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Javier Cercas faz tributo a 'Os Miseráveis' em drama policial macabro

Em 'Terra Alta', escritor espanhol deixa uma surpresa para o leitor ao final do livro, repleto de mistérios

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Terra Alta

Avaliação: Ótimo
  • Preço: R$ 66,90 (304 págs.)
  • Autor: Javier Cercas
  • Editora: Tusquets

O espanhol Javier Cercas escreve sobre a jornada de um homem em busca de justiça e vingança em sua obra mais recente, "Terra Alta", publicado pela editora Tusquets. O livro trata de um drama tipicamente humano: o acerto de contas com o passado e a procura por redenção.

Embora seja um romance policial, com direito a um crime macabro e uma investigação que esbarra na reputação ilibada —mas não totalmente— das vítimas, a obra soa também como tributo ao clássico "Os Miseráveis", do francês Victor Hugo.

Assim, "Terra Alta" não é somente uma história sobre o policial que corre atrás dos vestígios que levarão à resolução de um assassinato, a fórmula básica dos romances policiais. "Terra Alta" é também um pouco folhetinesco, como "Os Miseráveis", livro preferido do protagonista.

O personagem principal é Melchor, um jovem policial de Barcelona. Filho de uma prostituta, abandonou a escola e foi preso por trabalhar com traficantes. É nas horas livres na prisão que descobre o clássico de Victor Hugo.

Como no folhetim, temos o personagem sufocado pela injustiça social e levado a adotar posturas erráticas para sobreviver, mas que lutará para tornar-se uma figura edificada.

A trama é narrada em terceira pessoa. Logo, o narrador heterodiegético talvez seja uma das novidades de "Terra Alta" para os leitores já habituados à produção de Cercas, na qual a escrita em primeira pessoa abunda, como em "Soldados de Salamina".

Este narrador de "Terra Alta" vai começar desviando a atenção do leitor para um homicídio horrendo.

"Duas massas ensanguentadas de carne violácea se encontram frente a frente, em um sofá e uma poltrona ensopados de um líquido grumoso —misto de sangue, vísceras, cartilagem, pele— que também respingou nas paredes, no chão e até na moldura da lareira. No ar paira um violento cheiro de sangue, carne atormentada e suplício", conta o narrador sobre a cena encontrada por Melchor ao investigar o assassinato de um casal idoso, proprietário da maior empresa de Terra Alta. Quem terá cometido a tortura daqueles idosos?

Certamente tamanha crueldade sensibiliza Melchor, cuja identificação com o humanista Jean Valjean, o trágico herói de "Os Miseráveis" detido por roubar um pão, é evidente. Mas Cercas dará mais profundidade ao seu protagonista fazendo com que Melchor também se encante pelo antagonista de Victor Hugo, o incansável inspetor Javert.

É por causa de Javert que Melchor decide ser policial. Inspirado em Javert, ele tentará encontrar o assassino de sua mãe, morta enquanto se prostituía. Influenciado por Javert, não desistirá de descobrir quem matou os idosos.

"Javert o fascinou. O que Melchor sentia por aquele ser marginal e marginalizado era muito mais complexo e sutil que o que sentira por Jean Valjean. Javert era o malvado do romance, o autor o criara para que atraísse o desprezo do leitor com sua antipatia rochosa, sua veemência legalista (…). Mas Melchor também sabia que, talvez a despeito do autor, Javert tinha outra cara e sentia que, em sua obstinada defesa das regras, em seu empenho irredutível em combater o mal e fazer justiça, havia uma generosidade e uma pureza diamantina", conta o narrador.

Como em um típico folhetim, identidades ocultas serão reveladas no final da história. Algumas pistas deixadas pelo narrador sobre a autoria do assassinato dos idosos irão se confirmar para não decepcionar o leitor. Mas, como bom folhetim, cumpre a promessa de deixar uma surpresa para o final.

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