reinaldo Lourenço.

Nesta segunda, ele levará à passarela uma coleção com referências de praia, especialmente a de Miami, nos Estados Unidos, onde pescou as cores do pôr do sol, as linhas art déco das construções às margens da Ocean Drive e o visual despojado dos transeuntes. “Há muita roupa no mundo. Atualmente, precisamos seduzir as pessoas mais com experiência do que com produto.” 

Mas não é só excesso de roupas que explica a debandada das marcas ricas.

A estratégia das etiquetas daqui tem objetivos ocultos. O primeiro é controlar a data de lançamento sem o troca-troca de datas do evento. Depois, querem chamar mais clientes e compradores —por isso, as apresentações acontecem em período de convenção para lojista. Por último, controlar a imprensa convidada com o objetivo de não se expor a eventuais críticas negativas.

“Se você se afasta [da SPFW], prejudica todo o mercado. Quando saí, foi porque existia um protecionismo com outras marcas que não me agradava. Havia um sentimento de que não fazíamos falta ali”, diz o empresário Alberto Hiar, dono da Cavalera. A grife encerra o evento, no sábado (27).

O estalo para voltar aconteceu depois de ele diminuir quase 30% da marca para se adequar ao mercado, sanar dívidas e querer retomar o lugar que, diz ele, Nike, Puma, Adidas e outras marcas de “streetwear” estão lhe tomando.

“Sempre olhamos para o estilo da rua, para as turmas do skate e da música. Acho que agora temos muito o que mostrar na passarela outra vez”, afirma o empresário. Ele diz que incluirá no desfile os músicos Edi Rock e Ice Blue, do grupo de rap Racionais MCs, para criar o que chama de protesto musical.

A música, aliás, circunda os projetos que se desenham no horizonte para os próximos anos nos eventos de moda. 

Assim que foi comprada pela IMM Participações, há cerca de um ano, a São Paulo Fashion Week tinha como meta virar uma espécie de festival —um formato que já foi testado em edições anteriores. A programação paralela, que inclui shows, exposições e palestras, está mantida e deve acontecer uma vez por ano.

Eventos como Dragão Fashion, em Fortaleza, e Minas Trend, em Belo Horizonte, já se antecipam aos novos tempos e incluem performances musicais na programação. Neste mês, Zélia Duncan, Elba Ramalho e Jota Quest fizeram shows no evento mineiro após desfiles como os da Skazi e Raquel de Queiroz.

O projeto da Federação das Indústrias de Minas Gerais, que organiza o Minas Trend, é expandir ainda mais a agenda, conectando roupas e sons, e em breve abrir a agenda para um público pagante.

“Hoje o Minas Trend é o evento que tem mais potencial para se tornar uma referência internacional em negócios de moda”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Fernando Pimentel.

De graça, mas com a mesma estrutura, o Dragão cearense fará 20 anos nesta edição, em maio, abrindo as portas na praia de Iracema.

Esse é o retrato da fragmentação da moda nacional, fruto da imensidão territorial e de disputas antigas, porém velada, pelo título de maior ou mais autoral semana de desfiles. Mas Paulo Borges não vê ameaça à SPFW.

“O Brasil é um país continental com demandas localizadas. Existem protagonismos diferentes em tempos diferentes. Não envelhecemos, tanto que trazemos nomes novos. O Brasil já nasceu espalhado. Ponto.”

Erramos: o texto foi alterado

Uma versão anterior deste texto informava que três marcas que desfilam na SPFW possuem mais de cinco lojas no país, mas o correto são quatro marcas.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas