Descrição de chapéu
Livros

Fãs de 'Malhação' deveriam dar uma chance à HQ premiada

'Aquele Verão' difere de outras obras sobre passagem para vida adulta ao se aproximar do ponto de vista de adolescentes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Aquele Verão

  • Preço R$ 64 (320 págs.)
  • Autor Jillian e Mariko Tamaki
  • Editora Ed. Mino
  • Tradução Dandara Palankof

“Fazer quadrinhos com super-heróis é fácil. Eles são capazes de coisas incríveis, então basta você pensar nos maiores absurdos e costurar uma história. Mas fazer quadrinhos com pessoas comuns não é simples. Gente e personagem de quadrinhos são bem diferentes, e poucos sabem aproximar essas duas coisas.”

A opinião de Frank Miller, um gênio da HQ, acaba valorizando ainda mais obras como “Aquele Verão”, lançada agora no Brasil pela editora Mino. Escrita e desenhada pelas primas canadenses Mariko Tamaki e Jillian Tamaki, é uma novela gráfica de fôlego, gibizão de mais de 300 páginas.

Publicada originalmente em 2014, colecionou prêmios no ano seguinte. Entre eles, o Eisner para melhor graphic novel, praticamente um Oscar dos quadrinhos. Seu poder de encantamento vem de uma narrativa fluida, num ritmo lento que não combina nem um pouco com a urgência ruidosa que caracteriza quase toda a produção pop atual.

Ilustração de 'Aquele Verão', história em quadrinhos de Jillian e Mariko Tamaki
Ilustração de 'Aquele Verão', história em quadrinhos de Jillian e Mariko Tamaki - Reprodução

Pode parecer um clichê usar o termo “delicada” para adjetivar uma história de duas amigas entrando na adolescência, mas as garotas Rose e Windy são mesmo sensíveis, adoráveis. E, é claro, carregam dentro delas um vulcão de hormônios alimentados com visões ingênuas da vida adulta. Quando crises pessoais irrompem entre os veranistas na cidadezinha litorânea Awago, a dupla é arrancada de sua zona de conforto emocional.

O que difere “Aquele Verão” de tantas outras obras sobre ritos de passagem rumo ao mundo adulto parece ser o fato de que a autora do enredo não foi a adulta Mariko Tamaki, que acabara de completar 30 anos quando escreveu o roteiro. A vida vista pelos olhos de Rose é realmente fruto da observação de uma menina de 13, 14 anos. A autora conseguiu voltar à adolescência.

Para alguns leitores adultos, a narrativa pode parecer tola em alguns trechos da HQ, mas suprimir certas passagens talvez sem tanta força na história seria editar a adolescência por um filtro de maturidade que a autora rejeita completamente. “Aquele Verão” cativa por inserir, com destreza, o leitor no dia a dia de Rose e Windy. 

As tramas paralelas dos outros personagens, como a separação dos pais de Rose ou o drama da menina de Awago que pode estar grávida, surgem apenas mediadas pelas reações das protagonistas. Não existem núcleos distintos de personagens, tudo o que o leitor assimila vem do olhar inquisitivo de Rose e dos comentários desconcertantes de Windy, um ano mais nova e muito engraçada.

Os desenhos de Jillian Tamaki têm um papel fundamental no sucesso da novela gráfica. Trabalhando em branco, preto e azul, com enquadramentos de cortes ousados, cria uma moldura visual leve, com muita fluidez. Sem dúvida, um acerto para 318 páginas sustentadas por um número pequeno de personagens, o que poderia resultar repetitivo.

É impossível não ser fisgado pela curiosidade de saber como Rose e Windy vão atravessar um verão atribulado, que perturba ainda mais a já confusa adolescência. Leitores adultos também são arrebatados.

Mas, falando de um público alvo, seria interessante para os meninos que acompanham a novelinha “Malhação” deixar um dia de ver o folhetim na TV e passar um fim de tarde com as meninas de “Aquele Verão”. Os personagens da HQ das primas canadenses são muito mais reais.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.