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Livro coreano não é exatamente novo, mas tem méritos próprios

História de assassinato 'O Bom Filho' tem protagonista desmemoriado e menção a 'Cidade de Deus'

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O Bom Fillho

Avaliação: Bom
  • Preço: R$ 49,90 (288 págs.)
  • Autoria: You-jeong Jeong (Tradução Jae Hyung Woo)
  • Editora: Todavia

Não pode ser ruim um livro que começa deste jeito: “O cheiro de sangue me acordou. Era um cheiro incrivelmente intenso, como se eu não o absorvesse apenas pelo nariz, mas pelo corpo inteiro”.
E, de fato, “O Bom Fillho”, da sul-coreana You-Jeong Jeong, não é nada ruim. Não deixa a narrativa se arrastar até a última de suas 288 páginas.

O protagonista e narrador é Yu-jin, cerca de 25 anos, ex-nadador que largou o esporte por causa de distúrbios neurológicos, que provocam violentas convulsões.

É Yu-jin que acorda sentindo o cheiro de sangue. Que não se lembra direito do que aconteceu nas últimas horas —ou dias? Recorda-se de ter saído para correr de madrugada, escondido da mãe. E não muito mais que isso.

Levanta, vasculha o apartamento dúplex onde mora com um irmão (que está fora) e a mãe. Encontra manchas e poças de sangue. Acha também o cadáver da mãe, igualmente ensanguentado. Quem fez aquilo?

Não há nada de exatamente novo em “O Bom Filho”. Muitos outros romances já exploraram esses temas —o suspeito de assassinato que não se lembra do que fez; alucinações que se misturam à realidade; segredos de família; relações tensas entre mãe e filho.

A escritora You-Jeong Jeong - Divulgação

Mas isso não faz de “O Bom Filho” uma obra derivativa. Fica em pé por méritos próprios. Retrata uma Coreia diferente —não a feérica capital, Seul, mas as pequenas cidades modorrentas, onde uma das poucas maneiras de quebrar o tédio é ir ao cinema. E ver “Cidade de Deus”, que fascina Yu-jin e seu irmão.

Um único escorregão de estilo acontece nas anotações de um diário pessoal, cruciais para a trama. Esse diário não é de Yu-jin, mas de alguém muito diferente dele. Ainda assim, são praticamente iguais as vozes literárias de Yu-jin, o narrador, e da pessoa que escreveu o diário.

A tradução, de Jae Hyung Woo, tem o grande mérito de ser direta do coreano, e o pequeno demérito de carregar vários anglicismos. O uso de uma expressão como “deixar saber” —no lugar de “dizer”, “contar”— sugere que uma tradução inglesa também tenha sido usada (“to let know” é muito comum em inglês).

Outro exemplo: em referência à névoa marítima, onipresente na história, a tradução diz que “um sudário branco” cobria o oceano. “Shroud”, em inglês, é sudário (como no “Holy Shroud”, o Santo Sudário) mas é também o mais simples “manto”. Que talvez seja o que diz o original corerano, já que “sudário”, numa história tão pop, soa fora de lugar.

Surgem uns poucos erros de revisão. Diz-se, duas vezes, que Yu-jin perdeu uma prova de natação por “45 décimos” (o correto seria “45 centésimos”, já que décimos só vão até dez). Há também um “mandato” de busca (em vez de mandado).

Mas nada que empane uma tradução fluente, que reproduz com naturalidade a fala informal e não deixa nenhum trecho obscuro.

Embora um bom número de filmes sul-coreanos cheguem ao Brasil, o mesmo não se pode dizer da literatura. Contam-se nos dedos de uma mão os romances da Coreia do Sul que saíram aqui. Que “O Bom Filho”, um livro envolvente, abra o caminho para outros.

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