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Cinema Oscar 2020

'Jojo Rabbit' oscila entre o cômico e o comovente para desconstruir nazismo

Filme assume uma inegável intenção didática, mirando direto no coração do público

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Neusa Barbosa

Jojo Rabbit

Avaliação: Bom
  • Preço: Estreia nesta quinta (6)
  • Classificação: 14 anos.
  • Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie e Scarlett Johansson
  • Produção: EUA/Nova Zelândia/República Tcheca, 2019
  • Direção: Taika Waititi

Desconstruir o horror do nazismo por meio da comédia não é novidade. Desde “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin, passando pelo pouco conhecido mas ótimo “Trem da Vida”, do romeno Radu 
Mihaileanu, e o inevitável oscarizado “A Vida É Bela”, de Roberto Benigni, alguns diretores se aventuram, de tempos em tempos, por este terreno perigoso. O mais recente deles é o neozelandês Taika Waititi, com seu “Jojo Rabbit”. 

Optando por um tom de fábula que oscila entre cômica e comovente, além de ser estrelado por uma criança, Roman Griffin Davis, o filme acertou em cheio na receita que leva ao Oscar —conquistou seis indicações, como melhor filme, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, figurino, montagem e direção de arte— e acaba de abocanhar o Bafta de melhor roteiro adaptado (a partir do livro “O Céu que nos Oprime”, de Christine Leunens). 

Com raízes judaicas por parte de mãe, Waititi reserva para si mesmo o papel de Adolf Hitler, aqui numa encarnação peculiar, como o amigo imaginário do menino Jojo, um pequeno nazista em formação. 

O pai do garoto desapareceu na Segunda Guerra e a mãe, Rosie (Scarlett Johansson), passa muito tempo fora de casa, numa agenda secreta. Jojo divide seu tempo entre um treinamento da Juventude Hitlerista e conversas com este amigo, uma amalucada versão da masculinidade tóxica exacerbada do Führer.

Ridicularizando Hitler e outros oficiais nazistas —como o impagável capitão Klenzendorf (Sam Rockwell), que parece saído de um filme de Wes Anderson—, o que Waititi parece ter em vista é desmontar a onipotência que fascistas em geral projetam para si.

Ao mesmo tempo, empoderam-se figuras femininas dissidentes, como Rosie e a adolescente judia Elsa (Thomasin McKenzie), que ela esconde no sótão da própria casa.

Ao afrontar a doutrinação de Jojo, o filme sinaliza a crença de que todo processo de lavagem cerebral pode ser enfrentado e mesmo revertido. Pesquisando sobre os judeus para um suposto livro, o que o menino descobre, na verdade, são os absurdos que seus inimigos propagam sobre eles.

“Jojo Rabbit” assume, assim, uma inegável intenção didática, mirando direto no coração do público, sem se importar com os reparos dos críticos quanto à sua relativa facillitação dramatúrgica. Uma postura que não deixa de fazer algum sentido numa época como a atual, em que, como na do filme, os discursos racionais passam por dificuldades em sua capacidade de convencer.

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