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Descrição de chapéu Banco Central

Brasil vai 'virar Suíça'? O que diz economista 'pop' sobre cenário do país

Conhecido como 'careca do Goldman', Robin Brooks diz que está 'cautelosamente otimista' com novo governo

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BBC News Brasil

Quando questionado sobre por que anda dizendo que "o Brasil está a caminho de se tornar a Suíça da América Latina", Robin Brooks, economista-chefe do IIF (Instituto de Finanças Internacionais), dá risada.

"Não sabia que foi esse comentário que levou a essa entrevista. Obrigado por avisar", diz o economista alemão de 52 anos, criado em Frankfurt e atualmente radicado em Washington.

Na capital americana, o especialista em câmbio e mercados emergentes comanda a análise econômica da associação internacional de instituições financeiras, que tem entre seus membros bancos, seguradoras, gestoras de recursos e fundos de investimento.

Antes, passou pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pelo Goldman Sachs —posição que lhe rendeu nas redes sociais o apelido de "careca do Goldman", mesmo tendo deixado o banco de investimentos em 2017.

'Algo muito positivo está acontecendo no Brasil e pessimistas não estão prestando atenção', diz Robin Brooks, economista-chefe do IIF - Getty Images

Dias depois da conversa, Brooks voltou a repetir o comentário no Twitter, deixando evidente que gosta da atenção que recebe de seus seguidores brasileiros.

Postagens de Robin Brooks no Twitter, em que o economista fala que o Brasil está a caminho de se tornar 'a Suíça da América Latina' - Reprodução

Nos últimos anos, diversas das postagens do analista financeiro viralizaram no Brasil, devido a um otimismo inabalável com a economia do país —que faz com que seus comentários repercutam entre lulistas e bolsonaristas, com ambos os lados reclamando o crédito pelo cenário positivo destacado pelo economista em gráficos coloridos.

"A razão pela qual escrevi aquele tuíte é porque me parece que há uma negatividade com relação ao Brasil nos mercados internacionais e essa negatividade ignora o fato de que há grandes mudanças positivas acontecendo no país", diz Brooks, em entrevista à BBC News Brasil.

"Na verdade, o Brasil é uma espécie de modelo para outros mercados emergentes, em termos de como o país se transformou em uma superpotência agrícola. Eu acredito que isso não está sendo reconhecido e que se trata de um cenário muito positivo", completa.

Mas ele joga um banho de água fria em lulistas e bolsonaristas, que reivindicam para seu campo político o crédito por esse fenômeno.

"Quando eu tuito esse tipo de coisa, os dois campos políticos do Brasil reivindicam o crédito. Mas eu vejo essa transformação como algo que transcende os dois candidatos —é uma história muito maior do que isso", afirma.

'Suíça da América Latina'?

Segundo Brooks, seu entusiasmo com o Brasil tem um motivo principal: nos últimos dez ou quinze anos, o país passou a contar com um imenso superávit comercial —quando a balança comercial do país é positiva, com o valor das exportações superando o das importações.

Em 2023, por exemplo, graças à safra agrícola recorde, a balança comercial brasileira acumula superávit de US$ 35,3 bilhões nos cinco primeiros meses do ano, resultado mais alto da série histórica e 39% acima de igual período de 2022, pelo critério da média diária.

"Isso coloca o Brasil no caminho para se tornar um país com superávit em conta corrente [soma da balança comercial, de serviços e transferências unilaterais], o que é muito incomum, tanto na história do Brasil como na dos países emergentes e da América Latina", afirma o analista.

Mesmo com saldo positivo nas vendas externas, o Brasil historicamente registra déficit em transações correntes, principalmente devido ao gasto externo com serviços e às remessas de lucros de empresas estrangeiras que atuam no país.

É esse cenário que Brooks acredita que pode mudar, o que seria algo bastante atípico para um país emergente.

E foi por isso, o economista afirma, que ele comparou o Brasil com a Suíça —um país estável, com um grande superávit em conta corrente, moeda forte e Banco Central confiável.

"Com essa transformação, o Brasil será capaz de gerar mais recursos internamente, o que permitirá um aumento nos investimentos", acredita o economista.

"Isso pode se transformar em maior produtividade, mais riqueza, crescimento, emprego. Então, é um ciclo positivo e virtuoso."

Pouco depois de repetir seu comentário sobre o Brasil virar Suíça, no entanto, Brooks cometeu um lapso no Twitter, chamando a moeda brasileira de "Brazilian peso" (peso brasileiro), em vez de real.

O erro virou motivo de piada, com críticos destacando a aparente pouca familiaridade do economista com o Brasil, apesar de seu entusiasmo pelo país nas redes sociais.

Dólar a R$ 4,50?

Outra previsão famosa de Brooks é a de que o preço justo para o dólar em relação ao real é de R$ 4,50.

A estimativa também é alvo de críticas, porque o economista mantém o valor inalterado há anos, mesmo diante das mais diversas reviravoltas na economia nacional e global.

Com o dólar sendo negociado agora em torno de R$ 4,80, no entanto, o analista acredita que sua projeção está mais próxima de se tornar realidade.

'O Brasil não tem um ambiente tão favorável desde o pós-crise de 2008. Nesse cenário, o dólar a R$ 4,50, ou abaixo disso, é perfeitamente possível', diz Brooks - Reuters

No plano geopolítico, a persistente tensão entre China e EUA e a guerra entre Rússia e Ucrânia são fatores vantajosos para o Brasil, acredita o economista-chefe do IIF, podendo contribuir para atrair recursos estrangeiros ao país, o que ajudaria a valorizar a moeda brasileira.

"Muitos investiram na Rússia e na Ucrânia e perderam muito dinheiro. Eles não querem ser pegos numa situação similar em meio à rivalidade entre China e EUA", diz Brooks.

"Isso significa que investidores estrangeiros estão olhando para o Brasil, de uma forma que não fizeram na última década ou mais que isso. Significa que o país pode atrair dinheiro mais barato do que no passado —de investidores de longo prazo e fundos soberanos que têm muitos recursos e estão interessados em investir em infraestrutura e na compra de participações em empresas."

Outro vento favorável, segundo o economista, é o aparente fim do choque inflacionário nos Estados Unidos e a recente decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de interromper por ora o ciclo de alta de juros na economia americana.

Quando os juros sobem nos EUA, isso atrai recursos dos investidores para aquele país, prejudicando a liquidez de emergentes como o Brasil. Quando os juros param de subir por lá, é esperado efeito contrário.

"O Brasil não tem um ambiente tão favorável desde o pós-crise financeira de 2008", diz Brooks. "Nesse cenário, o dólar ir a R$ 4,50, ou abaixo disso, é perfeitamente possível", defende.

A maioria dos economistas, no entanto, prevê que o dólar deve voltar a operar ligeiramente acima de R$ 5 nos próximos anos, conforme o boletim Focus do Banco Central, que reúne projeções de economistas do mercado financeiro.

Banco Central, governo Lula e 'otimismo cauteloso'

Na briga entre Banco Central e governo Lula sobre o nível dos juros no Brasil, Brooks diz não ter lado, mas tece diversos elogios à atuação da autoridade monetária no combate à inflação no país.

"O Banco Central [do Brasil] fez um trabalho fenomenal", afirma. "Nas economias avançadas, a crítica é que os bancos centrais foram muito lentos para subir juros e responder à inflação. Definitivamente, esse não é o caso do Brasil. Acredito que o Banco Central, seu presidente e a equipe dele merecem um grande crédito por isso. E que isso é muito positivo para o Brasil."

Quanto aos seis primeiros meses de governo do PT e à atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o economista é mais comedido.

"Acho que o governo ainda é muito novo e que os mercados estão começando a aprender como o governo fala", diz. "A confiança no governo está crescendo, por isso sou cautelosamente otimista."

Otimista sob Bolsonaro e agora otimista sob Lula, Brooks afirma não ver nada que possa abalar sua visão positiva sobre o Brasil num futuro próximo.

"Muitas pessoas não gostaram do resultado da eleição. O que me interessa é a democracia e uma transferência pacífica de poder. É isso que realmente diferencia o Brasil dos governos autocráticos, que agora têm dificuldade em atrair capital", afirma.

"Se fosse o caso de a balança comercial [brasileira] se deteriorar repentinamente e voltarmos para onde o Brasil estava dez, 15 anos atrás, isso seria algo que me deixaria mais pessimista. Mas isso é altamente improvável. Na verdade, é basicamente impossível na conjuntura atual."

Este texto foi publicado originalmente aqui.

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