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Guedes culpa 'petistas infiltrados' por plano de salário mínimo sem correção pela inflação passada

Proposta, revelada pela Folha, abriu crise interna no Ministério da Economia

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São Paulo

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em um evento virtual com representantes de cooperativas nesta terça-feira (25) que o plano de retirar a correção do salário mínimo e aposentadoria pela inflação passada, revelado pela Folha, vem de militantes petistas infiltrados no ministério.

No evento com a OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), o ministro se referia à reportagem que mostrou que a pasta trabalha em um ambicioso plano reformular o teto de gastos e "quebrar o piso", ou seja, frear o crescimento de despesas que hoje pressionam o Orçamento —entre elas os benefícios previdenciários ou atrelados ao salário mínimo.

O ministro da Economia, Paulo Guedes - Gabriela Biló - 6.out.22/Folhapress

O ministro atribuiu a notícia a petistas que estariam infiltrados no ministério e que estariam divulgando estudos antigos ou que não passaram por ele para a imprensa, com o objetivo de desgastar a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição.

"Alguém, possivelmente um petista de dentro —e entre 160 mil pessoas, deve ter muito petista dentro do ministério—, pega um trabalho que não tem o nosso aval e nem o nosso apoio. Jamais decidimos qualquer coisa nessa direção. Fazem um trabalhinho interno, eles mesmos assinam e passam para os jornalistas", disse.

Sem apresentar nomes, Guedes seguiu atribuindo o vazamento dos estudos a um boicote interno.

"Toda Arca de Noé tem um pica-pau tentando furar o chão para afundar o barco. Aqui no ministério também tem sempre um petista com uma picareta na mão, vazando estudo que já foi abandonado. O picareta não desiste nunca, eles tentaram isso durante a pandemia, não respeitam nem a doença", afirmou.

Conforme a Folha revelou, a divulgação do plano abriu uma crise no Ministério da Economia. Segundo relatos, Guedes iniciou uma operação interna para tentar descobrir quem havia sido o responsável pelo vazamento.

Em seguida, o ministro disse que os trabalhadores, os aposentados e os pensionistas receberam aumentos de salário mínimo, pensões e aposentadorias, mesmo durante a pandemia. "Protegemos idosos e trabalhadores que recebem o salário mínimo, corrigimos salários, aposentadorias, benefícios e pensões."

No entanto, a última vez que o piso nacional foi reajustado acima da inflação —ou seja, com ganho real— foi no início de 2019.

Guedes ainda culpou a imprensa pela divulgação dos estudos, chamando os jornalistas de "militantes".

"Já roubaram muita coisa, agora estão querendo roubar a tranquilidade da população brasileira. Sai uma mentira, uma fake news, por dia. Conforme nos aproximamos da eleição, o desespero aumenta do outro lado e começam a mentir. Eu sou obrigado a dizer isso, tenho de desmentir as mentiras deslavadas que estão sendo contadas todo dia", disse o ministro.

Guedes, porém, admitiu em evento na semana passada a possibilidade de discutir medidas de descarimbar e desindexar o Orçamento. Ele disse que não mudaria a regra de correção "durante o jogo", mas deixou a porta aberta para debater alterações no arcabouço fiscal brasileiro, incluindo a desindexação do salário mínimo.

"Se estiver tendo conversa de desindexação, é muito mais pensando se a inflação realmente aterrissar e a gente quiser dar um aumento real", disse durante entrevista a jornalistas nesta quinta-feira (20) no Rio de Janeiro.

Como mostrou a Folha, o tema chegou a ser discutido em reuniões internas entre o ministro e as áreas técnicas da pasta.

Nesta terça, o ministro também rebateu reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, segundo a qual a Economia estuda retirar do Imposto de Renda a dedução de gastos com saúde e educação. O documento teria sido elaborado pela equipe econômica após o primeiro turno.

"Vamos acreditar em meia dúzia de mentirosos que querem roubar a esperança do brasileiro? Vamos seguir em frente, crescer dez anos seguidos 3%, 3,5%, 4%. Vão vir investimentos de fora, criação de um mercado de consumo de massa, com emprego e renda para todo mundo", disse.

O ministro aproveitou, ainda, para criticar o Bolsa Família, programa petista, e compará-lo com seu substituto, o Auxílio Brasil. O programa do governo Bolsonaro teve seu benefício elevado para R$ 600 às vésperas das eleições.

"Não são aqueles programas de esmola que eram dados antes, são três ou quatro vezes o que era dado antes, é uma transferência de renda básica, um programa liberal."

Em entrevista a uma emissora de rádio de Barreiras (BA), Bolsonaro também negou nesta terça a intenção de mudar as regras referentes à correção do salário mínimo.

"A grande mídia bate muito na gente, pegam mentiras da própria equipe de campanha do Lula e reverberam aqui fora, dizendo absurdos como que nós iríamos diminuir o valor do salário mínimo. Muito pelo contrário: nós vamos dar no ano que vem reajuste acima da inflação para o salário mínimo, para os aposentados e para os servidores também", afirmou.

O presidente ainda rechaçou mudanças na dedução de gastos com saúde e educação do IR. "Não é verdade. Não tem nenhuma proposta nesse sentido. E o Parlamento também não aprovaria uma proposta nesse sentido. Nós vamos manter o abatimento do Imposto de Renda para saúde e educação", afirmou.

Bolsonaro, porém, também havia citado a discussão da desindexação na quinta-feira (20). "O Paulo Guedes fala muito em desindexação da economia. E daí no bolo, o que ele quer desindexar? O percentual fica indefinido. E, no momento, você tem a garantia de no mínimo [...] no mínimo vai ter um aumento real, mais do que a inflação", afirmou durante participação no podcast Inteligência Ltda.

Além das declarações públicas, o Ministério da Economia divulgou nota oficial tratando as informações veiculadas pela imprensa como "inverídicas" e negando a existência de uma proposta com esses temas a ser apresentada após as eleições.

"Supostos estudos, análises, ensaios, opiniões e outros tipos de trabalho eventualmente produzidos pelas áreas técnicas não podem ser incorretamente confundidos com propostas do Ministério ou do ministro sem que tenham sido chancelados por ele", disse a pasta.

A Economia disse ainda que "não reconhece fluxos clandestinos de informação" e que as informações oficiais são apenas aquelas divulgadas por seus canais institucionais. " A instituição lamenta que haja alguns veículos de informação tentando trazer confusão e intranquilidade à sociedade brasileira de maneira indevida."

Colaboraram Idiana Tomazelli e Renato Machado

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