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'Nada de Novo no Front', com produção de brasileiro, leva vergonha alemã ao Oscar

Longa que já venceu o Bafta lança olhar sobre a Primeira Guerra Mundial sem heroísmos a partir de clássico pacifista

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Los Angeles

Um dos filmes mais celebrados do ano, "Nada de Novo no Front" retrata os horrores dos combates de trincheira na Primeira Guerra Mundial, numa produção épica que desafia o estômago do espectador e deixou seu diretor emocionalmente esgotado.

"Quando terminamos de filmar, percebi que estava tão exausto que mal conseguia dormir. Foi difícil para toda a equipe, ficamos todos um pouco traumatizados", diz o diretor alemão Edward Berger. "Tinha o stress e a pressão [das filmagens complexas], e o tema importa. É pesado, sujo, sangrento, violento." "Levei dois ou três meses para ter de volta um pouco da minha sanidade", afirma o cineasta.

Cena do filme alemão 'Nada de Novo no Front' - Divulgação

O longa disponível na Netflix é baseado num livro alemão de 1929, considerado um clássico antiguerra e um dos primeiros a serem queimados pelos nazistas em 1933. Segue a vida de jovens alemães que se alistam animados graças à propaganda nacionalista, mas que logo descobrem a sanguinolência das trincheiras na fronteira com a França.

Com mais de 300 figurantes num set do tamanho de cinco campos de futebol, Berger e sua equipe precisavam coordenar longas cenas de batalha com tanques, explosões e lança-chamas no meio de muita lama, chuva e neve.

"Teve uma manhã que eu quase chorei no carro com meu diretor de fotografia. Achava que nunca conseguiria sair daquele campo", diz. "Resolvemos focar uma cena de cada vez e não se impressionar com a imensidão da tarefa."

"Nada de Novo no Front" levou os principais prêmios do Bafta e concorre em nove categorias do Oscar, incluindo filme do ano e longa internacional.

A trama já havia sido transformada em filmes por Hollywood em 1930, numa produção ganhadora do Oscar, e em 1979. Uma nova adaptação em inglês do livro rodou a indústria na última década, escrita pelos britânicos Lesley Paterson e Ian Stokell, mas o projeto só deslanchou ao chegar na Alemanha.

Berger retrabalhou o roteiro em alemão —o trio disputa na categoria roteiro adaptado— e diz que faltava à história a perspectiva de seu país, onde, nas suas palvras, só há culpa e vergonha em relação às duas guerras mundiais.

"Nosso filme é diferente de um filme americano ou britânico porque eles podem falar de heroísmo, eles foram atacados, se defenderam, libertaram a Europa do facismo. A Alemanha não. A Alemanha destruiu a Europa", diz Berger. "Era importante não contar uma jornada de herói, e sim uma história com futilidade, vergonha e culpa."

Para adaptar o clássico, o diretor disse que era assombrado pelo filme de 1930, no Brasil intitulado "Sem Novidade no Front". Ele lembra de tê-lo assistido na TV aos 15 anos e ficar impressionado. Voltou a vê-lo mais vezes ao estudar cinema e, de novo, ao trabalhar no roteiro.

"Entrei em crise porque todas as grandes passagens do livro, que eu havia colocado em cartões e escrito algumas cenas, estavam no filme antigo. Não via mais sentido em filmá-las", contou. "Mas disse a mim mesmo que seria uma obra muito diferente, um filme realmente alemão, com a nossa perspectiva."

Berger já tinha o filme pronto, prestes a ser lançado em alguns meses, quando estourou a guerra na Ucrânia, país a 670 quilômetros da Alemanha. Ele evita comparações com o conflito, embora entenda quem veja na história um conto moral bastante atual.

"Falamos de jovens manipulados pelo populismo, que acreditam estar embarcando numa aventura quando na verdade estão indo para morrer. É o que está acontecendo na Rússia. Não é tão diferente", disse. "Mas nosso filme não chega perto da realidade que as pessoas estão enfrentando na Ucrânia."

O filme tem entre seus produtores o brasileiro Daniel Dreifuss, que recebeu o projeto em 2013 e o levou para a Europa em 2019. "O mais difícil foi a rejeição de anos de reuniões em Hollywood. Não só não acreditavam como diziam ser uma péssima ideia", afirma Dreifuss, que está em sua segunda campanha do Oscar. A primeira foi como produtor do chileno "No".

"Eu me apeguei à minha relação pessoal com a história. Meu avô lutou na Primeira Guerra Mundial, e o primo dele morreu nas últimas horas, como acontece no filme. Acreditei na minha visão criativa e intuição."

Passado o caos, o longa vive meses de puro glamour. Berger, no entanto, não teve muito tempo de aproveitar as premiações, já que gravava um novo longa. Antes de "Nada de Novo no Front", ele havia dirigido as séries "Your Honor", com Bryan Cranston, e "Deutschland 83", sobre um espião novato da Alemanha Oriental.

Cena do filme alemão 'Nada de Novo no Front' - Divulgação

Trabalhando em "Conclave", com Ralph Fiennes, diretamente de Roma, o diretor diz que enfim poderá aproveitar o Oscar após concluir essas filmagens. "É sobre a eleição do papa, mas no fundo é uma jornada de dúvidas do protagonista, que não sabe mais se quer ser padre", afirma o cineasta. "Eu me identifiquei muito porque também sou movido por dúvidas."

Berger conta ainda que já passou muito tempo em São Paulo, mais de 20 anos atrás, quando namorava a galerista Márcia Fortes, que ele conheceu quando estudava cinema em Nova York.

"Ela é uma pessoa maravilhosa, ainda nos falamos bastante", disse. "Quando ela se mudou do Rio para São Paulo, percebi que São Paulo era muito mais interessante, diversa, cheia de vida, caótica, algo que nunca havia experimentado. Espero voltar em breve."

NADA DE NOVO NO FRONT

Avaliação:
  • Onde: Disponível na Netflix
  • Elenco: Felix Kammerer, Albrecht Shuch, Aaron Hilmer
  • Produção: Alemanha, 2022
  • Direção: Edward Berger

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