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Fantasmagórico 'O Juízo' vai ao interior de MG e extrai suspense da herança escravista

Filme sobre uma pequena família que passa a viver num local bem distante de centros urbanos lembra Stanley Kubrick

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São Paulo

Diretor de filmes como “Eu Tu Eles” (2000) e “Chacrinha” (2018), Andrucha Waddington brinca que o cinema é uma arte 48 por 48: são 48 meses para fazer e 48 horas para saber se deu certo.

A última parte do comentário envolve cineastas (ele próprio, inclusive), produtores e distribuidores. Em geral, bastam dois dias para saber se um filme deve ou não conquistar boa bilheteria ao longo de semanas ou meses seguintes.

O primeiro trecho da boutade do diretor, sobre os quatro anos pra botar um filme de pé, pode valer para grande parte das produções, mas não para o mais recente longa-metragem dele, “O Juízo”, que estreia nesta quinta (5).

A atriz, autora e colunista da Folha Fernanda Torres, que é casada com Andrucha, começou a escrever o roteiro em 2012 e, entre idas e vindas, concluiu em 2016. No final daquele ano, aconteceram as filmagens.

Na sequência, o meticuloso trabalho de montagem se estendeu por 25 semanas. 

O suspense “O Juízo” foi concluído só neste ano. De uma ponta à outra, considerando as pausas, correram oito anos. “Houve um tempo de maturação que o próprio filme pediu, e conseguimos dar esse
tempo a ele”, diz Andrucha.

Alcoólatra e desempregado, Augusto Menezes (Felipe Camargo) decide deixar a cidade e passar uma temporada longe de qualquer resquício urbano. Vai junto com a mulher, Tereza (Carol Castro), e o filho adolescente, Marinho (Joaquim Torres Waddington).  

Eles se mudam para uma fazenda que pertence à família Menezes há diversas gerações. É nesse lugar que encontram Couraça (Criolo) e sua filha, Ana (Kênia Barbara). 

A partir daí, situações perturbadoras passam a dominar o casarão entre as montanhas.

Temos, portanto, um suspense com tintas sobrenaturais sobre uma pequena família que passa a viver num local bem distante de centros urbanos. Pensou em "O Iluminado", de 1980?

É inevitável se lembrar do filme que redefiniu os códigos de um gênero, o suspense. De certo modo, "O Juízo" presta seu tributo à obra-prima de Stanley Kubrick, mas se afasta da referência quando imprime tons sombrios a uma natureza tropical, a começar pela densa floresta que rodeia a sede da fazenda.

Mais relevante nesse sentido é a abordagem de arquétipos da sociedade brasileira. A herança escravocrata e a ganância extrativista, especialmente ligada à busca por diamantes, pairam sobre as ações dos personagens.

"Gente, não assistam a 'O Iluminado'", pedia Andrucha durante a preparação do filme. Recomendava a todos da equipe que vissem "Os Inocentes" (1961), de Jack Clayton.

Nesse clássico inglês, o imponderável mora numa mansão de estilo vitoriano. Em "O Juízo", os mistérios habitam cada um dos cômodos de um casarão colonial. 

Foi numa antiga residência na Serra da Mantiqueira, rodeada por florestas e cachoeiras, como aquela que se vê em “O Juízo”, que o filme começou a nascer. 

Fernanda e Andrucha passavam a Páscoa de 2012 nessa fazenda de amigos, próxima de Barbacena (MG), quando todos passaram a contar histórias datadas de décadas atrás em propriedades como essa. Foi nesse momento que o argumento do filme ganhou seu primeiro esboço.

"O Brasil tem muitos carmas a serem explorados nesse lado sobrenatural, é um país com um grande misticismo", afirma Fernanda Torres. 

"Minas Gerais tem uma clausura que é muito brasileira, é um estado melancólico, fechado. Além disso, existem muitos sanatórios por lá. E grande parte da produção de pinga vem de Minas. Todos esses elementos foram um bom colchão para uma história de suspense sobrenatural", diz. 

Não é a primeira experiência dela como roteirista. Já havia assinado o texto que conduziu o filme "Redentor" (2004), ao lado de Elena Soárez e de Claudio Torres, seu irmão e diretor do longa. 

Tampouco é a primeira incursão de Andrucha no suspense. Já tinha experimentado o gênero em "Gêmeas" (1999). Em "O Juízo", no entanto, ele explora fortemente os elementos fantasmagóricos. 

Segundo o diretor, a produção de filmes de suspense e terror no Brasil tem sido historicamente pequena, mas existe uma nova safra de visitas ao gênero. Cita, por exemplo "Morto Não Fala" (2018), de Dennison Ramalho.

Como se sabe, personagens de temperamento ameno não servem ao suspense. O Augusto de Felipe Camargo é um homem conturbado, para dizer o mínimo. "Foi o papel que mais exigiu de mim do ponto de vista emocional", conta o ator. 

Filho de Augusto, Marinho também enfrenta tempestades, literais e metafóricas. Filho de Fernanda Torres e Andrucha, Joaquim faz em "O Juízo" o seu primeiro trabalho profissional como ator. 

Mais do que nunca na trajetória do cineasta, esse é um filme em família. Além dos três, Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, aparece como amiga da família Menezes em um papel coadjuvante.

Durante a preparação do filme, Fernanda mãe comentou com a filha: "O suspense é um gênero muito difícil. Como é que não vão rir do fantasma?"

Para Fernanda Torres, havia mesmo o risco de descambar para a comicidade. "Me senti aliviada quando vi 'O Juízo' pela primeira vez. É realmente um filme de mistério, algo difícil de alcançar", diz ela. 

O trabalho continua em família no primeiro semestre de 2020. Fernanda Torres está adaptando seu romance de estreia, "Fim", para uma série com dez episódios. As filmagens começam em março, com direção de Andrucha.

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