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Olimpíadas 2024

Aya Nakamura e Céline Dion deram tom justo da festa das Olimpíadas

Apresentação levou uma França moderna ao público sem abandonar clichês, mas espaço do rap e hip hop foi subestimado

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Felipe Maia

Mestre e doutorando em etnomusicologia pela EHESS, Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais, e pela Universidade Paris-Nanterre

Paris

Fosse o resultado das eleições legislativas diferentes, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 teria sido um grande anticlímax. O espetáculo não poupou esforços em imprimir a imagem de uma França universalista, acolhedora e republicana, bastião em riste dos preceitos que fundaram o país —de volta ao debate público no último pleito nacional.

Sob chuva incessante, o maior bemol da cerimônia, a França exibiu ao mundo um show justo, sem exageros nem invencionices, como um bom prato de steak tartare. Foi uma combinação de clássicos e novidades, ao menos aos olhos do mundo, que diferem de uma ideia tosca-kitsch de cultura francesa, uma isca que só funciona como prato no Paris 6.

Visão da Torre Eiffel durante a abertura das Olimpíadas de Paris-2024, com apresentação de Céline Dion - Reuters

A cerimônia abriu com elementos incontornáveis da formação do mito parisiense, a cidade do amor. Acordeons tocando a musette, dançarinos de cancan do Moulin Rouge e Lady Gaga cantando "Mon Truc en Plumes", sucesso dos anos 1950 na voz de Zizi Jeanmaire com ares de swing jazz e exotica, foi o lugar mais comum do espetáculo.

Deixar para o final "Hino Ao Amor", na voz de Céline Dion, cantando sobre a Torre Eiffel, foi uma forma de unir um país sob polarização política. Nascida no Quebec, enclave francófono na América do Norte, Dion é uma unanimidade na França com suas músicas que tocam em casamentos e fins de festa do país.

Nos Jogos Olímpicos, coube a ela justamente fechar a festa num clímax que marcou também um breve retorno seu aos palcos, de onde está afastada desde 2022, quando recebeu o diagnóstico de síndrome da pessoa rígida.

Vindo de terreno neutro, dialogando com as margens esquerda e direita do Sena, Céline Dion brindou o mundo com uma saída, ainda bem, nada à francesa.

Ao longo da cerimônia, o primeiro choque veio com a banda Gojira, um dos maiores nomes do heavy metal, tocando um dos hinos da Revolução Francesa, "Ah Ça Ira", ao lado da cantora Marina Viotti. A França tem um dos maiores festivais de metal do mundo, o Hellfest —apenas uma das surpresas do país guardadas embaixo dos estereótipos de croissant e macaron.

Outro momento de impacto ficou com a cantora Aya Nakamura. Franco-malinesa, negra, a artista estava cotada para cantar Edith Piaf durante a cerimônia, boato que gerou controvérsia entre Macron e o RN. Marine Le Pen afirmou que, caso se confirmasse o ato, levaria a questão à assembleia nacional.

Nakamura não tocou no cânone francês, mas apresentou-se ao lado de um grupo da guarda republicana tocando seus dos principais sucessos: "Pookie" e "Djadja" —canções pop com levada afrobeats, algo que destoava da caixaria militar. A popstar foi seguida pela mezzo-soprano Axelle Saint-Cirel, cantora também negra de Guadalupe que entoou o hino francês, "La Marseillaise".

Show da artista Aya Nakamura durante a abertura das Olimpíadas de Paris-2024

Ponto também alto da seção de música de câmara foi o medley do pianista Alexandre Kantorow, um dos maiores nomes no seu instrumento. A chuva sobre a cauda do piano deixou a performance de compositores franceses, como Satie, Ravel e Debussy, ainda mais cinematográfica.

A música eletrônica também teve seu espaço, embora não como protagonista. DJs e produtores franceses de sucesso não subiram ao palco, mas suas músicas foram trilha sonora de boa parte do desfile das nações: Cassius, Stardust, Justice foram alguns dos artistas ouvidos nas beiras do Sena.

A exceção nos toca-discos ficou por conta de Barbara Butch, DJ que comandou a pista de dança francesa celebrada como espaço de diversidade. Drag queens, pessoas com deficiência, vogue, ballroom, manifestações e corpos díspares tiveram um espaço de destaque capaz de arrepiar o cabelo dos mais carolas.

O desfile das nações e os desfiles de moda, em vídeo ou sobre o Sena, também abraçaram a música moderna e popular francesa. O catálogo de sucessos radiofônicos tinha nomes como Claude François, Johnny Halliday e Compagnie Créole, na versão "Kassav" —um aceno à música do Caribe francês que poderia ser mais expressivo.

Quem poderia ter tido mais expressão também foi o rap. Aquém da potência do hip hop do país, a apresentação do Rim'K, nome importante do rap francês da segunda geração, foi inócua. O rapper podia ter tocado "Tonton du Bled", sucesso do fim dos anos 1990 com levada de raï, gênero que ganhou a França junto com a diáspora norte-africana naquela década.

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