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O dia em que George Clooney e eu viramos manchete no Festival de Veneza

Resposta do ator a uma pergunta minha na estreia do filme 'Lobos', que ele protagoniza, ganhou destaque na imprensa

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Veneza (Itália)

"Nunca falei sobre esse assunto antes, vou falar uma única vez", disse George Clooney, sério, me olhando nos olhos. George Clooney. Sério. Me olhando nos olhos.

A sala de entrevistas coletivas do Festival de Cinema de Veneza estava lotada, tinha gente de pé e parecia ter mais fotógrafos do que em todas as outras de que participei desde que cheguei aqui. Ouvi dizer que tinha gente acampada na porta do cinema onde a première do filme acontece, esta noite, depois da estreia de "Ainda Estou Aqui", o filme de Walter Salles que está na competição oficial.

Ator George Clooney no Festival de Veneza - AFP

"Lobos" é uma comédia produzida pela Plan B, de Brad Pitt, e que une os dois amigos pela primeira vez desde "Queime Depois de Ler", outra comédia –incrível, aliás– de 2008, dirigida pelos irmãos Coen, e que tem estreia prevista para o dia 27 de setembro no Brasil, no Apple TV.

Mas minha pergunta era mesmo séria, e não tinha nada a ver com o filme. Eu queria saber qual impacto ele acreditava que tinha causado quando publicou um artigo de opinião no jornal New York Times, no último dia 10 de julho, em que pedia que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistisse da candidatura à reeleição, o que realmente acabou acontecendo pouco depois.

Estava nervosa quando peguei o microfone, mas fiz como tinha visto os colegas fazerem antes de mim: me apresentei e disse ter uma pergunta para ele, George. Imediatamente fui acometida por uma dúvida excruciante, que me deixou paralisada por alguns segundos. Não lembrava se os outros jornalistas se referiam a eles pelo nome ou pelo sobrenome.

Enquanto eu quase congelava por dentro, arrependida por não ter chamado ele de mr. Clooney, esqueci a formulação em inglês da frase que tinha ensaiado em silêncio tantas vezes antes. Então dei uma embromada até me lembrar, dizendo estarmos em uma sala cheia de jornalistas, e que imaginava que essa dúvida estivesse na cabeça de todo mundo. E que ele, que é filho de um jornalista, não devia ter a ilusão de sair de uma entrevista coletiva sem falar desse assunto.

Talvez percebendo minha aflição, mr. Clooney fez uma piada para quebrar o gelo. "Já sei, você quer saber se eu sou mais bonitão ao vivo do que nas telas". Mas focou em mim, sorrindo, gentil, como se quisesse me dar uma ajuda para fazer a pergunta que ele já devia até saber qual era. Então eu fiz.

"Brava! Brava!", gritou uma jornalista italiana sentada umas duas fileiras à minha frente. Alguns jornalistas aplaudiram minha ousadia. Não sabia que fazer pergunta em entrevista era uma ousadia, mas, enfim, agradeci.

George, então, ficou sério e disse a frase replicada mundo afora: "A pessoa que deve ser aplaudida é o presidente, que fez a coisa mais altruísta que um presidente americano fez desde George Washington". E acrescentou: "A única coisa que vai ser lembrada pela história é esse gesto. Veja, é muito difícil abrir mão do poder —sabemos disso, vimos isso em todo o mundo— e para alguém dizer que acha que há um caminho melhor a seguir, todo o crédito vai para ele. E essa é realmente a verdade... Estou muito orgulhoso de onde estamos no estado do mundo agora."

Thank you, George. Ou será mr. Clooney?

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