Kylie Minogue transforma palco em boate gay, com lantejoulas e paetês, em SP

Australiana se apresentou no Memorial da América Latina para público 110% queer e cumpre cartilha óbvia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O show começou antes da hora marcada. Quando este repórter ainda cruzava a avenida pela passarela que junta as duas praças do Memorial da América Latina de Oscar Niemeyer, a australiana Kylie Minogue, num tailleur branco brilhoso, já cantava para uma multidão no chapadão de concreto da Barra Funda.

Talvez, pela ansiedade da plateia 110% queer, Kylie não se conteve e partiu logo para os hits. Engatou “In My Arms” logo depois do número de abertura e dali em diante cumpriu a cartilha esperada para uma diva já distante de seus dias de glória —o óbvio não desagrada e leva direto à sensação de dever cumprido.

No panteão das estrelas coloridas do pop, Kylie está a incontáveis léguas de distância de Madonna, Beyoncé, Lady Gaga, a antiga Britney Spears e mesmo outras menos exuberantes e mais artificiais, mas ainda tem uma entrega aos fãs que parece sincera.

Headliner absoluta do primeiro festival GRLS, que reúne um elenco de divas às vésperas do Dia Internacional da Mulher em São Paulo, Kylie trocou logo um terninho por um vestido preto com faixas transparentes, um look que impediu qualquer tentativa de coreografia mais ousada.

Isso, de fato, ela deixou para uma trupe de dançarinos que transformou o palco numa boate gay —das boas e antigas— com muito brilho, lantejoulas e paetês, como se o mundo lá fora dessa arena arco-íris não estivesse mergulhado em trevas.

O público nesta noite de fim de verão carrancudo reagiu bem aos números “In Your Eyes” e “Can’t Get You Out of My Head”, dois dos maiores hits de Kylie. Ela cantou, com muita ajuda das backing vocals, e menos entusiasmo que uma plateia saudosa dos velhos tempos pré-aplicativos que mataram as pistas de dança esbanjava ali.

Na hora de “Slow”, a melhor de suas canções na opinião deste que escreve, Kylie trocou de roupa e vestiu um macacão de corrida vermelho sangue. Seus dançarinos copiaram o uniforme, num número enxuto, correto, sem surpresas.

Toda a alegria, parece, foi reservada para o final. Num vestido verde de paetês e ombreiras, meio madrinha de casamento errada, Kylie deu início a uma sequência de canções mais dançantes, entre elas “Shocked” e “The Locomotion”, seu primeiro single com uma deliciosa citação de Donna Summer. Bonecos infláveis e canhões de confetes completavam a mise-en-scène.

O trunfo de Kylie Minogue, nesse fim de show tingido de um pop retrô com raízes na disco music, foi devolver a São Paulo, cada vez mais uma cidade que esquece seu passado de noites vibrantes e sem medo, um clima de balada alegre, não sufocada por drogas para sedar cavalos nem a caretice galopante que nos devora.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.