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Filmes críticas de filmes

Luccas Neto tenta honrar legado de Didi em filme, mas faz chanchada fraca

'Príncipe Lu e a Lenda do Dragão' subestima humor físico do youtuber e tenta agradar pais com referências antiquadas

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Príncipe Lu e a Lenda do Dragão

Avaliação: Regular
  • Quando: Em cartaz nos cinemas
  • Classificação: 10 anos
  • Elenco: Luccas Neto, Gi Alparone, Beatriz Couto
  • Produção: Brasil, 2024
  • Direção: Leandro Neri

Quem adentra o reino fictício de Lucebra sabe que esse não é bem o império de príncipe Lu. Ou melhor, de Luccas Neto, astro da criançada que movimenta 42 milhões de assinantes no maior canal infantil de YouTube do mundo com brincadeiras e teatrinhos —não só com atores mirins, mas com ele mesmo imitando trejeitos pueris.

Então, não é com espanto que em sua nova investida nas salas de cinema com "Príncipe Lu e a Lenda do Dragão", em cartaz, o marmanjo de 32 anos entre em cena entre bordões e gritinhos, fazendo piadas descoladas do mundo que apresenta: uma fantasia medieval infantil.

Renato Aragão e Luccas Neto em cena do filme 'Príncipe Lu e a Lenda do Dragão' - Divulgação

Pode estar de coroa ou camisola, com uma espada ou uma colher de arroz na mão, quem está na tela é o carioca Luccas Neto do bordão "troslei!" e da banheira de Nutella.

Desde que a chanchada é chanchada, nossa comédia vive da paródia: Oscarito pode voltar no tempo e virar Sansão ou ser um cowboy atrapalhado ao lado de Grande Otelo. Xuxa pode ser uma princesa, fada madrinha ou botânica mágica.

E Renato Aragão, bem, pode ser o Didi que quiser, como foi nos trocentos filmes de Os Trapalhões que fez nos últimos 50 anos. É dessa fonte que Luccas Neto bebe, de forma bem consciente.

Homem de negócios antes de ser artista, sagazmente, ele convidou Didi para fazer uma ponta no filme, como o mestre espadachim que ajudará o príncipe a vingar seu pai, o rei (Maurício Mattar, galã global dos anos 1990), morto por um conselheiro maligno (Cassio Scapin, na memória de muitos, o Nino de "Castelo Rá-Tim-Bum").

Vê-se a estratégia pelos nomes do elenco, algo que Neto alardeia nas propagandas sucessivas em seus vídeos no YouTube, direcionada aos pais das crianças: "um filme que une seu ídolo ao ídolo do seu filho".

Até o final de janeiro, segundo dados da Ancine, o filme tinha atingido 120 mil espectadores. É uma cifra menor que os 430 mil de "Os Aventureiros: A Origem", primeiro longa de Neto, lançado em julho de 2023. Seis meses depois do anterior, o novo título parece ter gerado menos repercussão num ano em que, enfim, o cinema brasileiro retomou a casa do milhão com "Minha Irmã e Eu" e "Nosso Lar 2".

À parte as questões de mercado, o longa perde uma boa oportunidade de seguir na prática o legado dos tais ídolos. Goste-se ou não, Neto faz as crianças rirem e tem um trunfo: sua personagem é um agente do caos, um burlão incansável que, para ficar na tradição ibérica, remonta ao imemorial Pedro Malasartes e atravessa suas reapropriações —com Mário de Andrade, Mazzaropi e, novamente, Didi.

O problema é que Neto, aqui, parece indisposto com a própria infantilidade que encarna. Assim que o dramalhão se impõe ao filme com a morte do rei, a comédia física que marca uma abertura repleta de travessuras absurdas murcha para uma aventura sem ritmo.

Os outros elementos da produção parecem não conversar —a fotografia é lavada e pouco colorida, diferente do seu YouTube; os números musicais ficam fora de lugar, mal costurados ao roteiro; as tentativas de humor físico são retalhadas por uma edição que não aproveita as piruetas dos atores.

Enfim, Príncipe Lu é domado pelas próprias responsabilidades como herói, acaba salvando o dia e ainda é disputado por duas beldades —a aia vivida por Beatriz Couto e a princesa interpretada por Anajú Dorigon.

A escalação de Tadeu Mello e Gillray Coutinho, rostos típicos dessas comédias, também se somam a essa tradição. Mas é a ponta de Zezé Motta como uma feiticeira que brilha, a nível de charme e dicção, num papel levado a sério.

E Didi? Como homenagem, é valioso ao lembrar os gestos e o humor espantoso de Renato Aragão. Mas são cenas tão curtas que não dão conta de valorizar o que está em cena. É uma celebração que evoca certa melancolia, já que o humorista, na virada para os 90 anos, parece cansado e disperso.

Nesse sentido, Neto se equilibra numa fronteira. Estandarte da era da internet, ele põe suas fichas num meio que não é o habitat do seu público (a sala de cinema), com elementos antiquados que remetem à cultura de massa pré-influenciadores (para os adultos) e que são parte de sua formação.

Como a tal "lenda do dragão" do título, que no final não passa de uma cilada, Luccas Neto promete reverenciar uma tradição, mas ainda não conseguiu honrar essa linhagem.

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