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Descrição de chapéu Cinema

Sucesso argentino 'O Anjo' traz serial killer que tenta seduzir espectador

Longa mistura Xavier Dolan e Martin Scorsese em história sobre matador que assolou Buenos Aires

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São Paulo

Nos anos 1970, Buenos Aires foi atormentada por um assassino que matou 11 pessoas, brindou com uísque sobre um dos cadáveres e até disparou contra um bebê. A surpresa veio quando o sujeito foi capturado. Era um efebo de 20 anos, cabelos loiros cacheados e algum ar insolente. Ganhou da imprensa o apelido de O Anjo da Morte. 

O cineasta Luis Ortega viu aí material farto para embasar “O Anjo”, filme que manipula o espectador até fazê-lo ser seduzido por um facínora. A obra, entre o gangsterismo de Martin Scorsese e o maneirismo queer de Xavier Dolan, acabou se tornando o longa argentino mais visto do ano passado no país vizinho e estreia nesta semana no Brasil.

Para interpretar Carlitos, adolescente inspirado no serial killer Carlos Robledo Puch, o diretor escalou Lorenzo Ferro, então com 18 anos e sem experiência alguma em atuação. O retrato que faz do personagem é o de um sociopata rebelde e hipnótico, quase como um Charles Manson, só que com o sotaque portenho. 

“Vejo ele como um rockstar entediado com a sua vida de classe média”, diz o ator, por telefone. “Mas também como um garoto que parece saído de uma propaganda de xampu.”  

O diretor carrega o filme de energia homoerótica. O ingresso de Carlitos no submundo do crime se dá por algum tédio, mas, sobretudo, por um fascínio que nutre em relação a Ramón (Chino Darín), rapaz um pouco mais velho e com certo pendor à delinquência.

Juntos, os dois começam a furtar pequenas lojas de bairro. Para Carlitos, a transgressão em si vale muito mais do que o mero enriquecimento. Não tarda para ele tomar gosto por tirar a vida, sem qualquer remorso, de suas vítimas. 

“É difícil pedir ao público que crie empatia com assassinos, então precisei reforçar um lado do personagem que é a sua busca por liberdade. Ele não estava atado às regras, não era um conformado, como muita gente da minha geração”, afirma Ferro, hoje com 20 anos e se lançando na carreira de rapper em seu país.

Carlitos engrossa a lista dos protagonistas delinquentes do cinema argentino, praticamente uma excelência local, e se soma ao casal de ladrões gays de “Plata Quemada” (2000) e à família de sequestradores de “O Clã” (2015). 

Nesse quesito, o filme de Luis Ortega, que estreou com algum barulho no Festival de Cannes do ano passado, esbarra na glamorização do crime. 

Prova disso é como o diretor recria os homicídios reais, mas evita fazer o mesmo com os estupros de que o verdadeiro matador também foi acusado. Temor, talvez, de que o tabu sexual minasse qualquer conexão com o personagem. 

“Para toda a poesia existe a polícia da poesia, que é a das pessoas que julgam que não devemos fazer filmes assim”, diz Ferro, sobre os que criticam a abordagem de “O Anjo”. “Não acho que é bem assim.”

Seja como for, o lançamento estrondoso do longa na Argentina resvalou até mesmo atrás das grades.

Hoje aos 67 anos, 40 deles no cárcere, o verdadeiro Carlos Robledo escreveu uma carta a Ortega. Disse estar irritado com o filme.

Queria, em vez disso, que Quentin Tarantino fizesse o filme de sua vida. Com Leonardo DiCaprio de protagonista.

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