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Artes Cênicas

Peça com Renato Borghi reproduz ingenuidade de Galileu Galilei

Elenco de qualidade incomum e retórica mediada pela desconfiança salvam 'O que Mantém um Homem Vivo?'

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O que Mantém um Homem Vivo?

Avaliação: Bom
  • Quando: Qui. a sáb., às 21h. Dom., às 18h. Até 15/12
  • Onde: Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo
  • Preço: R$ 12 a R$ 40

A retomada do espetáculo “O que Mantém um Homem Vivo?”, uma composição a partir de escritos de Bertolt Brecht, mostra a persistência do ator Renato Borghi, com 82 anos, em estabelecer uma prática de resistência com seu teatro.

A primeira montagem da peça foi em 1973 e fazia parte do rescaldo de oposição cultural mais aberta ao obscurantismo da ditadura. Como agora na atualidade, em que diversas montagens buscam em Brecht instrumentos para uma crítica teatral ao conservadorismo da política, também na década de 1960 o autor foi muito lido e encenado por aqui.

Dentro do Teatro Oficina, que Borghi ajudou a fundar e integrou até aquele ano de 1973, o autor alemão foi objeto de sistemáticos estudos em boa parte capitaneados por Fernando Peixoto.

No final dos anos 1960, o Oficina encenou duas peças de Brecht: “Na Selva das Cidades”, em 1969, e “Galileu Galilei”, em 1968. Borghi atuou em ambas. E não deve ser por acaso que as cenas de “Galileu” sejam o coração do conjunto reunido em “O que Mantém um Homem Vivo?”.

Nas cenas escolhidas da obra, Galileu Galilei assiste incrédulo à política e à religião se sobrepondo à razão científica. Nesta atual, Borghi detecta e sublinha esta espantosa semelhança com a atualidade.

Mas Galileu também é ingênuo. E embora a montagem deixe antever isso, ela reproduz sua ingenuidade na defesa abstrata e idealista do “homem livre”. As passagens selecionadas da dramaturgia de Brecht aparecem muitas vezes como um conjunto de máximas humanistas. E, assim, acabam por liquidar o mecanismo dialético de suas peças.

Por exemplo, quando desvinculado das situações, o cinismo erudito e burguês do industrial Pedro Paulo Bocarra de “A Santa Joana dos Matadouros” soa como uma consideração filosófica profunda sobre o indivíduo moderno. Ou ainda, cenas soltas de uma peça sobre a impossibilidade da bondade no mundo do trabalho, como a “Alma Boa de Set-Suan”, ficam parecendo um elogio do altruísmo.

Ao mesmo tempo, o elenco tem qualidade incomum. Georgette Fadel e Renato Borghi percebem bem como a dramaturgia de Brecht se fundamenta nos gestos sociais, na corporalidade das palavras, sempre conectadas a uma situação objetiva. Élcio Nogueira ressalta as ironias e duplos sentidos das sentenças e trabalha com uma retórica mediada pela desconfiança. Conseguem assim que montagem seja um pouco mais do que um manifesto requentado sem conexão forte com o presente.
 

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