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'O Céu da Meia-Noite' é mais conto de fadas do que uma aventura sci-fi

Filme conta com boa atuação de George Clooney, mas é sem pé nem cabeça e tem total desapego à ciência

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Eu gosto de George Clooney. Juro. Mas “O Céu da Meia-Noite”, filme que ele estrelou e dirigiu, a despeito de sua boa atuação, não tem pé nem cabeça. Talvez possa funcionar para quem consegue ignorar a realidade (ou já a ignore de saída). Talvez voe melhor como um conto de fadas —e desconfio que a intenção é um pouco essa, é uma jornada interior, não uma aventura sci-fi. Mas nem mesmo as óperas espaciais mais escapistas têm tanto desapego à ciência.

O problema todo é que o filme está enraizado na Terra do futuro próximo, com uma ambientação extremamente conhecida. Não é uma galáxia distante e uma força mística que permeia todas as coisas vivas. Estamos falando do Sistema Solar e da Nasa.

A premissa é que o personagem de Clooney, doutor Augustine Lofthouse (vivido quando jovem por Ethan Peck), descobre uma lua habitável ao redor de Júpiter, chamada K-23. Sim, um astro do tamanho de um planeta, orbitando próximo à lua Io no sistema joviano, teria sido descoberto no início deste século.

Ignore por um momento que algo assim teria sido imediatamente percebido por Galileu com sua lunetinha em 1609. Ignore que já enviamos várias sondas a Júpiter, que facilmente teriam observado esse mundo. Ignore que a região de Júpiter não recebe radiação solar suficiente para manter um ambiente habitável compatível com a vida humana.

Se você conseguir deixar tudo que é impossível de lado, talvez a história faça sentido. Mas não por muito tempo.

Durante a viagem de ida e volta de uma expedição a essa nova lua, a Terra sofre um cataclismo e se torna inabitável. Que cataclismo? Aquecimento global? Um vírus devastador? Ninguém conta. Aliás, quando Lofthouse vai revelar o destino da Terra aos tripulantes da nave Aether, a comunicação sofre uma falha e não ouvimos o que ele diz.

A premissa é que Lofthouse, isolado no Ártico, precisa mandar aos astronautas o clássico “volta que deu ruim”, sugerindo que eles retornem a K-23. Para isso, ele cruza o deserto gelado entre duas bases,
onde parece encarar ciclos dia-noite suspeitosamente convencionais. Mas calma que piora, como diz meu amigo Felipe Hime.

Durante o retorno à Terra, a nave Aether (que tem um design bonito, mas largamente sem sentido) enfrenta dificuldades de navegação e precisa escolher entre uma trajetória “com grande atividade de
meteoros” e outra “jamais mapeada”. Quê? Entre Terra e Júpiter? Não tem meteoro no espaço (“meteoro” é o que uma pedra vira quando entra na atmosfera da Terra). E como assim espaço “não mapeado” entre a Terra e Júpiter? É uma apresentação ingênua de como as coisas se dão num voo espacial, para ser gentil.

O leitor pode achar que estou sendo muito amargo. Mas tente pensar o seguinte —um filme ambientado na Terra atual em que o Brasil faz fronteira terrestre com a China continental. É exatamente isso que o filme faz, mas transposto para a escala do Sistema Solar.

Diante dessas escolhas peculiares (que um consultor científico teria resolvido em 15 minutos preservando a essência da trama, se não as localidades escolhidas), resta tentar se envolver com o drama dos personagens, em particular de Lofthouse, abstraindo a irrealidade da coisa toda. Clooney faz um esforço danado para que isso aconteça. Eu não consegui. Mas certamente haverá quem se conecte.

O Céu da Meia-Noite

Avaliação:
  • Quando: Estreia no dia 23 de dezembro
  • Onde: Netflix
  • Elenco: George Clooney, Felicity Jones e David Oyelowo
  • Produção: EUA, 2020
  • Direção: George Clooney

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