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HQ de George Takei sobre campo de concentração nos EUA peca por seu formalismo

'Eles Nos Chamavam de Inimigo' não concilia o peso de seu enredo com o uso burocrático da linguagem dos quadrinhos

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Eles Nos Chamavam de Inimigo

Avaliação: Regular
  • Preço: R$ 50,00 (208 págs.)
  • Autor: George Takei, Justin Eisinger, Steven Scott (roteiros) e Harmony Becker (arte)
  • Editora: Devir
  • Tradução: Érico Assis

O ator George Takei consta na história da TV e do cinema por seus mais de 30 anos como intérprete de Hikaru Sulu, membro da tripulação da USS Enterprise na série “Star Trek” e em seis filmes da mesma franquia. Hoje com 82 anos, Takei é uma das vozes mais ativas do movimento LGBT nos Estados Unidos e da oposição popular ao governo de Donald Trump. 

Filho de um imigrante japonês e de uma filha de imigrantes do mesmo país, ele viveu parte de sua infância em campos de concentração americanos que abrigaram mais de 120 mil pessoas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial.

A HQ “Eles Nos Chamavam de Inimigo”, lançada no Brasil pela editora Devir, é centrada no período que Takei e sua família passaram em três desses campos. Em 1942, eles foram forçados a abandonar tudo em Los Angeles e levados para um hipódromo na cidade de Arcadia, na Califórnia. Depois, foram transportados para o Centro de Alocação de Rower, no Arkansas, e terminaram no Campo do Lago Tule, no norte da Califórnia.

A obra tem roteiro de Takei e dos escritores Justin Eisinger e Steven Scott e arte em preto e branco da quadrinista Harmony Becker. O livro enfatiza as lembranças do ator no período nos campos.

Takei chama atenção para o anglofilismo de seu pai, motivo de seu batismo em homenagem ao Rei George 6º, e lembra da vida tranquila com os pais e os dois irmãos mais novos até o ataque japonês à base de Pearl Harbour, que resultou em quase 2.500 mortos e impulsionou o engajamento dos EUA na Segunda Guerra.

O quadrinho conta como, 74 dias após ao ataque, o então presidente Franklin D. Roosevelt promulga o Decreto Executivo 9.066, autorizando as Forças Armadas a declarar regiões “das quais quaisquer indivíduos podem ser excluídos” e depois fornecer “transporte, alimentação, abrigo e demais instalações”. Os “indivíduos” eram os nipo-americanos e as “instalações” os campos.

As memórias de Takei nos campos giram em torno do empenho de seus ocupantes em torná-los minimamente habitáveis. Ele também enfatiza os paralelos entre as posturas xenófobas pós-Pearl Harbour e as atuais políticas anti-imigração do governo Trump.

O que falta a “Eles Nos Chamavam de Inimigo” é se justificar como história em quadrinhos. Relatos biográficos já resultaram no cânone “Maus”, sobre a experiência do pai do autor Art Spiegelman como sobrevivente de Auschwitz. Já a trilogia “A Marcha” narra a vida do congressista John Lewis como liderança do Movimento dos Direitos Civis nos EUA e figura-chave no combate à segregação racial.

As duas obras vão além de suas tramas espetaculares, são memoráveis pelo uso da narrativa sequencial, em seus designs de páginas e na eficácia do combo imagens mais palavras. “Eles Nos Chamavam de Inimigo” peca por seu formalismo, se sustenta apenas na força da história de vida de Takei, tem um roteiro rígido e pouco inspirado que não exige da arte infantilizada de Becker.

Takei é um ícone da cultura pop. Sua vida e seu ativismo fizeram dele uma das figuras mais admiradas de Hollywood. Os campos de concentração para nipo-americanos são um dos pontos mais baixos da história americana e foram pouco explorados pela indústria do entretenimento. 

“Eles Nos Chamavam de Inimigo” tinha tudo à disposição para ser uma obra de impacto, mas não concilia o peso de seu enredo com o uso burocrático da linguagem das histórias em quadrinhos.

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