'Negro de direita', reverenda e músico conservador; quem são os novos nomes da cultura sob Bolsonaro

Na quarta (27), foram nomeados ocupantes para seis cargos da Secretaria de Cultura, comandada por Roberto Alvim

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São Paulo

Uma mudança volumosa nos quadros ligados à cultura nomeou novos membros para seis cargos nesta quarta (27). A troca é feita semanas após Roberto Alvim assumir a subpasta da Cultura, hoje subordinada ao Ministério do Turismo.

Chegam ao governo secretários responsáveis pela promoção da diversidade, pelo fomento e incentivo à cultura (à frente da Lei Rouanet), pela economia criativa e pela Fundação Palmares, além de um secretário adjunto especial. Alguns desses novos integrantes já deram declarações controversas sobre cultura, como criticar a tropicália ou defender o fim do movimento negro.

Alvim diz que só comentará as nomeações quando elas “forem perpetradas”, o que deve acontecer, segundo ele, até segunda (2). Leia abaixo os perfis de alguns dos membros da cultura de Bolsonaro e Alvim.

Sérgio Nascimento de Camargo
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Negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto", como ele se define em seu perfil nas redes sociais, é o novo presidente da Fundação Palmares, órgão responsável por promover a cultura de matriz africana. O jornalista também já disse que o Brasil tem “racismo nutella” e que “racismo real existe nos EUA”. Sérgio, que ocupa o lugar de Vanderlei Lourenço, é filho de ativista do movimento negro.

Camilo Calandreli
Agora à frente da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura —órgão que formula as diretrizes gerais dos mecanismos de fomento como a Lei Rouanet— Calandreli é cristão, conservador, apoiador de Bolsonaro e seguidor de Olavo de Carvalho. Formado em música pela USP, é fundador do Simpósio Nacional Conservador de Ribeirão Preto (SP), um dos principais eventos de articulação da nova direita e já acusou a Lei Rouanet de "marxismo cultural". Calandreli substitui o administrador José Paulo Soares Martins (leia mais abaixo), que havia integrado o extinto Ministério da Cultura no governo de Michel Temer.

Katiane de Fátima Gouvêa
Membro da Cúpula Conservadora das Américas, ciceroneada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Gouvêa, que é especialista em comércio exterior, é a nova secretário do Audiovisual. Mesmo sem experiência prévia com cinema ou TV, não deixou de dar pitacos na área nos últimos meses —seu nome é associado a um documento que fez Bolsonaro cogitar extinguir a Ancine (Agência Nacional do Cinema). Ela substitui Ricardo Rihan, que durou quatro meses no cargo

Em junho, Gouvêa encontrou com o ministro Osmar Terra (Cidadania), que à época chefiava a área cultural após a extinção do Ministério da Cultura (hoje é a pasta de Turismo que a supervisiona). Na ocasião, defendeu a "valorização do belo e da arte clássica".

Janícia Ribeiro Silva
Conhecida como reverenda Jane Silva, ela assume a Secretaria de Diversidade Cultural. Presidente da empresa Associação Cristã de Homens e Mulheres de Negócio, Silva usa suas redes sociais para apoiar o governo Bolsonaro e Roberto Alvim. "Há esperança para o Brasil através da Cultura. O atual Secretário da Cultura Roberto Alvim, começa a limpar a imagem do Brasil no exterior! Parabéns Secretário", escreveu em seu Facebook no dia 23 de novembro sobre a viagem do secretário à Europa.

Reynaldo Campanatti Pereira
O novo secretário da Economia Criativa é doutor em história econômica pela USP e professor de ensino superior. Paulista, foi candidato no ano passado a deputado federal pelo Patriota, mas, com 14.565 votos, não foi eleito. No Facebook, apoia o governo de Jair Bolsonaro.

José Paulo Soares Martins
Após liderar a secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura —cargo agora ocupado por Calandreli— , ele assume como secretário Especial Adjunto da Secretaria Especial da Cultura. Martins também já foi diretor do Instituto Gerdau e da Fundação Iberê Camargo e, em 2016, foi escolhido pelo então ministro da Cultura, Marcelo Calero, para a vaga de titular da Sefic (Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura), secretaria que administra a Lei Rouanet. Em um seminário na Câmara dos Deputados, realizado em  16 de junho, sobre políticas para o setor, Martins defendeu a flexibilização do teto de captação da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Quem já está empossado:

Roberto Alvim
Nomeado para o cargo de secretário da Cultura, subpasta que substituiu o ministério extinto, o diretor teatral chegou a chamar a atriz Fernanda Montenegro de 'sórdida' e convocou, nas redes sociais, "profissionais conservadores" para "criar uma máquina de guerra cultural".

Letícia Dornelles
A roteirista e atriz assumiu a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, responsável por manter acervo de intelectuais e escritores de destaque no país, e foi criticada no meio por não ter perfil acadêmico nem ter sido indicada pelos funcionários do órgão.

Edilásio Barra
Conhecido como Tutuca, o apresentador, pastor e colunista social chegou a ser cogitado para assumir a Secretaria do Audiovisual, mas assumiu a Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Ancine, com a tarefa de gerir os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual.

Naura Schneider
A atriz e cineasta foi nomeada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, como nova diretora do Centro de Artes Visuais da Funarte. “O departamento de artes visuais cuida de fotografia, de artes plásticas e é, sem dúvida, um universo novo e encantador”, disse, na época, em comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa. Schneider já foi diretora do Departamento de Ações Temáticas no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.

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