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Leïla Slimani busca ser atemporal em romance sobre mulher viciada em sexo

Obra de estreia da autora do best-seller 'Canção de Ninar' evoca 'Madame Bovary' com visceralidade

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São Paulo

Adèle é uma bem-sucedida jornalista que vive em Paris com o marido, um requisitado cirurgião, e com o filho pequeno. Este é o aspecto público da vida da protagonista de “No Jardim do Ogro”, romance da franco-marroquina Leïla Slimani

Mas, no âmbito privado, Adèle tem uma vida secreta. A personagem sofre com um desejo constante e inadiável por sexo. Ela tem encontros com homens desconhecidos nos quais se permite ser objeto sexual em relações viscerais e até mesmo violentas.

“No Jardim do Ogro”, primeiro romance da escritora de 37 anos, traz a característica que a tornou best-seller e vencedora do Goncourt, principal prêmio literário da França: uma protagonista feminina que habita zonas cinzentas do comportamento humano e nem sempre age de acordo com os princípios do feminismo.

A escritora franco-marroquina Leïla Slimani, que tem seu primeiro livro, ‘No Jardim do Ogro’, lançado agora no Brasil  - Lionel Bonaventure/AFP

“Quando escrevo, não o faço como esposa, mulher ou feminista. Eu escrevo como uma escritora”, diz a autora em entrevista a este repórter. Slimani também atua como emissária francófona apontada pelo presidente Emmanuel Macron e defensora dos direitos das mulheres e dos gays do Marrocos, seu país de origem.

“Tento estar completamente livre de todas as identidades. Não julgo minha personagem. Só tento contar sua história e não me importo de verdade com o resto.”

Assim como o seu premiado segundo livro “Canção de Ninar” —centrado em uma babá que assassina as crianças cujos cuidados lhe foram incumbidos—, a ideia de “No Jardim do Ogro” surgiu do noticiário.

Slimani era jornalista quando há oito anos Dominique Strauss-Kahn, então diretor do Fundo Monetário Internacional, protagonizou um escândalo ao ser acusado de estupro. Ele era tratado como “viciado em sexo” pela imprensa francesa.

“Eu me perguntei: ‘O que é essa patologia?’. É possível ser viciado em sexo assim como se é em álcool e drogas?”, pergunta. “Decidi entrevistar psiquiatras e pessoas que sofrem disso. Descobri um 
tema muito interessante.”

Adèle perdeu a habilidade de dizer não ao seus impulsos sexuais e se culpa por isso. Em uma cena, ela pune a si mesma se arranhando “do ânus até o clitóris” enquanto espera pela chegada de mais um homem com o qual irá trair o seu marido.

A escritora conta que a personagem está “completamente perdida, não sabe quem é e o que quer” e é incapaz de sentir algo até mesmo pelo filho. Adèle não tem paciência com o menino e não se sente confortável na posição de responsável pela criança.

“Ao mesmo tempo em que alguém nasce, alguém morre  —e essa pessoa é a antiga você”, analisa a autora. “Você está em luto pela mulher que você era antes e nunca será de novo. Você nunca mais será aquela mulher sem preocupações, que se sente livre para fazer o que bem quiser e decidir algo com espontaneidade.”

Slimani explica que a protagonista é atemporal e tem semelhanças com mulheres da ficção que ela diz amar, como a personagem-título vivida por Catherine Deneuve no filme “A Bela da Tarde” (1967), de Luis Buñuel, e no clássico literário “Madame Bovary” (1856), de Gustave Flaubert. 

Ambas têm aventuras sexuais extraconjugais em um processo de autodescobertas. “Adèle poderia viver no século 19, poderia viver nos anos 1950”, diz. Os impulsos da personagem complicam sua vida ainda mais quando seu marido sofre um acidente de scooter e ela precisa ficar em casa para cuidar dele.

Embora saiba os ideais que defende, Slimani afirma não ter intenções políticas com sua obra. “Sou apenas uma romancista e a literatura não é lugar para ideologia”, teoriza.

“Não acredito em escrever um romance para transmitir mensagens e provar algo. A literatura não precisa disso, ela é muito mais forte que isso. O que importa é o personagem, não o romancista.”

No Jardim do Ogro Autora: . Tradução: . Editora: .

Avaliação:
  • Preço: R$ 46,90 (versão física), $ 29,90 (e-book) (192 págs.)
  • Autoria: Leïla Slimani
  • Editora: Tusquets
  • Tradução: Gisela Bergonzoni

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