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Cheguei ao tarô e fui surpreendida por um vaticínio improvável

Educada com descrença com as coisas do além, hoje garanto que quem estuda o baralho consegue ler uma narrativa

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São Paulo

É com certo constrangimento que admito: não sei explicar por que meios, processos ou caminhos mentais e psicológicos as cartas do tarô abrem as portas da percepção. Mas posso garantir que quem estuda as figuras, as cores, os símbolos, os números —o idioma do baralho— consegue ler uma narrativa quando as cartas são enfileiradas.

Como filha de pai ateu e mãe sem hábito de frequentar igrejas, tive uma criação alicerçada no culto ao método científico e na descrença com as coisas do além. Foi por mero acidente que cheguei à mesa de uma taróloga e fui surpreendida por um vaticínio.

Por curiosidade —e, confesso, um certo desejo de desmascarar a vidência das cartas— passei a estudar o tema. Estou nisso há 21 anos. Perdi a batalha pelo racional, mas aprendi alguns princípios históricos e, digamos, filosóficos.

Não há dúvidas sobre as características artísticas das cartas. Na Idade Média, por exemplo, eram pintadas a mão para poucos. Sua origem, porém, é tão indecifrável quanto suas qualidades divinatórias.
Há registros de cartas do século 14, e as lâminas mais antigas atestariam o caráter universal e ecumênico do baralho por terem escritos hebraicos e árabes mesclados aos símbolos do cristianismo.

Num primeiro momento, o jogo se difundiu pela Itália, mas virou moda mesmo na França. Um dos baralhos mais antigos ainda em circulação é o Tarô de Marselha, criado na cidade francesa de mesmo nome. Para alguns estudiosos das cartas, como o cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, o tarô de Marselha seria o verdadeiro tarô.

De fato, todos os baralhos modernos derivam dele de alguma maneira, inclusive o mais popular de todos, o Tarô Rider-Waite. Publicado em 1910, ele traz releituras das imagens, o que para os puristas beira a heresia. Parte da interpretação esotérica depende das figuras, e alterar as formas pode comprometer a mensagem. 

 

Quase nada se sabe sobre a evolução mística do baralho nas ruas, mas quem primeiro lhe atribuiu o poder da vidência numa publicação organizada foi o ocultista francês Etteilla. Ele passou a ver o futuro dos consulentes pelas cartas após a Revolução Francesa. Outro estudiosos, o clérigo suíço Court de Gébelin, foi quem primeiro registrou que o tarô teria raízes no Egito —e o baralho mais enigmático de ler é justamente o egípcio, pela profusão de símbolos.

O status de chave para abrir o mundo esotérico, no entanto, só foi definitivamente alicerçado após as publicações de Éliphas Lévi, o maior ocultista do século 19. Lévi estabelece a associação entre o tarô e a cabala, dando-lhe atributos de transcendência espiritual.

O psiquiatra suíço Carl Jung reconheceu que pelas cartas do tarô seria possível acessar memórias coletivas, os arquétipos. É uma pista que flerta com a ciência. Ainda espero que alguém consiga uma razão mais concreta para a curiosa capacidade de as cartas retratarem sentimentos, fatos, pessoas e presságios. Até lá, não vou brigar com o imponderável. Sigo apenas lendo o baralho.

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