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Festival Panorama desembarca na França após ser cancelado no Rio

Brasileiros de diferentes backgrounds se apresentam em programação que mistura espetáculos, performances e festas

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Márcia Bechara

O tradicional Festival Panorama de dança contemporânea, que acontece há 27 anos no Rio de Janeiro, desembarca em Pantin, nos arredores de Paris, na França, pela primeira vez em 2020.

Evento único em seu gênero na América do Sul, a versão francesa do Panorama reunirá, até o dia 21 de março, artistas brasileiros de diferentes backgrounds, numa programação que mistura espetáculos, performances, mesas redondas e festas, acolhida pelo Centro Nacional da Dança (CN D).

A RFI conversou com a atual diretora do festival, Nayse López, sobre os motivos desta mudança e a curadoria desta edição.

RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL: Ensaio de espetáculo de Bruno Beltrao e seu Grupo de Rua, que estreou no Brasil no Festival Panorama, no Rio de Janeiro, em 2013 - Daniel Marenco/Folhapress

"Tomamos a decisão de não fazer o Panorama em 2019", conta Nayse López. "Uma das razões, extremamente prática, era porque enfrentávamos muita dificuldade com captação de recursos após a posse do governo Bolsonaro, porque o governo não apenas extinguiu o Ministério da Cultura, o que dificultou vários processos legais, como também determinou que as estatais, que são uma grande fonte de financiamento da cultura brasileira, se retirassem dos festivais", diz.

"A Petrobras, por exemplo, que foi patrocinadora do Panorama durante 15 anos, foi impedida de patrocinar festivais com esse perfil", lembra a curadora. "Nunca houve uma censura aberta a um projeto, mas uma clara censura econômica. Os projetos com posicionamento político foram eliminados das carteiras de patrocínio das empresas do governo".

"Isso teve um impacto enorme na área, porque, no caso do Rio de Janeiro, isso também se estende ao governo do estado, que compartilha a posição de extrema direita do governo federal, e a Prefeitura do Rio que praticamente desmontou todo o aparato cultural da cidade", diz curadora.

Programação

Repartida em três momentos, a partir de referências cronológicas —futuro, passado e presente—, a programação do festival em Pantin aborda a questão corporal a partir de pontos de vista diversos como tecnologia, educação, informação, censura e o pensamento descolonizado.

"Na programação do Panorama existem corpos jovens, maduros, negros, brancos, héteros, gays, cis, trans, com questões que atravessaram o festival nos últimos anos. Estamos no centro de uma resistência desses corpos, que estão marginalizados no discurso do atual governo."

"Essa programação no CN D, em Pantin, tenta levantar três grandes questões: o "futuro", dando voz aos jovens para que eles exprimam sua raiva e angústia pelo que acontece no Brasil e no mundo. No segundo fim de semana, temos o eixo do passado, em que a ideia é verificar em que momento da história corpos como o negro ou o gay foram impedidos de ter protagonismo", complementa.

Descolonização, informação e resistência

"Falamos também do corpo latino-americano como um todo, porque a peça da Federica, do Uruguai, é uma peça que fala sobre a origem do tango enquanto lugar de luta nos portos do país, é uma luta que se transforma em dança, com uma carga política importantíssima para se pensar o que foi a construção do ideário da arte latino-americana", diz López.

O último final de semana de programação do Panorama, evocado no eixo do "presente", traz uma discussão sobre "o mundo que esses corpos enfrentam do ponto de vista da relação com a era da informação, com as fake news, com a noção de verdade", segundo a curadora.

"Historicamente se pensa a resistência contra regimes totalitários. Mas agora percebemos que há dentro dessa democracia manipulada a partir da informação, em que as eleições são pautadas pela mentira, pelas fake news, apoiadas por um enorme poder econômico. É um momento novo, em que é preciso resistir dentro da própria democracia.".

Futuro incerto

O futuro do festival Panorama, no entanto, ainda é incerto, como conta Nayse López.

"Não temos certeza aqui no Brasil neste momento nem do que vai acontecer mês que vem", ironiza. "Diante de um quadro de muita insegurança financeira, resolvemos em 2019 não anunciar uma edição que talvez não se realizasse por falta de recursos. Em paralelo a isso, como é um festival muito antigo, chegamos à conclusão que era hora de parar e repensar o formato", diz.

"Que tipo de projeto atende à necessidade dos artistas da performance contemporânea e do público nesse momento?", questiona a curadora.

"Duas palavras são muito importantes nesta edição do festival na França: 'resistência' e 'resiliência'. Ou seja, acreditar que o que a gente faz tem importância e ressonância e precisa ser feito. E também 'solidariedade', porque a decisão da Mathilde Monnier (ex-diretora do CN D), ao ser reiterada [pela nova direção francesa] é um ato não só de solidariedade com uma comunidade artística que está de alguma forma em risco de sobrevivência pela ausência de políticas públicas, mas também pelo entendimento do CN D do seu papel. Não é um teatro pura e simplesmente, é um centro nacional de referência que olha para o que está acontecendo na dança, na França e no mundo", afirma a diretora do Panorama.

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