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Em Cannes, Kleber Mendonça diz que país vive desmoronamento da cultura

Apesar de discurso crítico, diretor não fez protesto político como em 2016

Os diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles no Festival de Cannes - Loic Venance/AFP

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Cannes (França) e São Paulo

Após terem chorado no fim da sessão de “Bacurau” durante o Festival de Cannes, nesta quarta (15), os diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles afirmaram que a emoção foi provocada por exibirem o longa enquanto as artes no Brasil sofrem um “desmoronamento”.

“Foi incrível mostrar esse filme num momento em que estão tentando esconder a cultura”, afirmou Kleber em conversa com os jornalistas no dia seguinte à estreia.

Ele ainda mencionou os protestos em várias cidades brasileiras contra o congelamento de gastos na educação, que aconteceram de forma concomitante à projeção do longa em Cannes. “Apoiamos de forma integral”, disse. “É importante numa democracia expressar a infelicidade.”

“Não podemos perder de vista o que educação significa. É o que significa resistência dentro de um sistema estranho no qual não se acredita.”

Ao seu lado, Dornelles completou. “Tanto nós aqui em Cannes quanto eles lá no Brasil estamos fazendo a nossa parte para que não destruam o que foi conquistado.”

O longa produzido pela dupla, “Bacurau” colheu críticas que foram majoritariamente elogiosas entre a imprensa. É uma distopia que imagina um Brasil num futuro próximo tomado por uma escalada de violência e por uma cisão muito evidente entre norte e sul.

O título do filme dá nome à cidade onde o enredo se passa, um lugarejo no meio do sertão, na região oeste de Pernambuco, assolado por invasões estrangeiros comandados por um alemão vivido por Udo Kier e apoiados por dois sudestinos entreguistas.

A resposta que se segue aos assédios dos invasores é um banho de sangue que tem referência nos filmes de faroeste e faz ode ao cangaço, personificado na figura do transgênero Lunga (Silvero Pereira) e tratado na trama como um manifesto cultural contra o imperialismo estrangeiro.

Sobretudo entre os jornalistas estrangeiros, houve curiosidade se a história era uma resposta à ascensão de Bolsonaro e ao apoio a políticas de armamento da população. Os diretores responderam que a história vinha sendo escrita bem antes, em 2009. “Mas de repente a realidade alcançou o roteiro”, disse Kleber.

Entre os detalhes mais evidentes que citam os últimos acontecimentos políticos no filme estão no fato de que os cineastas deram os nomes de Marielle e de Marisa Letícia a algumas das personagens.

Essa é a segunda vez que Kleber compete pela Palma de Ouro. A primeira vez, em 2016, foi com “Aquarius”, que ficou conhecido por ter sido exibido após um protesto anti-impeachment encampado pela equipe do filme no tapete vermelho.

“Seguramos cartazes para fazer um alerta”, disse Dornelles, que foi diretor de arte daquele filme e participou do ato. “Dessa vez fizemos um filme que diz muita coisa sobre o nosso país.”

Kleber ainda respondeu sobre o processo que sua produtora responde no país, relativo ao financiamento de “O Som ao Redor” (2012). O Ministério da Cidadania, que substituiu o Ministério da Cultura, cobra que sejam devolvidos R$ 2,2 milhões porque acusa o diretor de ter feito uso irregular de um edital de baixo orçamento.

“É algo sem precedentes no cinema brasileiro”, comentou o cineasta. “Estamos lidando com essa situação. Esperamos reverter isso porque essa acusação não faz sentido.”

O alemão Kier brincou que nunca havia pisado no Brasil antes de fazer o filme. “Imaginava que fosse encontrar só gente bonita, bebidas, Carnaval, mas em vez disso me botaram num carro e me levaram numa longa viagem.”

O jornalista se hospeda a convite do Festival de Cannes

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